Gustavo Segunda, 6 de Fevereiro, 7:15

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Bato a porta do carro e travo as portas com o chaveiro que apita dois bipes

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Bato a porta do carro e travo as portas com o chaveiro que apita dois bipes. Com passos largos e ansiosos, cruzo os portões da entrada e me dirijo diretamente para a quadra onde sei que Zé está dando aula. Em dois segundos o localizo de pé, em frente à arquibancada, munido de apito e prancheta na mão.

Corro até ele enquanto saco meu celular do bolso da calça jeans e abro o aplicativo do facebook.

- Aí vem o nosso campeão! – Zé diz assim que me aproximo, aperta minha mão e dá uns tapinhas nas minhas costas - Garoto que orgulho que nós estamos de você. Que luta limpa, justa, bonita mesmo de se ver.

- Zé, brigadão! A luta foi maneira mesmo. – digo sem graça – Mas vem cá, eu estava querendo levar um papo contigo.

- Que que é menino? Já vai começar a me dar trabalho no primeiro dia de aula? – ele diz em tom brincalhão – Aliás, você não deveria estar em sala de aula? O que é que você tem agora? Deixa eu ver, a turma do terceiro ano tem... ah sim, Literatura com a Ângela.

- Eu já estou indo pra lá, mas é que antes eu tenho um assunto urgente pra resolver e preciso da sua ajuda. – digo enquanto entro na página do perfil do próprio Zé no facebook e localizo a foto onde aparece a loirinha sem nome. – Aqui Zé, olhe esta foto, me diga pelo amor de Deus que você sabe quem é essa menina loirinha aqui cantando parabéns.

- Ué rapaz, essa aí é a Pérola. – ele diz com um ar desinteressado como se essa não fosse a informação mais importante do mundo.

- Pérola? – Que nome lindo! Combina com ela - De onde você a conhece?

- Ela é uma das melhores amigas da minha filha, por quê?

- Zé, você precisa me dar o telefone dela! – suplico segurando o braço dele com um pouco de força desnecessária.

- Calma rapaz, calma. O que é que foi? Ela está te devendo dinheiro ou coisa parecida? – ele diz brincando mais uma vez.

- Coisa parecida. – tento disfarçar.

- Sei, sei. – Zé me olha com uma cara desconfiada e debochada ao mesmo tempo.

- Então você vai me dar o telefone dela? – insisto

- Rapaz, eu não acho ético passar o contato de alguém assim, sem saber se essa é a vontade dela.

- Caramba Zé, poxa, mas eu preciso muito falar com ela. – o desespero é transparente em minha voz.

- Ué, pois então peça você mesmo o número a ela. – Zé diz com a maior tranquilidade.

- Como? – Levanto as mãos acima da cabeça, nervoso.

- Vá até ela. – balanço a cabeça sem entender o que ele quer dizer. Ele ri e aponta por cima do meu ombro - Olhe pra trás.

Obedeço, me viro e encontro a turma de calouros do primeiro ano se aquecendo para a aula de Educação Física. Vários alunos estão espalhados pela quadra, uns batendo bola, outros se alongando e outros simplesmente conversando. Olho de volta para Zé ainda sem entender o que ele quer dizer e, com um sorrisinho debochado, ele volta a apontar por cima do meu ombro. Desta vez fixo o olhar na direção exata para qual ele está apontando e mal posso acreditar no que vejo.

Lá está ela. A loirinha. Pérola, esse foi o nome que ele me disse, conversando com outras duas meninas, uma eu reconheço da foto, deve ser a filha do Zé.

Ela é ainda mais linda do que eu me lembrava. Cabelos compridos lisos, loiros, olhos verdes, magra, postura bem reta. E o sorriso, ah que sorriso. Não acredito que estive procurando por ela em tudo quanto é lugar e então a encontro no meu próprio colégio. É o destino, só pode ser.

Zé apita forte bem perto do meu ouvido e os alunos começam a se agrupar em volta dele. Pérola vem caminhando na nossa direção distraída, conversando com as amigas, rindo, mas quando ela me vê o sorriso some do seu rosto. Eu aceno com a cabeça, um sorriso discreto no meu rosto, o olhar fixo nela.

Pérola enrubesce e mexe no cabelo, parece desconfortável. Suas amigas notam e cochicham algo em seu ouvido e ela nega com a cabeça, mas sustenta meu olhar.

Decido que este não é o melhor momento para conversarmos. Prefiro esperar por algum momento em que esteja sozinha.

- Você não vai pra aula não, ô Gustavo? – Zé me cobra – O terceiro ano é o mais importante, rapaz. Vamos lá, pra sala, já.

Obedeço ao professor e diretor e deixo a quadra em direção às salas de aula.

O DELÍRIO DA NOVIDADEOnde histórias criam vida. Descubra agora