Sem procurar te encontro

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      Victoria tinha sua mão entrelaçada na de José Ángel quando eles cruzaram a porta de madeira que dava para a suíte que ela ocupava na ala sul da fazenda Balvanera. Não era o mesmo quarto que ela viria a ocupar depois de casada, mas sim um mais simples na ala destinada aos solteiros e filhos jovens dos descendentes da linhagem Balvanera.

      O quarto, no entanto, não tinha nada de modesto, se comparado ao que José Ángel podia conhecer. Janelas grandes em estilo francês emolduravam as paredes e um terraço dava vista para o rio que margeava a propriedade. Na parede central, uma enorme lareira aquecia a suíte nas noites frias. O quarto de paredes amarelas era bem decorado, mas não de maneira exagerada, e tinha o bom gosto que Arriaga já reconhecia que vinham da personalidade de Victoria, como algumas pinturas, livros e plantas. O lugar inteiro tinha cheiro de flores e lembrava muito o que viria a ser o jardim de inverno de Victoria, mesclado ao ateliê da Mansão Balvanera, e Arriaga ficava feliz em saber que ela mantinha sua essência intacta, apesar de tudo.

      Victoria girou a chave trancando a porta e olhou para Arriaga respirando fundo. Arriaga não sabia direito o que fazer. Embora eles fossem adultos, eram jovens. Ou melhor - ela era jovem.

      Ou não? Era um pouco confuso para ele compreender a situação. Ou o que tudo isso podia significar. Estar no quarto dela, naquele momento. Desesperado para estar nos braços de Victoria o quanto fosse possível. Ele não sabia mais quanto tempo esse sonho iria durar. Seria permitido fazer o que os dois queriam fazer?

     "Victoria..." ele começou a falar, mas perdeu a coragem.

      Victoria se aproximou, segurando a mão dele. O puxou para que os dois sentassem no recamier aos pés da cama.

      "A gente não precisa fazer nada, se você não quiser" ela disse, muito baixo.

      Arriaga a abraçou, a beijando na testa.

      "Victoria..." ele começou a falar, fechando os olhos. "Você não tem ideia do que eu quero fazer com você! Esse que é o problema!"

      Victoria riu.

      "Mas será que isso é certo? Você é jovem demais. E eu sou um velho. Eu vim de outro tempo, que você ainda não viveu."

      "Mas eu lembro de tudo..."

      "Mas você só tem as lembranças, Victoria, você não viveu esses momentos. Eu sim. Como é que eu posso fazer amor com você..." Arriaga cobriu o rosto com as mãos, completamente frustrado. "Meu Deus, você tem a idade da Liliana!"

      "José Ángel, a vida depois que acontece são apenas lembranças. Memórias são tudo o que nos resta!" ela disse, levantando e andando pelo quarto. "Eu entendo que você sinta algum tipo culpa cristã e respeito isso. Até porque essa situação toda não faz o menor sentido. Mas quando você olha pra mim, você tem que me ver. Eu. Victoria. Se não, nada disso tem significado."

      Arriaga olhou para ela profundamente. Ele sentia que via Victoria Balvanera mas ao mesmo tempo, ele não podia enganar a si mesmo e dizer que não via uma mulher jovem. Uma senhorita, herdeira, com a vida por viver.
      Uma mocinha de cabelos loiros, vestida de anjinho em seu aniversário de 18 anos não podia ser a mesma Victoria Balvanera, diretora criativa da MetaImagem Internacional, uma mulher vivida, segura de si. Arriaga escondeu o rosto nas mãos e tentou refrear as lágrimas, em vão. Victoria percebeu que o corpo dele começou a sacudir-se em soluços e suspirou, frustrada.

      "Você não consegue, não é?" ela disse, mas não era uma pergunta.

        Victoria se ajoelhou em frente a ele, retirando as mãos que cobriam o rosto dele com delicadeza.

Laberintos CerradosOnde histórias criam vida. Descubra agora