Catemaco, Veracruz

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Ao desembarcar em Veracruz, depois de uma hora de vôo que pareceu interminável, Arriaga foi direto para a locadora de automóveis do aeroporto. Veracruz ficava há mais ou menos 3 horas de distância de Catemaco e ele não podia perder tempo. Do carro, Arriaga ligou para Adriana, que informou ainda estarem esperando a chamada da operadora do cartão de Victoria.

Como conhecia muito bem a região, Arriaga decidiu pegar a Carretera Costera del Golfo, na direção de Catemaco. Era uma estrada difícil, com muitos trechos de terra, mas era a via de acesso mais rápida à cidade. Ele dirigia o mais rápido que podia e suas mãos suavam contra o volante. Victoria não saía nem por um momento de sua mente. Ele perdeu as contas de quantas orações fez, implorando à Virgem de Guadalupe que ela estivesse bem.

Era fim de tarde quando o celular dele tocou novamente. Adriana recebera finalmente a chamada que eles tanto esperavam. Pelas últimas transações feitas, Victoria estaria hospedada em um hotel da região chamado La Finca. Ele agradeceu, aliviado de que agora tinham uma pista do paradeiro de Victoria. Meia hora depois, Arriaga entrava finalmente na cidade. Todas as lembranças de sua infância o invadiram como um furacão. A brisa fresca que trazia consigo o perfume do lago, as palmeiras se movimentando com a força do vento, tudo lhe era familiar. O coração de Arriaga doeu ao pensar que Victoria teria decidido ir para lá pra sentir que estava perto dele de alguma maneira.

Depois de pedir algumas informações aos moradores locais, conseguiu encontrar o hotel, que ficava à beira do lago de Catemaco. Ele desceu do carro e correu pela entrada - os pés dele batiam contra o chão de lajotas rústicas na mesma intensidade que o coração de Arriaga pulsava agitado no peito. Ele finalmente adentrou a recepção onde um funcionário atendia.

"Boa noite, por favor, preciso saber qual é o quarto da senhora Victoria Balvanera" disse Arriaga, afobado.

"Desculpe, senhor. Não podemos dar essa informação." o homem respondeu, sem nem olhar pra ele.

Arriaga bufou de indignação. Mas ele estava preocupado demais para entrar numa discussão com o recepcionista.

"Você pode ligar para o quarto dela então e dizer que estou aqui?"

O homem finalmente se dignou a olhar para ele.

"E a quem eu devo anunciar?" perguntou o homem, mal-humorado.

"José Ángel Arriaga." ele respondeu cortante.

O recepcionista discou um número que Arriaga não conseguiu ver e aguardou. Depois colocou o fone no gancho novamente.

"A senhora não atendeu. Imagino que não esteja no quarto." ele respondeu dando de ombros.

"Mas você sabe se ela saiu do hotel?"

"Senhor, eu não posso dar essa informação."

Arriaga apertou os punhos, perdendo a paciência. O recepcionista continuou seus afazeres tranquilamente.

"Você pode ligar outra vez?" Arriaga perguntou, o nervosismo tomando conta dele.

"Senhor, se não se importa, eu tenho coisas a fazer."

Arriaga avançou sobre o balcão, puxando o homem pela camisa.

"Eu vim da Cidade do México porque a família inteira está preocupada, então acho bom você me dizer o número do quarto dela agora!" gritou Arriaga.

O recepcionista ficou branco feito um papel, os olhos arregalados de susto. Arriaga o soltou, irritado.

"Quarto... 203." ele balbuciou, gaguejando.

"Obrigado."

Arriaga correu para as escadas.

"Senhor, espere! Você não pode entrar!"

Mas Arriaga não o ouviu enquanto subia as escadas do hotel de dois em dois degraus. Por sorte o hotel não era muito grande e rapidamente ele encontrou o quarto. Arriaga bateu à porta algumas vezes, mas não obteve resposta.

"Victoria! Victoria, você está aí?"

O recepcionista do hotel apareceu no corredor, correndo.

"Você tem a chave do quarto?" Arriaga perguntou, forçando a porta que estava trancada por dentro.

"Senhor, eu vou chamar a polícia, você não pode invadir o quarto de uma hóspede..."

Mas ele nem conseguiu terminar a frase pois Arriaga já estava forçando a porta com o corpo e em alguns instantes a porta cedeu. Arriaga entrou correndo no quarto. As luzes estavam acesas, a cama desarrumada, as malas desfeitas.

Arriaga observou o quarto atentamente, mas nem sinal de Victoria.

"Victoria?!" ele gritou desesperado.

Ninguém respondeu. Apenas o silêncio e o farfalhar do vento batendo nas palmeiras ao longe.

"Senhor, por favor..." Arriaga ouviu o recepcionista falar.

Então Arriaga percebeu luz vindo debaixo da porta do banheiro. Num ímpeto ele correu até a porta e a abriu.

Arriaga sentiu seu corpo inteiro amolecer quando viu Victoria desmaiada no chão do banheiro com um corte profundo na testa. Uma poça de sangue tinha se formado ao redor da cabeça dela e parte dos cabelos dourados estavam manchados com o vermelho escuro.

"Victoria..." ele disse, mas sua voz mal saiu.

Arriaga se ajoelhou ao lado dela, a tocando no rosto. Ele segurou o pulso dela e percebeu uma pulsação fraca, mas presente. Ele soltou o ar dos pulmões que nem tinha percebido que estava segurando, diante do alívio de perceber que ela ainda respirava.

"Victoria..." ele chamou, mais uma vez "Victoria, meu amor, acorda..."

Mas ela continuava inerte, o rosto pálido, os lábios que sempre foram avermelhados, agora pareciam opacos e sem cor. Arriaga percebeu que o recepcionista os observava da porta do banheiro completamente paralisado.

"Chame uma ambulância! Rápido!" ele gritou.

O homem pareceu sair do transe e correu de volta para o quarto. Ao longe Arriaga o ouviu discando no telefone.

"Victoria..." Arriaga chamou num sussurro, apavorado com a possibilidade de perde-la "Victoria, fala comigo."

Ele percorreu os olhos pelo banheiro, tentando entender o que estava acontecendo. Ela tinha sido atacada? Arriaga sentia que perdia as forças ao vê-la daquela maneira. Ele queria chorar e gritar de desespero. Então, acariciou testa dela levemente, manchando as próprias mãos de sangue. Arriaga fechou os olhos, angustiado, e lágrimas começaram a rolar.

"Victoria, meu amor..." Arriaga chamou mais uma vez, mas Victoria não se moveu. 

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