Já tinham se passado dois ou três dias desde a partida de Victoria e Arriaga lia e relia a carta que ela havia deixado. Embora Arriaga tivesse insistido diversas vezes, Adriana não quis revelar onde Victoria estava e o celular dela permanecia desligado.
Arriaga compreendia o dilema interno que Victoria travava consigo mesma. Ele até tentou aceitar e dar o espaço que ela necessitava, mas não conseguia suportar a dor desse distanciamento forçado. Também não concordava com a solidão que ela mesmo se impunha. Não era justo que ela encarasse sozinha seus demônios. Arriaga queria encontra-la e explicar que ela não precisava mais estar sozinha na vida, nem enfrentar suas questões isolada de tudo e de todos. Agora era ela amada, adorada e estava protegida - e sempre poderia confiar nele. Arriaga sabia que os dois eram capazes de enfrentar juntos qualquer situação, fosse qual fosse. Mas sozinha, Victoria batalhava contra si mesma, contra suas crenças e suas dores.
Após duas semanas, Arriaga sentia que se partiria em dois diante da falta que Victoria lhe fazia. Ele pensava nela a cada minuto e não conseguia mais ficar indiferente à ausência dela. No limite do desespero, Arriaga decidiu que iria atrás de Victoria até o fim do mundo se fosse preciso, porque queria que ela soubesse que nada poderia ser mais importante do que o que eles sentiam.
Foi com essa ideia em mente que Arriaga foi até a Mansão Balvanera naquele início de tarde. Quando encontrou Tomasina na cozinha pediu que ela informasse Adriana que ele precisava falar com ela urgentemente. Por sorte, Adriana estava em casa e o recebeu no escritório.
Ao entrar, Arriaga percebeu que Adriana estava andando de um lado para o outro com o telefone nas mãos. Ela não podia esconder a preocupação.
"Senhorita Adriana, está tudo bem?" ele perguntou, preocupado.
"Arriaga..." ela disse e suspirou de alívio "Eu ia ligar pra você. Que bom que está aqui."
"O que foi? Aconteceu alguma coisa? A Liliana...?" perguntou inquieto, andando na direção dela.
"Não, a Liliana está bem" ela respondeu, e Arriaga soltou o ar que prendia nos pulmões. Adriana então continuou "O problema é a Victoria."
Arriaga pensou que teria que se sentar tamanho o impacto de ouvir aquelas palavras.
"O que houve? Onde ela está?" ele perguntou, sem saber direito como reagir.
"Ela não atende o telefone, desde ontem." Adriana disse, respirando fundo e parecendo mais aliviada de dividir aquela preocupação com outra pessoa.
"Você tem falado com ela?"
"Ela comprou um outro celular e me ligava sempre pra dizer como estava, mas..." Adriana respondeu aflita "Nos últimos dias ela não tem se sentido bem... e desde ontem a noite ela não atende mais."
"E pra onde ela foi? Onde está?" Arriaga perguntou com urgência na voz.
"Victoria está em Catemaco, José Ángel."
Arriaga fechou os olhos em desalento.
"E você tentou o hotel?"
"Não, não tenho ideia em que hotel ela se hospedou."
Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes.
"Você acha que ela pode ter sofrido outro atentado?" Adriana perguntou em voz baixa, como se assim pudesse evitar que aquilo se transformasse em realidade.
Arriaga sentiu que algo se quebrava em seu peito. Ele foi tomado por uma angústia que nunca sentira antes. Se algo tivesse acontecido com Victoria ele jamais se perdoaria.
"Eu vou atrás dela." Arriaga disse num ímpeto, se precipitando para a porta.
Adriana o segurou pelo braço.
"Arriaga, onde você vai procurar?"
"Eu vou bater de porta em porta se for preciso, senhorita Adriana. Mas eu tenho que encontrar a Victoria."
Quando Arriaga fez menção de sair de novo, Adriana o interrompeu.
"Espera." ela disse, e correu para a bolsa que estava sobre o sofá "Leve isso aqui." ela disse e entregou seu cartão de crédito para ele.
"Senhorita Adriana..."
"Vá até o Aeroporto e tome um avião. Veracruz é longe demais pra você fazer uma viagem de carro agora. Não sabemos se a Victoria está em perigo."
Arriaga observou o cartão de crédito sem dizer nada.
"Vamos, Arriaga. Não é hora para orgulho. É pela Victoria."
"Senhorita Adriana, a Victoria deve ter usado o cartão de crédito no hotel, certo?"
"Provavelmente. Porque?"
"Porque é possível descobrir o último lugar em que ela usou e assim rastrear o endereço. O Guzmán já me disse isso uma vez."
"Claro! Como eu não pensei nisso?!" ela disse, e correu para o telefone "Eu vou ligar para a operadora do cartão dela agora mesmo!"
Arriaga segurou a mão de Adriana por mais um momento e, enquanto saía do escritório, se virou pra ela.
"Eu vou pro aeroporto, senhorita. Se precisar de ajuda, ligue para o Guzmán. Eu tenho certeza de que ele saberá o que fazer. Assim que souberem o endereço, me avisem imediatamente."
Quando Arriaga chegou ao aeroporto, Guzmán já tinha avisado por telefone que a operadora do cartão de Victoria havia dado o prazo de algumas horas para averiguar as transações que ela efetuara nos últimos dias. Ele e Nikki decidiram ficar na mansão Balvanera com Adriana e ajudar no que fosse preciso.
Arriaga comprou a passagem no guichê da companhia aérea e nem teve tempo de ficar assustado com a perspectiva de embarcar num avião pela primeira vez na vida. Toda a sua energia estava focada na preocupação com Victoria. Adriana tinha dito que ela não se sentia bem e isso o angustiava imensamente. E porque ela não atendia mais o telefone? O coração de Arriaga dizia que algo não estava bem, que Victoria poderia ter sofrido outro atentado e isso o deixava cada vez mais desesperado.
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Laberintos Cerrados
FanfictionFilho de um antropólogo e de uma índia nativa de Catemaco, Vera Cruz, José Ángel Arriaga sempre esteve familiarizado com os rituais xamânicos de sua terra natal. Em meio à sua culpa e remorso, ele decide voltar para sua cidade em busca de uma respo...