Uma Longa Noite

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Nikki, Guzmán e Adriana estavam na pequena e movimentada recepção do Hospital General de Catemaco quando Arriaga finalmente deixou o quarto de Victoria. Eles tinham sido informados pela enfermeira da situação da paciente e aguardavam a saída de Arriaga para mais novidades. Mas nada do que Arriaga contou serviu de consolo. Não haviam mudanças e as informações eram poucas. A enfermeira que conversara com a família tinha avisado que eles ainda esperavam pelos resultados dos exames de Victoria. Infelizmente, eles estavam em um hospital do interior, com pouquíssimos recursos e todos os processos eram muito demorados.

Embora sua vontade era esperar ao lado da família Balvanera por mais notícias, Arriaga sabia o que precisava fazer naquele momento. Depois de repetir incansavelmente todas as recomendações e fazer Nikki jurar que assim que Victoria acordasse - ou assim que qualquer resultado de exame saísse ele seria avisado imediatamente - Arriaga partiu.

José Ángel sempre foi uma pessoa obstinada, mas, acima de tudo, extremamente teimosa. Foi, sem dúvida, essa teimosia que o impediu de adormecer durante a viagem de retorno, percorrendo a mesma estrada que ligava Catemaco a Veracruz e, em seguida, enfrentando mais uma viagem curta, porém igualmente exaustiva, de avião. O que o manteve acordado foi tudo o que fervilhava em sua mente: as palavras que ele precisaria proferir para resolver uma situação delicada e de extrema importância. Essas palavras seriam cruciais para definir o destino de uma família inteira dali por diante.

Quando finalmente atravessou os portões da mansão Balvanera, 4 horas mais tarde, o celular de Arriaga tocou, trazendo novidades de Catemaco. Os Raios-X e a Tomografia demonstraram que Victoria não havia tido nenhuma lesão grave na coluna ou na cabeça, o que era um alívio - porém nada era conclusivo. O fato de ela não acordar ainda era algo que preocupava a todos e o Dr. Maldonado queria exames mais precisos, porém vários deles o hospital não dispunha. Além disso, os exames de sangue estavam atrasados, pois os laboratórios em Catemaco eram bastante precários. Nikki e Adriana, nesse ínterim, haviam contatado Aníbal e agora contavam com a possibilidade de mover Victoria para um hospital na capital.

Arriaga não sabia se isso o deixava mais tranquilo ou terrivelmente nervoso. Havia uma dúvida entre os médicos se mover Victoria nesse estado era uma boa idéia ou se poderia agravar uma situação da qual não se sabia nada a respeito. Se ela acordasse, tudo talvez fosse mais simples. Mas e se não? E se na realidade eles estivessem numa corrida contra o tempo sem nem mesmo saber? Arriaga de repente se perguntou se fora boa idéia deixá-la, porque talvez nunca mais a veria.

Não, Deus, não! Aquela não podia ter sido a última vez!

Arriaga sentiu seus joelhos cederem e caiu nas lajotas de pedra do jardim da mansão Balvanera, há poucos passos da casa. O rosto molhado em lágrimas, o corpo sacudindo-se em soluços. Ele não soube quanto tempo ficou ali naquela posição, em completo desespero, sentindo-se impotente diante da possibilidade de perder novamente a mulher que amava.

De repente, Arriaga sentiu que alguém falava com ele. Ouviu uma voz, mas não soube direito identificar e depois sentiu que pequenos braços o envolviam e tentavam levantá-lo do chão. Mas era inútil. A voz insistia e insistia e os bracinhos, tão firmes e enérgicos o puxavam com tanta vontade que ele cedeu. E quando ele abriu os olhos e fez força para enxergar foi o rosto preocupado de Liliana que ele viu, na madrugada fria da Cidade do México.

Minutos mais tarde ele se encontrava sentado na cozinha dos Balvanera com Tomasina, Polita, Salsero e Liliana ao redor dele. Um chá feito às pressas era colocado na frente dele por um muito aflito Jean-Marie, enquanto todos o olhavam, igualmente preocupados. Tomasina, no entanto, foi a primeira a perguntar.

"Fale, José Ángel, o que foi que aconteceu que o fez voltar, ainda mais nesse estado?! Não me diga que a Victoria..."

"Não, Tomasina. Não é isso que você está pensando." ele disse e sentiu que o ar imediatamente mudou de densidade na cozinha, quando todos respiraram aliviados.

Arriaga resumiu tudo o que acontecera naquele dia interminável desde que colocara os pés na mansão Balvanera naquela manhã, sem a menor ideia de que sua vida se tornaria uma montanha-russa de emoções. Nem parecia que somente um dia havia se passado, tamanha quantidade de sentimentos havia experimentado em tão pouco espaço de tempo. Embora muitas das informações Tomasina já soubesse por Adriana e já tivesse repassado para os empregados da mansão, os detalhes das experiências que José Ángel enfrentara naquele dia era algo novo para todos. Por algum motivo era reconfortante sentar e falar abertamente com seus amigos mais próximos, principalmente pela possibilidade de desabafar e assim compreender melhor o que havia se passado. E era bom receber de volta um olhar de compreensão e empatia no rosto de seus seres queridos.

"Então deve ter sido por isso que o Seu Aníbal saiu às pressas. Disse que ia tentar falar com uns amigos sobre algo para a senhora Victoria, mas não deu muitos detalhes." disse Salsero quando Arriaga terminou de explicar que estavam tentando trazer Victoria para a cidade do México.

Arriaga ficou em silêncio, preocupado ainda se era uma boa ideia, quando Tomasina o tirou de seus pensamentos.

"Mas isso não explica porque você está aqui, Arriaga. Você veio ajudar o Seu Aníbal?"

"Não, Tomasina, eu..." ele disse e finalmente olhou para Liliana, que estava sentada mais distante dele, e tinha se mantido silenciosa e de cabeça baixa desde o início da conversa.

Todos olhavam para Arriaga em silêncio, ansiosos.

"Eu preciso pedir que me dêem licença. Liliana, venha comigo."

"Eu, papai?" ela disse, levantando a cabeça, surpresa.

"Sim, Liliana." ele respondeu, muito sério "Salsero, você se importa de que eu use a ala dos guarda-costas por um momento?"

"Não, Arriaga, fique à vontade."

Arriaga se levantou e esperou que Liliana fizesse o mesmo. Por um momento ninguém se mexeu. Liliana piscou, como se acordasse de um transe e, entendendo o recado, levantou da cadeira, seguindo para a ala dos guarda-costas. Arriaga a seguiu.

Quando os dois sumiram pelo corredor, Tomasina mordeu o lábio.

"A noite vai ser longa. É melhor irmos dormir." ela disse, recolhendo a xícara de Arriaga.

"Ah, não! Agora que ia ficar bom!" disse Polita, suspirando.

"Polita, sem reclamar." Tomasina a advertiu.

"É sempre assim, sempre na melhor parte da fofoca!" reclamou Polita, desaparecendo pela porta que dava para os quartos dos empregados.

Todos se retiraram, exceto Salsero que aproximou-se do bule de café e serviu uma generosa xícara, voltando a sentar-se à mesa da cozinha.

Laberintos CerradosOnde histórias criam vida. Descubra agora