Problemas no Paraíso

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Ao voltarem para a capital, os dias se passaram como era o esperado. Nikki aceitou muito bem a relação de Victoria e Arriaga, embora não suportasse Liliana. Já Aníbal Balvanera foi terminantemente contra o fato de uma descendente de sua linhagem se envolver com um empregado da casa. Porém, Victoria foi categórica: não estava mais disposta a ceder aos desejos do pai.

No entanto, a questão mais delicada era Liliana. Arriaga não tinha reunido coragem para contar que amava Victoria. E Liliana dava indícios de que não aceitaria tão cedo uma relação do pai com qualquer mulher que fosse – e muito menos com Victoria, alvo do ciúme doentio de sua falecida mãe.

Ainda assim Victoria e Arriaga tentavam encontrar, no meio desse turbilhão de emoções, momentos para ficarem juntos e desfrutarem - mesmo que às escondidas - essa relação tão desejada para ambos. De certa maneira, era até divertido terem que manter a relação clandestina, pois trazia um outro tipo de adrenalina para o cotidiano dos dois. Enquanto fingiam ser patroa e guarda-costas, trocavam beijos atrás de portas fechadas, tinham noites de amor no ateliê e davam breves passeios de carro depois do expediente de Victoria na Meta Imagem. Arriaga adorava esses momentos em que podiam ser apenas duas pessoas normais. As vezes ele a levava para tomar sorvete em barraquinhas no centro da cidade como se fossem dois adolescentes. Ele sabia que dificilmente alguém da alta sociedade frequentaria uma feira de rua para reconhecer Victoria. E ele amava o fato de Victoria não se importar nem um pouco, de ser totalmente desprendida, sem a soberba das pessoas da classe dela. Ela o tomava pela mão, entrelaçava os dedos nos dele e ao sentir a mãozinha de Victoria contra a sua, Arriaga se tornava o homem mais orgulhoso do universo.

Algumas tardes, Victoria fingia que tinha que fazer uma visita a um cliente e os dois saíam a perambular pela cidade. Arriaga conhecia muito pouco da capital e Victoria tinha descoberto que adorava apresentar a ele todos os lugares que ela amava. Ela inclusive fez questão de leva-lo ao Bosque de Chapultepec, onde Arriaga ficou emocionado de encontrar no Museu Nacional de Antropologia vários artefatos que seu pai havia descoberto quando fazia escavações em Los Tuxtlas. O nome dele - Ernesto Arriaga - estava listado ao lado de outros pesquisadores em diversas plaquinhas por todo o museu. Quando Victoria percebeu de canto de olho que Arriaga secava algumas lágrimas de emoção não pôde evitar que seu coração também se emocionasse junto com o dele.

Os encontros furtivos dos dois haviam se tornado o passatempo preferido de Victoria. Ela não via a hora de ficar a sós com ele, todos os dias, e percebeu como eram escassos e preciosos aqueles momentos. Apesar de se chatear com as interrupções alheias e a preocupação de não serem descobertos a todo o momento, Victoria também se deliciava com a adrenalina que esse amor secreto provocava.

Já Arriaga não tinha do que reclamar. Estava finalmente com a mulher dos seus sonhos e só isso já era uma dádiva divina. Por esse motivo, enquanto Victoria trabalhava, Arriaga ficava planejando maneiras de surpreende-la e quando tinha a chance, colocava suas ideias em prática. Às vezes eram coisas simples, como comprar uma flor e deixar sobre a mesa dela ou segurar a mão de Victoria quando ninguém estava olhando. Muitas vezes, quando Victoria precisava ficar trabalhando até tarde na Meta Imagem, Arriaga se responsabilizava por comprar o jantar e aproveitava para pedir toda a sorte de comidas diferentes, pra descobrir do que ela mais gostava.

Nos dias em que algo os impedia de ficarem a sós e estavam desesperados um pelo outro, Arriaga agarrava Victoria no elevador da empresa, sem cerimônia e sem se importar que quando as portas se abrissem novamente eles estariam despenteados e amassados. Victoria morria de vergonha, tentando disfarçar como podia e Arriaga agia como se nada tivesse acontecido. Em outros momentos, quando o dia era longo e cansativo, Arriaga acompanhava a senhora Balvanera até o estacionamento como um bom e fiel guarda-costas, porém entrava no banco de trás do carro e os dois se agarravam feito loucos. Depois eles riam de si mesmos, de suas pequenas insanidades diárias e Victoria muitas vezes cochilava de tão cansada, deitando a cabeça no peito de Arriaga, que a abraçava contra si. Ele adorava observa-la dormir e esse encanto só se quebrava quando Arriaga a acordava com beijinhos, avisando que tinham que voltar pra casa.

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