Sentada de frente para a pequena penteadeira da suíte, Victoria arrumava os cabelos enquanto esperava por Arriaga. Ela havia escolhido um vestido azul claro e um casaco comprido e felpudo de lã, pois apesar do dia quente ela sabia que o tempo à noite em Santa Rita tendia a ser particularmente frio, principalmente na fazenda. Ela mordeu o lábio inferior para refrear o sorriso ao ouvir Arriaga cantando desafinadamente no interior do banheiro. Era inacreditável que tudo aquilo realmente estivesse acontecendo. Depois de tanta espera, de ter reprimido por tanto tempo o que sentia por esse homem, estar com ele ali, viver aquele momento parecia um sonho que acabaria a qualquer instante.
Victoria foi arrancada de seus pensamentos quando viu pelo reflexo do espelho a porta do banheiro se abrir e Arriaga sair com a toalha enrolada na cintura. Ela estremeceu ao vê-lo daquela maneira – o peito nu, por onde gotículas de água corriam pela pele morena que ela não se cansava de admirar. Ela se perguntou quanto tempo levaria para acostumar-se ao vê-lo assim, a tê-lo tão perto. A verdade era que Victoria estava sentindo um pouco de medo de tudo o que Arriaga a fazia sentir. Tudo o que ele começava a despertar nela, pouco a pouco. Coisas que ela nunca tinha sentido antes, nem com Nelson, nem com Carlos, ou nenhum outro homem.
Victoria levantou rapidamente da cadeira em que estava sentada, tentando desviar os pensamentos e começou a colocar os brincos. Arriaga que estava vestindo a camisa ficou de súbito, completamente imóvel, e a olhou de cima a baixo, encantado. Victoria percebeu.
"O que foi?"
"Victoria, posso dizer uma coisa que eu sempre quis dizer?"
"O que?"
"Você é linda. Tão linda que meu coração mal pode aguentar. Mas quando você se veste de azul..." ele disse e se aproximou dela, a puxando para si e a beijando apaixonadamente.
Victoria sorriu quando se separaram e começou a fechar os botões da camisa dele. Arriaga não conseguiu conter o sorriso diante daquele gesto tão simples, mas tão íntimo.
"José Ángel, você me surpreende."
"Porque?"
"Porque me diz cada coisa... Você é tão direto, tão espontâneo."
Arriaga a beijou na testa, docemente.
"Mas é você que me faz dizer essas coisas. Tem algo em você que sempre me provocou isso." ele disse sinceramente "Não sei porque, mas sempre senti que podíamos falar sobre tudo."
"Sempre fomos bons amigos, não é mesmo?"
"Você é a minha melhor amiga, Victoria. Foi uma sorte que você também tenha se transformado no meu amor."
Victoria mordeu o lábio inferior, para conter as lágrimas.
"Arriaga, o que eu vou fazer com você?" ela disse, sorrindo.
"Tudo o que você quiser, senhora Victoria" ele respondeu, sussurrando-lhe ao ouvido. "Inclusive pode me confessar algo que sempre quis e nunca teve coragem."
"Hum, vou ter que pensar." Victoria respondeu, terminando de fechar-lhe os botões.
Arriaga arrumou o colarinho da camisa e olhou pra Victoria, atentamente. Victoria devolveu o olhar, pensando.
"Tem uma coisa que eu gostaria muito de fazer, na verdade."
Arriaga fechou os olhos, respirando fundo.

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Laberintos Cerrados
FanfictionFilho de um antropólogo e de uma índia nativa de Catemaco, Vera Cruz, José Ángel Arriaga sempre esteve familiarizado com os rituais xamânicos de sua terra natal. Em meio à sua culpa e remorso, ele decide voltar para sua cidade em busca de uma respo...