A série Delírio é uma leitura cativante que retrata com bom humor e leveza essa fase tão gostosa e cheia de emoções entre a adolescência e o início da vida adulta.
O primeiro livro da serie, O Delírio da Novidade, mostra as melhores amigas Pérola, M...
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Cavalera anuncia a última candidata pré-selecionada e sinto o desânimo me dominar. Mesmo a qualidade das outras dezenove ser ótima, nenhuma delas se encaixou com o perfil que idealizamos para combinar com a banda. A maioria delas faz a linha Pop music, no máximo um R&B contemporâneo ou um MPB. Nada que se aproxime o suficiente do Rock progressivo e romântico que tocamos.
Bárbara Dubois sobe ao palco e seu vídeo de inscrição inicia no telão. Lembro bem dela, visual meio careta em tons pastéis de patricinha Barbie girl, sem aparentar qualquer potencial de match conosco, mas quando começa a cantar, sua voz surpreende. O registro é grave, um pouco rouco, mas encorpado e tem extensão vocal com muitas nuances. Engraçado como sua aparência delicada e trejeitos meigos não combinam muito com a potência de sua voz.
O vídeo termina e me vejo ansioso para assistir sua performance ao vivo. Ela se posiciona no meio do palco e parece estar nervosa, sorrio pra ela tentando amenizar a pressão. Ela respira fundo e com um maneio de cabeça pede para soltarem sua música base, já que não toca nenhum instrumento.
Sua voz inicia em um fry provocante, simultaneamente aos primeiros brushes em semicolcheias da bateria de 'You Ought to Know'. A partir daí é um crescente envolvente, e poderoso. Um delírio. Essa, sem sombra de dúvidas, é a voz que procurávamos para harmonizar com a minha nos vocais da Memphis 191. Talvez possamos convencê-la a mudar um pouco o visual para se encaixar melhor no nosso perfil.
Observo que seu comportamento é um tanto contido no palco, precisa se soltar mais, ocupar mais o espaço. Definitivamente ela precisa trabalhar mais sua atuação para acompanhar o alcance que tem sua voz.
Então muitas coisas acontecem ao mesmo tempo. Do nada, ela para de dançar, coloca o microfone no chão e estende os braços para o telão. As luzes do palco se apagam e mesmo assim sua voz continua cantando.
Fico sem compreender o que está acontecendo até que o telão acende novamente e a imagem de outra menina aparece, cantando de forma visceral e muito mais condizente com a energia da música do que a primeira. Percebo que a voz na verdade é dela e Bárbara apenas a estava dublando.
Meu irmão, me arrepio dos pés à cabeça! Quando dou por mim, estou de pé caminhando para a beira do palco para tentar chegar mais perto dela. Os cabelos castanhos avermelhados, a boca vermelha, a referência grunge na camiseta preta com o rosto em preto e branco de Kurt Cobain, a calça jeans preta desfiada, a bota sem salto cheia de apetrechos metálicos e as munhequeiras de couro são a cereja do bolo. Além da voz, ela tem o visual. Per-feita!
Mal noto o protesto que a plateia atrás de mim começa a fazer até que uma confusão maior se inicia. Todos começam a se levantar e a falar ao mesmo tempo. Talvez ouvindo o barulho, a menina rockeira parece se assustar e para de cantar. Ela começa a andar e desaparece da imagem do telão que agora só mostra um corredor vazio da coxia.
Três das concorrentes que se apresentaram previamente e um dos pais que assistia à apresentação me abordam cobrando explicações sobre a suposta fraude no concurso. O bate-boca fica acalorado. Olho ao redor um tanto desnorteado e vejo que outras participantes e seus responsáveis também encurralam Dread, Roger, Cavalera e Bárbara.
