"Victoria, se a partir de agora temos uma eternidade, eu tenho algo para pedir."
Victoria sentiu seu corpo inteiro ser percorrido por um pulsar de eletricidade e instintivamente segurou-se firme no braço de Arriaga. Seus olhos verdes se arregalaram e ela refreou um grito de susto ao ouvir essas palavras, tão parecidas com as que tinha ouvido no sonho da madrugada anterior.
Ela mordeu o lábio inferior na tentativa parar as lágrimas que começavam a se acumular em seus olhos.
Arriaga sorriu de expectativa, pois sabia que a reação de Victoria só vinha a confirmar uma coisa: ela lembrava de tudo e assim como ele, havia partilhado aquela experiência extraordinária. E não havia nada mais magnífico no mundo do que o que estava para acontecer.
"Fica comigo?" ele perguntou, finalmente.
Victoria fechou os olhos e as lágrimas que ela antes tentava conter rolaram por suas bochechas como bálsamos. Ela sorriu e Arriaga queria enche-la de beijos e prometer que faria de tudo para que ela só derramasse lágrimas de alegria dali por diante, mas respirou fundo e decidiu esperar pela resposta.
Victoria finalmente abriu os olhos – verdes, lindíssimos, brilhantes – e suspirou de alívio, como se algo muito pesado tivesse finalmente saído de seus ombros e agora ela estivesse por fim em paz.
"Claro que sim." ela respondeu.
Arriaga sorriu e a puxou para si, a abraçando e fundindo seus lábios nos dela, num beijo apaixonado que continha todas as palavras de amor que ele queria ter dito em todos esses meses e a promessa de todas as que ele ainda diria; e todos os versos que Victoria escreveu e ainda escreveria e todos os quadros que ela pintou e ainda pintaria. Um beijo repleto de suspiros e súplicas de perdão, de olhares furtivos quando ninguém estava vendo, de beijos que quase aconteceram, de suspiros atrás de portas fechadas, de sorrisos cúmplices, de mãos que se roçaram sem querer, de lágrimas de conforto, de sonhos compartilhados.
Era um beijo completamente diferente dos dois beijos que haviam partilhado meses antes – na rodoviária na Cidade do México e no ateliê de Victoria – dois beijos enlouquecidos e apaixonados, porém alimentados por um amor impossível, uma tensão sexual enlouquecedora e uma frustração descabida.
Este beijo, contudo, continha uma sensação de libertação indescritível, como se Victoria e José Ángel estivessem deixando pelo caminho todos os pesares que haviam carregado durante os incontáveis meses de angústia e agora dessem lugar ao alívio das boas-vindas – como se fosse a primeira vez.
Quando se separaram para recuperar o fôlego, instantes depois, Arriaga já tinha perdido a noção de onde ele começava e onde Victoria terminava, perdido que estava entre jasmim e camomila, e o dourado dos cabelos dela e os olhos verdes – meu deus os olhos verdes que brilhavam como nunca! – e os lábios dela avermelhados pelos beijos que ele já queria voltar a provar.
Arriaga suspirou e escondeu o rosto entre os cabelos de Victoria, porque ainda não sabia direito como agir, era tudo mágico e extraordinariamente novo, e era ela, Victoria Balvanera, entre seus braços, real e verdadeira. O corpo de Arriaga tremia de emoção, excitação e ansiedade e nada parecia ser mais poderoso do que o que ele sentia ao tê-la assim tão próxima. Ele respirou fundo e roçou o nariz pelo pescoço dela, provocando risadas deliciosas em Victoria. Ele a apertou contra si o mais que pode pois sentiu que se desmancharia em mil pedaços ao ouvi-la rir.
"O que você fez comigo, Victoria Balvanera?" ele disse, num sussurro.
"Porque?" Victoria perguntou, de olhos fechados, entre suspiros que não conseguia controlar por sentir os lábios de Arriaga deslizando pelo pescoço dela.
"Porque te amo" ele respondeu, sentindo as pequenas mãos de Victoria se enredarem nos cabelos dele, deliciosamente "Te amo mais que tudo no mundo."
Victoria se afastou para olha-lo nos olhos, percebendo que ele chorava. Passou os dedos delicadamente pelo rosto dele, secando as lagriminhas que caíam.
"E eu, José Ángel" ela disse, sorrindo "Eu amo você."
Arriaga se aproximou e a beijou com suavidade. Em seguida eles recostaram as testas uma na outra.
"Espero não estar sonhando." ela disse, num suspiro.
"Acho que dessa vez não." ele disse, a puxando para si, fazendo com que Victoria descansasse a cabeça no ombro dele. "Em todo o caso..."
Victoria se ergueu para olhar para ele outra vez.
"Em todo o caso, o que?"
"Se isso for um sonho e acordarmos outra vez separados." ele disse, muito sério "Eu venho atrás de você, Victoria, como te prometi. Quantas vezes forem necessárias. Eu venho atrás de você."
Victoria ficou emocionada, enchendo os olhos de lágrimas.
"José Angel" ela disse quase sem voz, o puxando pela gola da camisa e o beijando novamente.
Quando se separaram, Victoria levantou do sofá e esticou a mão para Arriaga segurar. O sol do meio-dia batia nos cabelos dourados dela e Arriaga pensou que Victoria era uma aparição divina que queria leva-lo para algum paraíso longínquo.
"Vem, meu amor." ela disse, e levantou uma sobrancelha.
Ele segurou a mão dela sem pestanejar. Tudo começava e terminava com Victoria Balvanera.

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Laberintos Cerrados
FanfictionFilho de um antropólogo e de uma índia nativa de Catemaco, Vera Cruz, José Ángel Arriaga sempre esteve familiarizado com os rituais xamânicos de sua terra natal. Em meio à sua culpa e remorso, ele decide voltar para sua cidade em busca de uma respo...