De você eu gosto

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Eles decidiram não comer na sala de jantar porque Victoria pensava que toda a formalidade da mesa, com a cabeceira destinada ao homem-dono-da-casa – que era geralmente onde Nelson sentava quando seu pai não estava na fazenda – poderia intimidar Arriaga. E de qualquer maneira, Victoria sempre odiara aquela mesa - que era herança de umas cinco gerações atrás - e toda a condição masculina de sentar à cabeceira, como se o homem estivesse pomposamente em seu trono e merecesse ser servido como um rei. Quando ela tivesse sua própria casa, sem Nelson ou seu pai para definirem como as coisas deveriam ser, gostaria que todas as mesas fossem redondas, assim todos se sentiriam como iguais.

No fim das contas Victoria pediu que Jovita os servisse na sala de estar íntimo, que ficava na ala oeste da fazenda. Um dos seus lugares preferidos naquela casa.

Quando os dois entraram na sala, Arriaga ficou impressionado com a beleza do ambiente. Nunca havia estado naquela parte da casa antes, que aparentemente não era muito utilizada pela família. O teto alto era sustentado pelas mesmas colunas de pedra vulcânica que adornavam o resto da casa e os móveis de madeira, os sofás e poltronas confortáveis davam a sala um tom convidativo e aconchegante.

Fortuno estava terminando de acender a lareira que se erguia no meio do aposento e se virou para recebe-los.

"Menina Victoria, arrumei tudo como você gosta." ele disse, sorridente.

"Obrigada, Fortuno." agradeceu Victoria, sorrindo de volta, sem soltar a mão de Arriaga que estava carinhosamente entrelaçada à dela.

"Arriaga, como vai? Jovita me contou que tinha chegado." ele disse, cumprimentando Arriaga.

"Pois... sim." disse Arriaga, sem saber direito o que responder e Victoria sentiu a mão dele tremer contra a sua.

"Bem, então vou deixa-los, se precisarem de algo é só chamar." disse Fortuno e se retirou.

Quando Fortuno saiu, Victoria começou a rir.

"Do que está rindo?"

"Do seu nervosismo, meu amor. Fico imaginando se o meu pai chegasse agora, o que você iria fazer."

"Victoria, pelo amor de Deus..."

Arriaga enlaçou Victoria pela cintura, a apertando contra si. Ela começou a brincar com a gola da camisa dele.

"Se você fica ansioso assim com o Fortuno..." ela disse, aproximando os lábios do pescoço dele e beijando sensualmente "Se o Aníbal Balvanera cruzasse essa porta agora, você acha que desmaiaria?"

"Victoria, eu vou desmaiar, mas vai ser por outro motivo..." Arriaga disse, respirando fundo.

"E porque?"

Arriaga a separou de si para olha-la nos olhos.

"Você ainda vai me matar, Victoria" ele disse, a abraçando e beijando apaixonadamente.

Os dois só se separaram um bom tempo depois quando ouviram o tilintar do carrinho de comida que Jovita vinha empurrando pelo corredor. Victoria limpou o batom do rosto de Arriaga com os dedos e arrumou o vestido. Ele tratou de passar as mãos pelo cabelo dela e depois pelo seu próprio. Quando Jovita entrou na sala, eles já estavam sentados no sofá como se nada tivesse acontecido.

"Ah, aí estão vocês! Aqui está o jantarzinho que preparei. Bem... na verdade o almoço, não é?" Jovita disse, rindo.

Victoria sentiu suas bochechas ficarem muito vermelhas e teve vontade de sair correndo. Arriaga olhou para ela com uma expressão mortificada.

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