Dr. Alejandro Maldonado

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As vezes o universo encontra formas completamente catastróficas de piorar uma situação. Era nisso que Arriaga estava pensando enquanto olhava para o médico que lhe sorria e desejou que tudo aquilo fosse um pesadelo do qual ele acordaria muito em breve. Então o homem lhe estendeu a mão, ainda sorrindo.

"José Ángel, você não mudou nada!"

Arriaga correu os olhos pelo jaleco do médico e percebeu, bordado no bolso direito, o nome "Dr. Alejandro Maldonado". Ele se levantou, apertando a mão do médico.

"Alejandro?"

A verdade é que era uma pergunta que não necessitava de resposta. O homem também continuava o mesmo, apenas com alguns fios brancos começando a aparecer nas têmporas, mas que eram camuflados pela vasta cabeleira loira. Alejandro Maldonado, uma parte da sua adolescência que ele preferia que tivesse ficado no passado.

Arriaga e Alejandro eram velhos conhecidos, porém nunca foram exatamente amigos. O pai de Alejandro – Agustín Maldonado – havia sido um antropólogo muito famoso no país e foi ele quem deu início aos estudos e expedições em Los Tuxlas, onde Ernesto Arriaga também trabalhara. Com a proximidade de seus pais e por terem a mesma idade, José Ángel e Alejandro acabaram convivendo muito durante a infância e juventude – não sem alguns percalços pelo caminho.

Por ser de uma família abastada, desde criança, Alejandro Maldonado agia como se o mundo pertencesse a ele. Fazia quase sempre o que queria, tinha tudo o que desejava e quando algo não saía como ele planejava, fazia da vida de todos um pequeno inferno. Ele era um garoto preconceituoso e maldoso e o pequeno José Ángel, por ser filho de uma índia nativa da região, era o alvo perfeito da intolerância de Alejandro.

Embora Ernesto tivesse ensinado José Ángel os princípios do Aikido desde muito jovem, por vezes Arriaga não conseguia se controlar. Alejandro o perseguia regularmente com insultos e não eram poucas as ocasiões em que os dois rolavam pelas ruas a socos e pontapés. Com o tempo, Arriaga aprendeu a não reagir as provocações e ignorar Alejandro onde estivesse. E quando haviam festas na mansão dos Maldonado e a família Arriaga era convidada, José Ángel evitava Alejandro, o que possibilitou que a guerra declarada entre os dois se tornasse um campo minado onde ambos andavam com muito cuidado. A última notícia que tivera do jovem Maldonado era de que havia ido para a capital para estudar medicina. Nessa mesma época Arriaga começara sua faculdade de Agronomia.

"Sou eu mesmo" ele riu, estufando o peito "Porém agora costumam me chamar de doutor."

Arriaga sentiu vontade de revirar os olhos, mas se conteve.

"Como está a Victoria?" ele perguntou, porque tudo o que não queria era perder tempo com conversas inúteis.

"Ah, sim. É a sua esposa, José Ángel?" ele perguntou e Arriaga viu algo brilhar nos olhos de Alejandro, algo que ele não compreendeu imediatamente "Me contaram que você tinha se casado com uma mocinha de Santa Rita."

"Sim... quer dizer, eu fui casado, mas..." Arriaga pigarreou, sem saber como explicar e então suspirou, resignado "A senhora Balvanera não é minha esposa."

Alejandro sorriu mais uma vez, um sorriso cheio de malícia e Arriaga teve vontade de tirar-lhe o sorriso do rosto a tapas.

"Ela ainda está inconsciente e estamos fazendo vários exames para entender as causas. Você pode me dizer como aconteceu o ferimento que ela tem na testa?"

"Eu não sei. A encontrei assim, no chão do banheiro do hotel."

"Vocês discutiram...?"

"Não... Claro que não..." e então Arriaga percebeu pelo olhar de Alejandro, aonde ele estava querendo chegar.

Arriaga apertou os punhos de raiva.

"Você acha que eu causei isso?" ele perguntou, o coração acelerado.

"Calma, José Ángel. Não estou acusando você de nada. Só quero entender o que aconteceu para poder ajuda-la."

Arriaga não sabia nem por onde começar a dizer que aquilo era um absurdo quando Alejandro continuou a falar.

"Às vezes uma briga chega ao limite e as pessoas se descontrolam..." Alejandro disse, calmamente "Você não imagina quantos casos assim recebemos por semana. Claro que na maioria das vezes são pessoas mais humildes, raramente é alguém como a senhora Balvanera."

Arriaga teve que tirar forças de todos os seus antepassados para realmente não se descontrolar e encher Alejandro Maldonado de socos.

"Eu não agredi a Victoria, se é isso que você está insinuando. Eu jamais faria algo assim."

"Bem, se você diz... Mas lembro que você era bem esquentadinho na juventude."

Arriaga estava pasmo diante da audácia do homem. Respirou fundo e achou melhor não responder, porque não queria estender mais aquela conversa absurda.

"Eu posso vê-la?"

"Como eu disse, ela ainda está inconsciente, José Ángel. O estado é delicado." o médico fez menção de se afastar "E como você deve imaginar, num ambiente hospitalar, só a família da paciente pode entrar."

Arriaga queria gritar milhões de coisas, que ele ia pedir Victoria em casamento, que ela era o amor da vida dele e que ninguém poderia decidir que os dois já não era uma família simplesmente porque um papel não tinha sido assinado. E principalmente, queria gritar com quem decidiu que justamente o maldito herdeiro dos Maldonado seria o médico de Victoria. Mas Arriaga, no final das contas, apenas o segurou pelo braço, impedindo Alejandro de ir embora.

"Mas não há um diagnóstico?" ele perguntou nervoso "Porque ela não acorda?"

"Pela minha experiência, o ferimento da testa dá impressão de que ela bateu a cabeça em uma superfície dura. O resto eu só posso dizer quando sair o resultado dos exames."

Por um instante Arriaga ficou olhando para o nada, totalmente perdido. Mais uma vez ele se via na mesma situação, sem saber o que poderia acontecer com Victoria, e totalmente impotente. Alejandro chegou a sentir pena dele.

"Alejandro, por favor, eu preciso... e-eu..." Arriaga não conseguiu terminar e sentiu seus olhos embaçarem pelas lágrimas. Ele se sentia estúpido por estar prestes a chorar na frente daquele playboy insuportável, mas o desespero que ele sentia e a falta de respostas sobre o estado de saúde de Victoria o abalavam absurdamente.

Alejandro suspirou.

"Está bem, José Ángel. Venha comigo."

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