Os olhos de Paulina voaram de mim para meus companheiros enquanto ela vomitava informações e eu tentava processá-las. O sentimento de urgência tornava-se cada vez mais crescente.
— E os outros?! Alguém foi baleado? Melissa e Mei?! — minhas perguntas foram pontuadas pelos baques ocos da barra de ferro de Alex, que continha os zumbis que se aproximavam.
— Melissa estava viva, mas nos separamos! Ela correu para dentro da escola quando teve uma brecha e sua cachorra a seguiu — era desesperador ver as lágrimas brilhando nos olhos de Paulina — Esses caras chegaram derrubando o portão com um dos carros, atraíram zumbis e tudo virou um caos! Gustavo que iniciou o tiroteio. Ele já estava ferido e acho que foi baleado. Um dos garotos pequenos também e Irmã Graça foi atacada por um zumbi. Ivete também tomou bala, mas conseguimos fugir.
— Meu Deus — a voz de Carol estava trêmula, mas quando Guilherme ofereceu apoio, ela negou e se aproximou de Paulina — Meu filho e meu marido, você os viu?!
— Estavam dentro do colégio, na parte onde Valentino improvisou um consultório... Acho que Melissa foi atrás deles. Eu, Elisa e Ivete estávamos na parte mais afastada do pátio. Conseguimos fugir, mas Ivete está mal. Encontrei Laura sozinha na rua abraçada em um dos cachorros, também está com a gente.
— Onde elas estão? — Perguntei, meu questionamento se sobrepondo às perguntas que meus colegas também fizeram.
— Nos escondemos em uma casa aqui perto porque Ivete não conseguia correr — então ela puxou meu braço — é melhor irmos para lá. Esses caras estão rondando as ruas, provavelmente atrás de quem fugiu, não é bom ficarmos aqui.
Com as batidas de Alex nos zumbis que se aproximavam, outros eram atraídos pelo som e logo um grupo considerável mudara seu trajeto e vinha em nossa direção. Olhei para meu grupo, buscando ler suas expressões. A testa suada de Alex estava franzida, mas quando seus olhos encontraram os meus, assentiu e entendi que concordava em seguir Paulina.
A ex-professora nos guiou até a última casa do quarteirão, uma construção humilde que parecia ter sido abandonada às pressas. O portão principal estava arrombado e entramos rápido. Ajudei Alex e Guilherme a darem conta dos zumbis mais próximos, na esperança de que não atraíssem mais e bloqueassem nossa saída — mas caso o fizessem, o muro era baixo o suficiente para pular, como tive o cuidado de observar.
Ao abrir a porta da casa logo avisei Ivete deitada no sofá. Sua pele escura estava quase acinzentada devido à palidez, o rosto escorrendo gotas de suor enquanto se esforçava para não perder a consciência. Elisa estava ajoelhada no chão, o rosto também coberto de suor enquanto mantinha uma toalha de rosto pressionada na barriga da mãe de Leonardo, tentando estancar o sangue que já manchava suas mãos e roupa.
— Com licença — para a minha surpresa, a reação de Victória foi quase imediata, ajoelhando-se ao lado de Elisa e tomando seu lugar pressionando o machucado — deixe eu ver como está.
Os olhos da mulher grávida estavam carregados de confusão, até encontrar o meu rosto. Um sorriso cansado se desenhou e adiantei-me para dar-lhe um abraço e oferecer apoio para se levantar enquanto Guilherme e Alexandre fechavam o portão de ferro e entravam na casa. O homem mais velho arfava, mas Guilherme quem parecia verdadeiramente exausto, incapaz de ocultar a expressão de dor quando colocou a mão sobre o lugar onde ficava sua cicatriz.
— Demos conta de quase todos. Um alarme disparou umas ruas para lá e o resto se dispersou, acho que estamos bem. Não vi nenhum outro humano na rua. — Alex informou, apoiando a barra de ferro na parede. Uma alça improvisada com tecidos rodeava seu ombro e mantinha o fuzil até então intocado perto do seu corpo.
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Em Desespero
HorrorLIVRO 2. O mundo como conhecia está destruído e Rebeca vaga pelos seus escombros. Após encarar a morte de frente, encontrar novas pessoas por quem lutar e um lar para proteger, finalmente achava que tinha aprendido a lidar com aquele mundo. Porém o...