"José Ángel?" ela chamou mais uma vez.
"Eu... eu..." ele tentou falar.
"Você não está bem, vem aqui comigo." ela disse e o puxou pelo braço.
Victoria entrelaçou sua mão na dele, o guiando pelo jardim. Ela dava pequenas olhadas para trás de vez em quando para ter certeza de que ele estava bem, enquanto o levava através da festa, das pessoas, do burburinho.
Arriaga se deixou levar. Ele se sentia enfeitiçado e mais – estava entregue. Se o Xamã queria que ele se deixasse ir, aqui estava ele. Pelo menos por essa noite, pelo menos por hoje, sem nenhuma culpa.
Sem jamais soltar a mão de Arriaga, Victoria se aproximou de um dos buffets e pediu a um garçom duas águas com limão. Entregou um copo para Arriaga e depois pegou o seu. Continuou a caminhada o levando para uma parte mais reservada do jardim, onde se sentaram num banco de pedra debaixo de uma figueira. Só aí Victoria soltou a mão de Arriaga que sentiu falta do contato da mão dela na sua.
Eles ficaram em silêncio por instantes, ele muito preocupado em beber a água com limão para evitar a vontade que tinha de dizer milhões de coisas.
"Fico feliz que tenha vindo." ela disse finalmente, quebrando o silêncio.
"Eu também."
"Se sente melhor?"
"Sim. Me desculpe." ele disse, baixando a cabeça.
"Pelo que?"
"Por incomodar a senhorita. Deve ter muitos convidados a esperando.""Não se preocupe com isso." ela disse, olhando ao longe. De repente olhou pra ele e sorriu. "E você está fantasiado de que?"
"De guarda-costas." ele respondeu rindo.
Ela riu gostosamente. Arriaga apertou as mãos na borda do banco refreando a vontade de beijar aquele sorriso.
"Que inusitado. Mas faz sentido"
"Porque?"
"Por causa do seu nome. José Ángel."
"Não entendi."
"Ora. José Ángel. Anjo da guarda. Sabe?" ela disse, simplesmente.
Arriaga não achava que era capaz de se apaixonar mais por Victoria Balvanera. Mas tinha acabado de perceber que era possível.
"Bem, nesse caso, você está com a minha fantasia, senhorita Balvanera" ele disse, sorrindo.
Victoria olhou para si mesma e riu envergonhada.
"Em minha defesa, eu tenho essa fantasia há semanas"
"Ficou perfeita em você, Victoria" disse Arriaga, sem conseguir se conter.
Os dois se olharam profundamente. Victoria levantou de supetão quase acertando Arriaga com as asinhas da fantasia.
"Ah, desculpe!" ela disse, mortificada
"Não foi nada. Não se preocupe."
Victoria ficou em pé por um momento, andando alguns passos de maneira indecisa, de um lado para o outro. Arriaga a observava com um sorriso no rosto, achando divertido conhecer uma Victoria um pouco mais tímida e por isso mesmo, igualmente encantadora.
Ele se levantou, parando em frente a ela, fazendo com que Victoria parasse de caminhar.
"Senhorita" ele disse, sorrindo.

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Laberintos Cerrados
Fiksi PenggemarFilho de um antropólogo e de uma índia nativa de Catemaco, Vera Cruz, José Ángel Arriaga sempre esteve familiarizado com os rituais xamânicos de sua terra natal. Em meio à sua culpa e remorso, ele decide voltar para sua cidade em busca de uma respo...