O calorzinho da pequena mão de Victoria entrelaçada contra a dele era mais um dos pequenos prazeres que José Ángel experimentava pela primeira vez e já sabia que se tornaria um adicto. Os dois caminhavam lado a lado pelos corredores de pedra da fazenda, trocando olhares furtivos que significavam tantas coisas e Arriaga queria lembrar de todas elas para dizer uma a uma, ao ouvido de Victoria, porque ela merecia saber o quanto era magnífica, desejada e sobretudo amada por ele.
Depois de algum tempo os dois finalmente chegaram até uma das várias portas de madeira maciça, na ala sul da fazenda. Victoria olhou para Arriaga e sorriu, girando a maçaneta.
Quando entraram, Arriaga reconheceu de imediato o ambiente. Era o mesmo quarto do sonho que compartilharam. A suíte de Victoria na juventude, com seu pé direito alto, janelas grandes em estilo francês, o terraço com vista para o rio, a lareira na parede central, de frente para a enorme cama de casal. As paredes amarelinhas contrastavam com os móveis de madeira maciça e o azul dos estofados. O cheiro de flores entrava em lufadas pelo terraço particular emoldurado por uma enorme bougainvillea que pendia em uma das colunas de pedra vulcânica. Arriaga estava abismado por reconhecer tantos detalhes de um lugar que ele jamais visitara antes.
Victoria trancou a porta com chave. Arriaga notou que ao lado de uma das poltronas estavam as malas de Victoria e, sobre a poltrona, um dos casacos dela. Victoria percebeu a direção do olhar dele.
"Porque não foi pro seu quarto?" ele perguntou, depois de instantes.
"Meu quarto?"
"O seu quarto... e..."
"O meu quarto e do Nelson?" Victoria completou o que ele parecia não ter coragem.
Arriaga a encarou sem saber o que dizer e ela sorriu levemente, se aproximando dele.
"Porque iria, se o meu quarto é esse?" ela disse sorrindo e deu mais um passo na direção de Arriaga, encostando completamente seu corpo ao dele.
Arriaga suspirou e fechou os olhos a envolvendo com os braços pela cintura e a apertando tão forte contra si que ergueu Victoria do chão. Victoria o abraçou pelos ombros e o puxou para um beijo lento e cheio de amor. Quando se separaram, Arriaga manteve os olhos fechados, desfrutando de todas as sensações que aquele beijo e estar tão próximo de Victoria lhe causavam. Ela olhou para ele e riu. Se aproximou novamente o enchendo de beijos pelo rosto e em seguida desceu seus lábios pela mandíbula dele até o pescoço. Victoria sentiu suas pernas amolecerem diante da perspectiva de perder-se perigosamente pelo pescoço de Arriaga. Ela aproximou os lábios e distribuiu pequenos beijos que o arrepiaram imediatamente e que logo se transformaram em mordidas e – porque não, Victoria? – lambidas, e ela sentiu que o ar no quarto mudou de densidade instantaneamente.
Victoria ouviu um gemido baixo e rouco vindo de Arriaga e sorriu para si mesma, roçando levemente o nariz no que viria a ser um de seus lugares preferidos no mundo – o pescoço de José Ángel Arriaga – sentindo o cheiro de cedro, eucalipto e chuva, que era o perfume desse homem estupendo, que estava entre os braços dela – deliciosamente entre os braços dela – que a amava e era tão real que Victoria sentia vontade de rir e chorar ao mesmo tempo.
Arriaga levou as duas mãos para segurar o rosto de Victoria e se afastou dela para olha-la nos olhos. A respiração ofegante de ambos, os olhares lânguidos e cheios de desejo.
"Victoria, você vai me..." ele tentou dizer, mas não conseguiu continuar e avançou novamente nos lábios dela, a devorando a beijos.
Victoria se segurou firmemente na camisa de Arriaga, o puxando para si. Parecia que nenhuma proximidade era suficiente e ela sentia seu corpo inteiro arder. Como era possível sentir uma coisa assim, depois de tanto tempo? Victoria nunca havia se sentido dessa maneira com apenas um beijo. Quando outros homens a beijavam – Nelson e até mesmo Carlos – ela nunca experimentara nada tão forte como quando José Ángel a beijava. Victoria se perguntou se ele sentia o mesmo que ela.
A resposta veio quando, num movimento rápido, ele a girou e a encostou contra a porta do quarto. Victoria levantou uma sobrancelha, o olhando fixamente nos olhos, sentindo o contato do desejo dele contra a sua barriga. Arriaga respirava com dificuldade e o hálito cálido dele tocando seus lábios começavam a deixa-la igualmente sem ar.
"Eu sei que..." ele começou a dizer com a voz entrecortada, tentando recuperar o fôlego "Na ultima vez que estivemos aqui, agi como um covarde."
Victoria sorriu, levando a mão aos cabelos dele, entrelaçando os dedos nos cachos castanhos que ela tanto adorava.
"José Ángel, ainda é difícil acreditar que compartilhamos um sonho tão incrível" ela disse e roçou levemente seu nariz no dele, o fazendo estremecer, "Mas independente do que aconteceu, nossa realidade pode ser ainda mais extraordinária."
Victoria sentiu seus pés deixarem o chão novamente quando Arriaga a tomou nos braços e não conseguiu conter a risada de felicidade que escapou de sua garganta. Ele a carregava decidido até a cama de casal no centro do quarto e Victoria envolveu seus braços no pescoço dele, o puxando para um beijo apaixonado.
Talvez por tê-lo distraído, ou pela intensidade dos lábios de Victoria, Arriaga perdeu o equilíbrio e ambos caíram desajeitadamente sobre a cama, aos risos, e Victoria sentiu uma fisgada no peito, uma vontade imensa de chorar de alegria, porque jamais – jamais – em toda a sua vida imaginaria que amar poderia ser assim, essa paixão avassaladora que vinha acompanhada de risos e diversão. Deitada ao lado de Arriaga na cama Victoria percebeu, pela primeira vez, que tinha se apaixonado por seu melhor amigo.
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Laberintos Cerrados
FanfictionFilho de um antropólogo e de uma índia nativa de Catemaco, Vera Cruz, José Ángel Arriaga sempre esteve familiarizado com os rituais xamânicos de sua terra natal. Em meio à sua culpa e remorso, ele decide voltar para sua cidade em busca de uma respo...