Anthony
Meu peito chorava de ter que ficar longe de Flor. Mas eu precisava resolver minha situação com Dona Sônia. Sim, mãe de Flor, e agora minha sogra.Alguns anos atrás, Drª Sônia e eu fizemos um acordo. Foi quando passei um tempo na casa das Silva Galli. Sônia disse que iria investir em mim, acho que ficou comovida com minha história de merda. Recusei no início, claro! Não me senti bem em receber dinheiro da mãe de Floribella.
Mas depois de um tempo... Drª Sônia me chamou para conversar, e acabei concordando com seus termos. Ela queria me dar uma certa quantia de dinheiro para que eu tivesse condição de apenas estudar. Sem me preocupar em trabalhar, igual aconteceu durante o ensino médio. E dessa forma consegui fazer cursos de idiomas e pagar o aluguel junto de Eduardo.
Mas o tempo passou, consegui me estabelecer financeiramente, tanto ganhando bolsa na universidade como fazendo alguns trabalhos de freelancer, em jornais e etc. Sempre se precisa de um sociólogo, por incrível que pareça. Trabalhei um tempo como professor de Ensino médio, foi bom, mas não era para mim. Eu queria mesmo era pesquisar. E bom, sou muito bom nisso. Tenho freela em várias empresas e me dá um dinheiro bom. Não preciso mais da ajuda de Sônia. Mas por ser um assunto apenas entre eu e ela, ela prefere que ninguém saiba. Eu também prefiro que Floribella não saiba.
Estaciono o carro em frente a casa de minha então sogra e a ligo. Logo depois ela aparece e abre a porta para mim.
— Meu genro favorito! — ela me abraça. O abraço de Drª Sônia é muito acolhedor. — Quer café? Liliana não está aqui hoje. Está dormindo na república de Dora. — Sônia parecia tão feliz.
— Ela está feliz, né? — digo, enquanto sentava na mesa e dona Sônia trazia uma garrafa de café. — Deixei Flor em seu apartamento, estávamos num bar de gente rica. — digo.
— Ah é? E como foi? — ela sentou ao meu lado e começou a bebericar o café.
— Foi bom. Só me senti deslocado. Mas estou feliz, muito feliz. — sorrio. — Acho que nunca pensei que seria tão feliz nessa vida.
— Fico feliz por você, meu querido. E por fazer minha filha tão feliz. Sempre torci por vocês.
— Eu agradeço por tudo. Mas eu vim falar sobre nosso acordo. — ela concorda com a cabeça. — Acho que não necessito mais, Drª Sônia. Estou conseguindo dinheiro com meus estudos, consegui financiar o carro. E mesmo que eu não vá para Salamanca, consigo Doutorado por aqui e logo serei professor universitário. Agradeço demais pela sua ajuda, de verdade. Mas acho que não será mais preciso. — digo, suspirando. Sônia me encarava surpresa.
— Bom, tudo bem. — ela diz. — Mas ainda resta um dinheiro, eu fiz uma poupança na época que começamos, um investimento, na verdade, pensando em você, meu filho. Liliana e Floribella estão muito bem asseguradas pelo dinheiro que era do pai delas, e com certeza pela fortuna dos Galli. Eu, bom, o dinheiro que eu consegui foi trabalhando, e metade do dinheiro de Juliano veio para mim. Peguei um pouco desse dinheiro de Juliano que era meu e investi. Eu quero te dar esse dinheiro; não é muito, na verdade, mas é seu, Anthony. — ela me olhava sério. — Eu sei que Juliano iria querer isso. Sempre comentávamos em como você era um rapaz bom. Depois da morte dele e de nossa aproximação eu só tive certeza disso. — senti meus olhos encherem de lágrimas. — E eu sei que você será meu genro mesmo.
— Mas Dona Sônia eu...
— Considere isso um último presente antes de você ir para o Doutorado, seja lá onde for. — ela diz e levanta. — Vamos ao meu escritório... e antiga biblioteca de Juliano. — Fui seguindo a mulher negra em minha frente que segurava uma xicara de café em mãos.
Sônia ligou as luzes da enorme biblioteca e sentou-se em uma cadeira de frente a uma grande mesa de madeira. Ela abriu algumas gavetas e me deu uma pasta.
— Aqui estão as informações da conta. Tem 50 mil ai. — me espanto quando ela diz a quantia.
— É muito dinheiro, eu não posso aceitar. — digo, firme, ainda meio choroso.
— Aceite, por favor. — Drª Sônia veio até mim e me olhou nos olhos. E começou a chorar. Fiquei sem saber o que fazer, apenas a acolhi em meus braços, comecei a chorar também. Não sabia o que sentir além de acolhimento. Sônia certamente era minha mãe de alma, mesmo que eu tivesse quase certeza que almas não existem.
FLOR
Paralisei. Não sabia o que fazer, não dava para voltar, o elevador tinha ido pra baixo e até voltar ele já teria me visto. Não tinha para onde correr. Me senti encurralada.
— Flor! — ele me encara, olha em minha direção e abre os braços. Me sinto tensa, como se eu pudesse morrer a qualquer momento. Rafael me olhava com os mesmos olhos de sempre.
— O que você faz aqui? — foi a única coisa que eu consegui dizer, enquanto tentava recobrar meus movimentos.
— Vim te visitar, meu amor. — ele falou, manso. — Calma, eu não vou te fazer mal. — ele se manteve afastado. — Só quero te entregar isso. — noto nas mãos de Rafael uma sacola vermelha, parecia de uma cara joalheria da cidade. Engulo em seco. — Só pelo seu Mestrado, Flor.
— São mais de meia noite, Rafael. — eu digo, tentando não chorar ou não demonstrar desespero. Estava bêbada e com medo.
— Tudo bem, exagerei. — ele balança a cabeça. — Mas por favor, aceite. — ele aponta a sacola em minha direção. Eu a pego, e vou andando até minha porta, Rafael fez o caminho contrário. Acho que ele sabia que eu estava com medo e não quis me assustar. — Eu só quero que saiba que sempre vou apoiar você, Flor. — ele diz. — Mas vou embora, boa noite. — Rafael se vira e aperta o botão do elevador. Por sorte do destino, ele logo veio. Suspirei fundo quando ele entrou, abri minha porta e logo me tranquei. Comecei a respirar ofegante. Acho que nunca tinha me sentido tão assustada na presença de Rafael como hoje.
Abro a sacola e vejo que realmente era uma joia. Um colar que parecia ouro, com um pingente de ametista em formato de flor. Era lindo, mas era algo vindo de Rafael. Vou devolver amanhã.
Pego meu celular e penso em ligar para Anthony, mas decido não fazer isso. Era melhor deixar ele resolver seus problemas, eu deveria resolver os meus problemas sozinha também!
Entro no meu quarto, deixo a sacola em algum canto e tiro minha roupa. Vou em direção ao banho, espero que consiga tirar essa sensação de terror que Rafael me causou.

VOCÊ ESTÁ LENDO
O Sol Pela Janela [EM ANDAMENTO]
RomanceEntre casamento de amigos e dissertações de mestrado, Flor se vê obrigada a assumir uma postura mais responsável diante de seus próprios sentimentos e assumir ao seu melhor amigo colorido e colega de faculdade que é apaixonada por ele: mas essa conf...