Capítulo 27 (Anthony)

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Acordo me sentindo numa grande ressaca moral. Minha cabeça doía muito, meu corpo também, parecia que um caminhão passou por cima de mim. Vou direto para o banheiro e tomo um banho, será um longo dia estudando. Estava enferrujado no Espanhol, e minha concorrente falava fluentemente, precisava mesmo dar uma boa revisada.

Ligo o chuveiro e automaticamente lembro da voz de Flor falando espanhol, era tão natural como se fosse sua língua materna. Me fascinava. Engulo em seco, não poderia nem ao menos cogitar falar disso agora, precisava me resolver com ela antes, precisava ter certeza que ela estava bem.

Depois do banho vou em direção a cozinha preparar alguma coisa bem rápida para comer, mas me assusto ao encontrar Julia parada na minha sala de estar. Eduardo me olhava com raiva. Não tive reação nenhuma além de perguntar.

— O que aconteceu? — eu sabia o que tinha acontecido. Mas pensei que ela fosse querer espaço, depois do que fiz talvez nunca mais fosse querer olhar pra mim.

— Ela insistiu em falar contigo. Eu disse que não, que ela devia ir embora e... — Eduardo e seu mal humor matinal não estava ajudando.

— Quero conversar, Anthony, estou mais calma agora. Talvez possamos nos resolver e.. — Julia achava que as coisas iriam voltar a ser o que eram. Me doeu entender isso, mas precisava colocar um ponto final nisso, de novo.

— Vai pro meu quarto. Vou só pegar algo para comer. — digo, suspirando. Julia se encaminhou até meu quarto enquanto Eduardo me olhava sem entender.

— Porque? — ele balançava a cabeça e ascendia um cigarro.

—Eu fiz merda, Edu. A culpa é minha. — suspiro fundo. —Tenho que resolver.

— Mas achei que já tivesse resolvido, não? — ele me encarava.

—Eu também achei. — pego um pouco de suco e um pão e vou em direção ao quarto. — Me deseje sorte.

—Muita boa sorte. — Eduardo fala.

Entro no quarto e vejo Julia andando pra lá e pra cá igual na última noite. Acho que realmente não medi a proporção das consequências das minhas atitudes estupidas.

— Julia...

— Tony! — Ela diz ao me ver. — Olha... eu sei o que você me disse, ontem, sei das coisas que eu te falei mas... acho que deveríamos tentar. Quer dizer, existem relacionamentos a distância, certo? — ela parecia nervosa. Me sentia mais culpado ainda.

— Julia. Senta ai. — digo para ela, apontando para a cama. Sento-me na minha cadeira. —É tão cedo, você não dormiu?

— Não. — ela responde. —Não consegui. Passei a noite chorando.

— Julia. Me perdoa. Eu nunca quis isso, nunca quis te fazer tão mal... eu...

— Anthony, eu te amo. — me assusto a ouvir aquilo. Nunca tínhamos falado sobre amor. —Eu te amo muito. Eu faço qualquer coisa por você, por nós! — seus olhos lacrimejavam. Me sentia péssimo.

— Julia, você é boa demais para mim. Eu fui um merda, você sempre foi boa demais pra mim. Mas... mas meu coração tem dona. Eu já disse ontem, achei que tínhamos nos resolvido sobre isso... olha, um relacionamento a distância só magoaria os dois, somos jovens ainda, você é muito jovem. Eu não quero atrapalhar tua vida prendendo você a mim que estarei longe. E ainda assim... eu não nutro sentimentos na mesma intensidade que você. Eu tentei, eu realmente tentei porque parecia o certo. Você sempre me ofereceu muito amor. Eu sei disso. — Nessa altura do campeonato eu já estava na cama ao lado dela, que estava aos prantos novamente. —Mas isso é muito injusto, com você e comigo. Você vai encontrar alguém muito melhor que eu, Julia.

— Mas eu não quero ninguém que não seja você, Anthony! — ela diz, me olhando nos olhos. — Todos esses anos, eu sempre tive certeza de que era você o amor da minha vida.

— Eu tenho culpa nisso, achei que pudéssemos dar certo mesmo. Mas eu nunca achei que você sentisse tanta coisa por mim. — digo, suspirando. —Eu não tenho como corresponder a esses sentimentos, Julinha. Me desculpa por tudo, mas você precisa ir embora, você não pode ser refém desse sentimento por mim, você não precisa se machucar mais ainda. Já machucou demais Julia, eu sei disso. Você não merece isso. — ela chorava e eu acabei chorando também.

— Eu te amo. — ela disse, e tentou me beijar. Me assustei e consegui segura-la. Olhei assustado para Julia.

— Julia, não! Por favor, não torne mais difícil do que já está sendo. — digo, segurando seu corpo longo do meu. — Por favor.

— O que eu tenho que fazer, me diz! O que eu preciso fazer para que você me escolha em vez dela? — Julia aponta para uma foto no meu mural. Era uma foto minha com Flor e Jairo. Engulo em seco.

— Julia, não é essa a questão! Para de achar que a situação se resume a Floribella!!! — perdi minha paciência.

— Mas é claro que se resume a ela! Foi só ela aparecer que você mudou completamente! E eu aceitei tudo porque realmente achava que em algum momento você me olharia como me olhava antes... — Julia gritava e chorava. Ainda era tão cedo.

— Julia! Entenda. Eu. Amo. Floribella. — Segurei Julia para que ela me olhasse. — Isso é um fato. Ela é a dona do meu coração. Eu não posso ficar com você porque eu a amo. Demorei para entender que não posso me relacionar com ninguém enquanto isso durar. Mas eu a amo, muito. Não posso te oferecer amor porque o meu amor é todo dela! Eu tentei te falar, tentei explicar que não dá mais, é para o teu bem, para o meu bem. — Julia me olhava consternada.

— Eu sei que você ama. Eu soube no momento que você falou dela pela primeira vez. Mas achei que o que você sentia por mim fosse maior. Estava completamente enganada. — Julia me encarava com ódio. Eu não tiro sua razão. —Você me decepcionou, Anthony.

— Eu sei. Eu fui um merda. Não tiro sua razão se quiser me odiar. — suspiro. Julia levanta-se.

—Mas você está sendo burro. Floribella não é pra você. — Julia diz e me deixa um pouco confuso. —Você sabe. Vou embora. — Julia sai do meu quarto e vou atrás dela, mas vejo que a mesma já saiu do apartamento. Me encosto na parede, tentando assimilar o que acabou de acontecer. Eu mereço toda a raiva de Julia, mas porque não mereço Floribella? Certo que Flor é uma mulher muito superior a mim em todos os quesitos. Talvez seja isso, talvez até Julia saiba que Floribella é impossível para mim. Suspiro e vou em direção ao meu quarto, onde meu café da manhã ainda estava intocado. Minha cabeça doía demais, muito sentimento. Olho para a foto que Julia apontou, dou um sorriso. Esse foi um dia muito bom. Eu, Jairo e Flor tínhamos ido ao cinema depois da aula, éramos tão jovenzinhos, bons tempos que já não voltam. Decido manter minha atenção em estudar e me alimentar por hora. Mas pretendia falar com Flor o mais breve possível. 

O Sol Pela Janela [EM ANDAMENTO]Onde histórias criam vida. Descubra agora