A noite em Santa Rita tinha se tornado terrivelmente fria, mas estava absurdamente clara. A lua cheia jazia alta no céu e as estrelas brilhavam como centenas de faróis – algo que só era possível contemplar quando se estava no campo.
Arriaga saiu para o terraço e esfregou os braços ao sentir o ar gelado lhe atacar o corpo. Foi então que viu a silhueta de Victoria, apoiada no gradil que circundava o terraço. Os ombros dela tremiam e Arriaga não sabia dizer se era pelo frio ou se porque ela chorava.
Quando ele finalmente se aproximou de Victoria, a envolveu com seus braços e a apertou firme contra si. Ela deixou o peso do corpo recair sobre ele e Arriaga a sentiu estremecer.
"Meu amor, fala comigo." ele disse, a fazendo virar-se para ele.
Victoria tinha os olhos vermelhos de tanto chorar, o rosto pálido, a expressão triste e doída. Arriaga sentiu seu coração se contrair de dor ao vê-la assim.
"Me desculpe pelo que aconteceu. Eu não devia ter perdido o controle..." Arriaga disse, envergonhado.
Victoria percebeu que, além da expressão preocupada, Arriaga trazia no rosto as marcas da briga com Nelson: um hematoma que começava a ficar visível ao redor de seu olho e um corte no lábio.
"Ai, José Ángel..." Victoria não conseguiu dizer mais nada e o abraçou fortemente, seu corpo sendo sacudido por soluços, que o preocuparam.
"Calma, meu amor..." ele disse, passando as mãos nas costas dela em movimentos calmos e tranquilizantes.
Victoria chorava, agarrada à camisa de Arriaga, sem conseguir se controlar. Ele a afastou ligeiramente de si, para olha-la nos olhos.
"Victoria, foi o que o Nelson Brizz disse que deixou você assim?" ele perguntou, suavemente.
Victoria baixou a cabeça, derrubando mais lágrimas.
"É muito triste perceber que..." ela começou a dizer, instantes depois "Que vivi por tantos anos um casamento sem amor."
Arriaga limpou uma lagriminha que corria pelo rosto de Victoria com o polegar. Ela sorriu tristemente.
"Apesar de tudo, eu aprendi a amar o Nelson. Do jeito que pude, mas aprendi. A minha filha foi concebida de um sentimento que para mim era legítimo, puro. Me choca ouvir dele essas barbaridades..."
"Victoria, você não pode levar em consideração o que ele disse. Ele falou essas coisas pra machucar você, por despeito."
Victoria fechou os olhos e respirou fundo. Quando abriu os olhos outra vez, olhou profundamente para Arriaga.
"Você acha que não me dói ouvir que ele viveu uma vida entediante comigo?" ela disse, com a voz embargada pelas lágrimas "Que eu não lhe causava nada?"
"Victoria..."
Victoria saiu dos braços de Arriaga e começou a andar pelo terraço.
"Ele sempre foi tão distante. Tão ausente. E eu acho que nunca quis ver, porque se eu percebesse a escolha errada que tinha feito, perceberia a mulher fraca que fui ao ceder às vontades do meu pai."
Victoria se aproximou novamente do gradil, olhando para a paisagem iluminada pelo luar. Arriaga se aproximou e ficou ao lado dela.
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Laberintos Cerrados
FanfictionFilho de um antropólogo e de uma índia nativa de Catemaco, Vera Cruz, José Ángel Arriaga sempre esteve familiarizado com os rituais xamânicos de sua terra natal. Em meio à sua culpa e remorso, ele decide voltar para sua cidade em busca de uma respo...