Capítulo 27 parte 2 (Anthony)

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Passei o dia inteiro estudando mas minha concentração estava uma merda. Minha vontade era apenas de sair correndo até o apartamento da Flor, mas não sabia exatamente o que diria. Será que digo o que Barbara me disse? Será que Flor vai querer me ouvir depois desse tempo todo? Será que ela ainda se encontra com Rafael? Era tanta coisa na cabeça, eu tinha que pedir ajuda a uma pessoa: Talita.

Já se passavam das seis da tarde. Peguei meu celular e liguei para Talita, estava rezando para que ela não estivesse perto de Floribela agora.

— Oliveira? Está tudo bem? — ela atende.

— Sim... Escute, Talita. Preciso de sua ajuda. — digo. — Mas por favor, não fala nada para Flor.

— Mentir para Floribela? Num gostei disso. — ela suspirou. — O que você fez?

— Nada, ainda. Mas vou fazer. Preciso da sua ajuda. Pode me encontrar agora? É sério, Talita. É sobre a Flor.

— Certo... me encontra no bar dentro da Estadual. Estou aqui. — ela responde. — Mas venha logo se não vou estar bêbada.

— Já estou indo. — digo, rindo e desligando o celular. Saio de dentro do meu quarto e vou em direção a sala procurar a chave do carro. Vejo se Eduardo está em casa mas não estava. Pego a chave do apartamento e desço.

Já dentro do carro indo em direção a Estadual não consigo pensar direito, quer dizer, o que diabos eu iria falar para Talita? "Ah, eu sou apaixonado pela sua melhor amiga a tempos e o ex namorado dela está querendo infernizar a vida dela novamente me ajude"? Não parece coeso para mim. Talvez eu devesse guardar a informação que eu sou apaixonado por ela. Mas essa é uma verdade que venho guardando a muito tempo. Não acredito em amor à primeira vista, mas eu senti algo ao vê-la pela primeira vez, não acho que tenha sido amor. Mas eu senti. O amor foi se construindo junto com a nossa amizade, sempre que convivia mais com ela, descobria algo que me fazia mais apaixonado. Demorei tanto tempo pra entender que eu a amava, foi confuso, acho que me sinto confuso até hoje. Mas com quase 30 anos eu acho que preciso deixar algumas coisas expostas. Talvez eu devesse mesmo falar logo tudo, não tenho nada a perder. Floribela e eu vamos para longe um do outro no próximo ano. Não posso mais magoar pessoas como fiz com Julia por simplesmente não entender o que sinto por Flor, mas agora eu consigo entender claramente: eu a amo.

Estaciono dentro da Estadual, conhecia esse campus como a palma da minha mão. Os corredores mal iluminados e estradas escuras não me assustavam mais. Depois de caminhar um pouco escuto aquele familiar barulho de bar; o bar não ficava propriamente dito dentro da Universidade, mas era tão colado que era melhor entrar por dentro do que por fora. Vejo Talita de longe. Talita era uma mulher muito bonita, em alguns momentos confesso que já tive vontade de ficar com ela, principalmente antes dela me apresentar Flor, mas depois também aconteceu. Mas Talita nunca me deu bola, nem antes e nem depois de Floribela, talvez tenha sido melhor assim. Afinal, por mais linda que Talita fosse, nem mesmo ela poderia com a beleza de Flor.

— Veio rápido mesmo, Oliveira. — ela diz, levantando-se ao me ver, seu semblante que antes era divertido agora estava preocupado.

— Sim, eu disse que era urgente. — digo, a encarando. Continuávamos em pé.

— Quer dar uma volta? Tô preocupada agora. — ela levanta. — Deixa eu só me despedir do boyzinho. — ela diz e eu concordo. Não queria ficar naquele bar. Poucos minutos depois Talita retorna.

— Antes de tudo, não me leve a mal, mas porque estava aqui? Quer dizer, isso é tão... coisa de calouro? — perguntei enquanto caminhávamos pelo campus.

— É, eu sei. Mas conheci um carinha numa festa dessas e ele estuda por aqui. — ela disse. —Eu não voltei pro Brasil atrás de luxos, Oliveira. Tenho minha vida muito bem estabelecida na França, não sou exatamente rica mas...Eu quero viver um pouco fora daquela bolha de Paris. — ela fala e tenho um pouco de vontade de rir. Imagina viver durante anos na França e se cansar de Paris para vim a um bar universitário pé sujo.

— Eu acho muito engraçado, mas talvez entendo um pouco. — digo. — Vejo você como uma mulher muito classuda. — digo.

— Por cristo, Oliveira. Não lembra de quando enchíamos um daqueles galões de vinho barato junto com vodca e suquinho em pó? — ela riu e eu também. — Eu ainda sou aquela pessoa. Não sou classuda. É tudo habitus, como você ama falar. Prerrogativas sociais, na França preciso ser muito fina, posso ser uma arquiteta muito boa no que faço, mas continuo sendo uma mulher negra e imigrante latina. — ela diz. Concordo com a cabeça. —É por isso que amo estar aqui, estava morrendo de saudades de Flor, dessa bolha que a gente vive. De sentir amor dos nossos próximos. — Ela diz. — Ser imigrante é muito solitário. Por mais amigos que você faça, nada é como é aqui, Oliveira. — ela suspira. — Mas pelo amor de deus, me diga, o que houve, que você veio com tanta urgência? 

— É o seguinte...  

O Sol Pela Janela [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora