Capítulo 19 (Flor)

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— Testamento? — pergunto, pra ver se escutei direito.

— Isso mesmo. Vou deixar uma boa quantia para as duas. Sei que são duas meninas muito inteligentes e estudiosas. — olho para minha mãe, ela nem ao menos viu meu diploma ainda. — Para você, Liliana, deixo uma quantia para seus estudo até o pós-doc, se assim desejar. Poderá cursar qualquer Universidade de medicina no mundo inteiro. — vejo os olhos de Liliana brilharem. Suspiro fundo para não entrar em crise. — E você, Floribela. Sua mãe me contou que está concorrendo uma bolsa de Doutorado. Você é igual seu pai, muito esperta. Vou deixar uma quantia para você agora. — arregalo os olhos, pronta para recusar prontamente. —Isso cobrirá todas as suas despesas durante a estadia na Espanha. Se quiser, pode pedir mais, a Espanha fica perto da Itália. — eu sei disso, caralho. Eu estudei geografia, mas eu não quero ter contato nenhum com você, velho branco gágá. — Não precisa aceitar, ou falar nada. O dinheiro já está em uma conta na Europa. Se quiser tira-lo agora, retire. Se quiser deixar para quando eu morrer, pode também.

— Mas EU não quero nenhum dinheiro vindo de você. — respondo, me sentindo meio ofendida. Ele acha mesmo que me dando euros vai cobrir toda as merdas que fez? —Eu... eu não preciso! Nem que eu tenha que ser garçonete na Europa! Mas eu...

— Flor, se acalma! — Liliana me repreendia.

— Não me acalmo! Você teve que perder o filho pra acordar pra vida? Pra entender que foi um lixo como ser humano com pessoas que carregam o mesmo sangue que o seu? E ainda quer oferecer dinheiro como se isso fosse mudar alguma coisa! — eu sentia o ódio sair por todos os póros do meu corpo. Esse homem escolheu o dia errado pra me importunar. — O sobrenome Galli que levo não significa o mesmo que significa a você. Galli é por meu pai e tudo que ele me ensinou nessa vida. O seu Galli pra mim só significa racismo e colonialismo! — quase que rosno as palavras. Minha vontade era de expulsa-lo.

— Você é a cópia do teu pai. Ele estaria muito orgulhoso de você. — ele respondeu e levantou-se. — Já vou, não preciso que me ofenda mais. Mas tudo que eu disse continua de pé. Obrigada pelo café e pela compreensão, Sônia. Estarei no rancho, se por acaso quiserem conversar novamente. — reviro os olhos. — Estou indo.

— Acompanho o senhor até a entrada. — minha mãe diz, me repreendendo com o olhar. Liliana me encarava como se quisesse algum tipo de resposta.

— O que foi garota?

— Eu vou aceitar o dinheiro. — ela diz, firme. Balanço a cabeça.

— Você não vê que ele está tentando nos comprar?

— Eu não ligo, Flor. Bolsas em especializações em medicina são difíceis para um caralho. —suspiro fundo e me sento, tentando assimular tudo. Mamãe volta para a sala, estava apenas esperando a bronca.

— Flor. Você tem todo o direito de não aceitar, mas deixe sua irmã aceitar se ela quiser. — minha mãe diz, sentando ao nosso lado.

— Mas esse dinheiro... ele é sujo. — digo, tentando entender que loucura era essa dessas duas de querer o dinheiro daquele velho.

— Ele é de vocês. Não é sujo, Floribela.

— Claro que é! Sabe se lá quantas pessoas tiveram seus trabalhos explorados para aquele velho ser tão rico da forma que é. — balanço a cabeça.

— Veja isso como uma reparação histórica. — Liliana abre a boca novamente. — Pelas merdas que já fizeram, não precisamos ter contato com eles, né mãe?

— Olha, eu não vou viver pra sempre, garotas. — ela suspira. — Vocês precisam de uma base familiar.

— Mas eu não quero uma base familiar racista! —

O Sol Pela Janela [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora