Bárbara Sábado, 4 de Março, 9:49

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Pé ante pé, vou sorrateiramente até a porta da cozinha e só coloco minha cabeça pra dentro

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Pé ante pé, vou sorrateiramente até a porta da cozinha e só coloco minha cabeça pra dentro. Olho ao redor do cômodo e não vejo ninguém. Yes! Corro até a geladeira e lá está ele, na segunda prateleira, atrás da travessa de salada, o último pedaço do pudim de leite que meu pai fez ontem. Todinho meu!

Pego uma colher na gaveta do armário abaixo da pia e ali mesmo começo a devorar a iguaria.

- Bárbara! – minha mãe entra na cozinha sem que eu perceba e me pega no flagra – Assim você não almoça filha!

- Ai mãe! Que susto! – coloco a mão no coração e respiro fundo – Eu sei, mas é que estou chateada e sabe como é né? Só o açúcar para consolar nestas horas.

- Que bobagem filha. Açúcar vicia e faz muito mal sabia? – olho pra cima e dou de ombros – O que é que te aconteceu? O que está te chateando?

- Na verdade é o que não aconteceu. Ah mãe, é o Samuel. – chorosa, sento na mesa ao lado dela – Ele não me ligou ontem depois do colégio e nem hoje. Não fizemos plano algum para este final de semana. Poxa, eu não queria passar o sábado de pijama em um relacionamento sério com o Netflix.

- Ué, ligue pra ele. Convide ele para algum programinha bacana.

- Tá maluca mãe? É ele quem deve me ligar.

- Nossa como você é machista Bárbara! Já queimaram o sutiã há duas gerações atrás, tá legal? Não podemos permitir retrocessos! – ela brinca.

- Não é uma questão de machismo tá? É questão de não se mostrar exatamente disponível e desesperada.

- Pois na minha opinião, isso é perda de tempo. Vocês jovens gastam muito tempo com joguinhos, fingimentos, tentando impressionar ou não se mostrar demais uns para os outros. Aff! Que preguiça! Vamos direto ao ponto! Dizer eu quero, eu te amo, etc. A vida é muito curta minha filha, talvez você não se dê conta disso agora, que ainda é novinha, mas daqui alguns anos vai ter noção disso que estou te falando. Vá por mim, ligue pra ele, chame-o para pegar um cineminha, fazer um lanche no shopping, ou mesmo vir aqui pra casa papear. Eu faço pipoca pra vocês.

- Own! Você é muito fofa mãe! – dou um abraço apertado na minha conselheira favorita – Será que devo fazer isso mesmo?

- Claro! Vá, ligue pra ele. – ela incentiva.

Levanto e caminho até a pia para buscar meu celular em cima da bancada. Neste instante ele começa a tocar. Olho para a tela e mal posso acreditar. Giro o tronco e olho para minha mãe com um sorriso imenso.

- É ele!

Começo a dançar pela cozinha no ritmo do toque do meu aparelho e ela ri de mim.

- Atende logo filha, se não cai na caixa postal.

Alarmada com essa possibilidade toco no botão verde do visor e atendo a ligação desajeitadamente, quase derrubando o aparelho no chão, mas tento controlar minha voz para a ansiedade não transparecer.

O DELÍRIO DA NOVIDADEOnde histórias criam vida. Descubra agora