Pérola Sábado, 11 de Fevereiro, 22:45

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Acho que estamos conseguindo distrair bem a Marina

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Acho que estamos conseguindo distrair bem a Marina. Ela já está até gargalhando com o episódio mais chato da série, aquele em que Ross está aflito porque ninguém está vestido e pronto para irem ao evento no museu onde ele trabalha. Ah, tá bom, até esse episódio é engraçado, mas ela está melhorzinha mesmo, não falou nenhuma vez no carinha da banda ou até mesmo em sua irmã.

Bárbara miraculosamente ligou seu desconfiômetro e não ficou suspirando e narrando em detalhes, como sempre faz, sobre a ficada com Samuel. Marina não aguentaria. Não hoje.

Mas quem sabe talvez ela não tenha se apaixonado de verdade né? Talvez ela nem saiba o que é paixão, afinal, diferente da Bábara que é expert no assunto, isso nunca aconteceu com nenhuma de nós duas antes. Como ela poderia saber a diferença? Deve ser só um crush passageiro. Amanhã ela vai acordar e nem vai se lembrar desta noite.

Um crush. Acho que essa teoria também pode se aplicar à mim. Deve ser só isso que tenho sentido pelo Gustavo desde o dia que ele me salvou daquele assalto. Sim, porque eu não seria burra de me apaixonar de verdade por aquele galinha, né? Fala sério!

Acho que nós estamos sendo vítimas do delírio da novidade. Bárbara, Marina e eu estamos um tanto suscetíveis com tantas mudanças nesta nova fase das nossas vidas. Quinze anos! Nesta idade o mundo parece ganhar novas cores, novos sabores. Nós estamos começando num colégio novo, conhecendo gente nova, adquirindo mais liberdade e ao mesmo tempo mais responsabilidades, é de se esperar um pouco de deslumbramento, de encantamento com o novo. Acho que faz parte.

- Pérola, sua bolsa está vibrando sem parar, alguém deve estar tentando falar com você. – Bárbara me traz de volta do meu devaneio e estende a bolsa que estava pendurada no puxador da porta do meu armário.

Abro-a e começo a vasculhar em busca do meu aparelho. Uma mensagem entra e a luz do visor acende permitindo que eu finalmente o encontre no meio dos cacarecos que carrego.

Coloco minha digital e descubro que tenho duas ligações perdidas e seis mensagens no whatsapp, uma da Drica e todas as outras de um mesmo número que não reconheço. Abro o aplicativo de mensagens e sinto como se tivesse saltado da plataforma mais alta da piscina do clube, meu coração dispara. A foto correspondente ao número desconhecido é de ninguém mais ninguém menos que Gustavo Campanaro.

Amplio a foto para ter certeza de que não me enganei.

Não, nada de engano, é ele mesmo. Ele aparece na foto no meio de uma luta, com um kimono preto aberto no peito e amarrado com uma faixa marrom.

- Jesus me abana! – exclama Bárbara olhando por cima do meu ombro – Por que você tem uma foto do Gustavo do 3º ano lutando karatê no seu celular?

- Eu não tenho nada, tá? E é Jiu Jitsu. Essa é a foto singela desse exibido no whatsapp. – digo na defensiva.

- Por mim ele pode se exibir à vontade, isso é um colírio para os olhos. Mas dona Pérola isso não explica por quê você tem o contato dele no seu whatsapp. Você está interessada nele? Pediu o telefone dele para alguém?

- Tá me estranhando Babi? Me confundindo com alguma "Maria Ring Girl"? Você acha mesmo que eu ia dar mole pra um galinha, "passa o rodo" daqueles?

- Querida, eu não te julgaria por isso. Se não fosse pelo príncipe do Samuel ter entrado na minha vida antes mesmo das aulas começarem, assim que eu pusesse meus olhos nos olhos caramelos dele, naquele cabelo ondulado, naquele corpo dourado, especialmente depois do que eu vi hoje de manhã na praia, amor, deixa eu te falar uma coisa, esse peixão estaria no meu radar com certeza.

- Ele é lindo mesmo – Marina concorda – e por falar em praia, Pérola, eu não pude deixar de observar que, apesar de estarmos em seis meninas estiradas de biquíni, se bronzeando naquela areia escaldante, ele só teve olhos pra você.

- Epa! É verdade! - Babi estala os dedos e aponta pra mim como se tivesse descoberto algum mistério - Na hora eu percebi a troca de olhares de vocês, mas não dei muita bola, achei que poderia ser bobagem minha. Imagina: um veterano e uma caloura! Mas agora, juntando com essa história de você ter o contato do celular dele, sem esquecer aquela vibração estranha na aula de educação física no primeiro dia de aula, querida, aí tem. Desembucha. O que você tem com o Gustavo "deus grego" Campanaro?

-Eu? Nada, imagina. O que eu poderia ter com um veterano? – não tenho nem tempo de tentar disfarçar e Bárbara arranca o celular da minha mão e começa a ler as mensagens que ele mandou pra mim em voz alta.

- 19:20h - "Oi Pérola, está aqui na festa de Boas Vindas? Estou na frente do palco, preciso falar com você", 19:26h - "Já chegou Pérola?". Você marcou um encontro com ele?

- Claro que não Babi, pirou? – tento pegar meu celular de volta, mas ela desvia e sobe em cima da cama para me evitar.

- 19:32h - "Preciso muito falar com você, gatinha", Gatinha?! Meus Deus, ele te chamou de gatinha! 19:39h "Não estou conseguindo te encontrar, você ainda não chegou? Preciso te ver, você não sai da minha cabeça desde aquele dia do assalto na lanchonete.". Pára tudo! Como assim desde o dia do assalto? Pérola Lins, ele é o tal cara fortão que você disse que te salvou do assalto perto da academia?

- É. É ele mesmo – Digo tentando soar indiferente.

- cho-cada! – Marina diz me olhando como se essa fosse a notícia bomba do dia – O carinha te salva de um assalto e começa a te stalkear? Não era para ser ao contrário? Tipo, a síndrome da Louis Lane?

- Vou ter que te plagiar Marina: "Ah, não pira!" – digo já com um pouco de mau humor.

- Cara, a Marina tem toda razão, olha aqui a última mensagem que ele mandou: 19:48h "Vou pegar uma bebida na cantina e te encontro na arquibancada, pode ser?".

- Ele estava te azarando e você nem atendeu as ligações ou respondeu às mensagens dele. Tadinho! Sei bem o que ele está sentindo.

- Tá vendo o que você fez Bárbara? Inventou essa maluquice entre mim e o Gustavo e fez a Marina se lembrar da Patrícia e do vocalista da banda. Parabéns! – saio do quarto e bato a porta sem conseguir conter minha raiva.

Entro no meu banheiro e decido tomar um banho para tentar me acalmar. Tiro meu anel do humor e, não é surpresa pra mim, ele está vermelho. Entro no chuveiro e deixo a água quente molhar meus cabelos e começo a relaxar. Um flash do olhar de Gustavo na arquibancada da quadra, enquanto eu dançava com Samuel, vem à minha mente. Será que o que elas disseram faz algum sentido? Será que o Gustavo está mesmo interessado em mim?

De fato, ele passou a semana toda me cercando, mas esse tempo todo eu pensei que eu era só mais uma das dezenas de meninas na vida dele. Mais uma para a sua vasta coleção.

Mas aquele olhar... aquele olhar... Eu acho que senti uma vibe diferente vindo dele.

Será que eu estou doida? Será que estou inventando isso, ou caindo na pilha das meninas? Será que eu quero que ele esteja interessado em mim e estou projetando esse sentimento?

- Só o tempo vai me responder isso. – digo para meu reflexo no espelho, embaçado de vapor, acima da pia do banheiro.

O DELÍRIO DA NOVIDADEOnde histórias criam vida. Descubra agora