Alguns anos atrás.
Já se passavam das duas da manhã. Floribella finalmente dormiu depois de chorar rios. Me parte o coração toda a sua dor. Já fazem alguns meses que seu pai faleceu, está sendo muito difícil para elas, tanto para Flor quanto para sua irmã e sua mãe. Me compadeci com suas dores, sofri muito quando minha querida avozinha foi embora.Mas minha barriga roncava. Estava deitado na cama junto com Floribella, dormíamos de conchinha, não quis acorda-la, mas minha barriga estava gritando. Tentei sair da conchinha sem acorda-la, felizmente consegui. Sai de seu quarto e fui em direção a cozinha, na esperança de encontrar algo para saciar um pouco a minha fome.
Mas ao andar pelo corredor de sua casa que dava acesso dos quartos a cozinha noto que a luz da mesma estava ligada. Me aproximo e vejo Drª Sônia em pé, fumando um charuto e olhando para o nada. Fiquei pensando se eu não devia esperar mais um pouco, deixa-la em paz, mas ela acabou me vendo.
— Anthony, querido. Ainda acordado? — ela retirou o charuto da boca e falou, com sua voz meiga.
— É, Drª Sônia. Estou com um pouco de fome, não quis acordar a Flor, ela finalmente conseguiu dormir e ...
— Não precisa me chamar de Doutora, criatura. — ela me interrompe, rindo fraco. — Sônia está bom. Dona Sônia. Eu prefiro. — ela deposita o charuto em um cinzeiro que estava na mesa de jantar e abriu a geladeira. — Não acredito que Floribella te deixou com fome. Que filha doida é essa que eu tenho? — ela procurava por algo na geladeira.
— Não! Não... Flor me alimentou sim. Quer dizer, ela comprou comida para mim. — dou um riso fraco. — Não me deixou com fome. Mas sou meio esfomeado mesmo. Não precisa se preocupar comigo, eu como qualquer coisa, posso cozinhar também. — levanto-me e me ponho a disposição ao seu lado. Drª Sônia... quer dizer, Dona Sônia me encarou e deu um riso.
— Flor deve gostar muito de você, mesmo. — ela responde e se senta. Eu procuro por algo dentro da geladeira para comer. Depois de tantas semanas habitando nessa casa junto as Silva Galli, já me sentia intimo o suficiente para cozinhar.
— Bom, eu gosto muito dela. — digo, rindo enquanto pegava alguns ovos e verduras para fazer uma omelete. — Sua filha é muito importante para mim, Dona Sônia. — ela sorriu ao me ouvir lhe chamar como gosta.
— Eu sei disso. Você não estaria aqui se não fosse. — ela responde e começa a tragar o charuto novamente.
— Ela se tornou muito essencial para mim em pouquíssimo tempo. — digo, enquanto corto uma cebola. Dona Sônia me observava. — E... me compadeço com suas dores. Quando perdi minha avó foi doeu demais. Ela quem me criou. — digo, suspirando.
— Sinto muito. — Dona Sônia falou, com a voz meio triste. — Você me parece ser um rapaz muito bom. Muito melhor do que Rafael. Me diga, Anthony, porque você e minha filha não estão juntos? — Dona Sônia me questiona e quase me engasgo com o próprio ar. Viro-me para ela e digo meio pesaroso.
— Somos só amigos, Dona Sônia. Eu amo muito sua filha, como minha amiga. — minto. Eu amo Floribella como nunca amei ninguém. Mas claro que eu não falaria disso nunca para ninguém. — E bom, ela parece gostar muito de Rafael. — tento não ranger os dentes de ódio ao pronunciar o nome do filho da puta.
— Ele é um filho da puta. — Olho assustado para Dona Sônia, mas dou um sorriso. Ela tem toda razão. — Não gosto dele. Juliano não gostava dele. — ela diz, tragando o charuto. — Esse maldito charuto me lembra do cheiro dele. E de Cuba. E de todos os momentos lindos que Juliano Galli me proporcionou. –Dona Sônia fala sorrindo. Não parecia estar sofrendo, mas apenas com muitas saudades. —Eu quero que minhas filhas possam ter alguém como eu também tive. Não acho que Rafael seja certo para Floribella. — ela fala. Eu concordo com tudo.
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O Sol Pela Janela [EM ANDAMENTO]
RomanceEntre casamento de amigos e dissertações de mestrado, Flor se vê obrigada a assumir uma postura mais responsável diante de seus próprios sentimentos e assumir ao seu melhor amigo colorido e colega de faculdade que é apaixonada por ele: mas essa conf...