Olhei pela quarta vez nos últimos dez minutos para o relógio de pulso, incapaz de conter a ansiedade. Mas não sabia se queria que a fatídica hora finalmente chegasse ou se tinha esperança de que o tempo desistisse de passar e nunca precisássemos arriscar tudo.
16:52.
Senti as gotas frias de chuva e desejei estar mais coberta. Ao invés da minha jaqueta de couro, usava a blusa de flanelas de Alana, que podia ser o suficiente atrás das paredes do condomínio, mas era inútil para aplacar o frio daquele fim de tarde gelado. As nuvens escuras encobriram a pouca luz que restava, dando a impressão de que já anoitecera completamente. Se por um lado prejudicavam uma parte do nosso plano, por outro podiam ser um golpe de sorte com potencial de mudar tudo, como Leonardo apontou.
Observei-o, sentado atrás do volante, conferindo os detalhes finais de nossa parte do plano. Assim que nos encontramos com o resto do grupo, iniciamos a preparação: dividimos e escondemos os botijões de gás embebedados de gasolina; reorganizamo-nos (e agora somente eu e Leonardo estávamos juntos; eu para agir, ele para me cobrir, pois Guilherme não era o melhor para executar essa função); troquei minhas roupas com Alana; buscamos mais veículos funcionais e combinamos a comunicação e os horários. Agora eu e Leo estávamos posicionados em uma rua próxima aos fundos da concessionária e Paulina, Guilherme, Alana, Victória e Adão (como refém) também contavam os minutos para agir, em frente à entrada envidraçada do local.
Depois de poucos minutos, senti o walkie talkie no meu bolso vibrar e a voz de Guilherme veio alta e clara sob a chuva forte:
— Prontos. Só esperar — falou e adicionou depois de alguns segundos, com uma voz que denunciava um sorriso: — Câmbio.
Sorri. Sabia que Guilherme estava ansioso para usar os walkie talkies. Depois de pegarmos o de Adão, estávamos com um total de três: um comigo, um com Leonardo e outro com o Guilherme, que não precisaria se separar do resto do grupo. Agora estavam sintonizados em um canal diferente.
— Nós também estamos prontos — respondi — por favor não falem mais por aqui, deixem para que eu possa me comunicar com o Leo — pedi, mesmo que eles já soubessem. Se alguém falasse algo enquanto eu estivesse lá dentro, estaria fodida.
— E o câmbio, Rebeca?
Revirei os olhos.
— Câmbio. Desligo.
Olhei para o relógio, mordendo o lábio inferior. Mesmo não querendo demonstrar, meu coração parecia próximo de explodir de tão veloz que batia. 16:56.
— Preparada? — Leonardo chamou a minha atenção, rodeando a van para ficar ao meu lado na chuva. Estava com um dos fuzis preso ao seu corpo pela bandoleira, segurando o longo machado preto em uma das mãos e o que parecia uma toalha enrolada na outra.
Um raio iluminou o céu e contei os segundos. O trovão estourou. Cinco.
— Sim. Já vou indo — e estiquei a mão para ele.
Leonardo assentiu e me estendeu primeiro seu machado.
— Entendeu como tem que fazer, né? É para ser mais fácil do que um chute, mas precisa ser forte e preciso.
Sinalizei que sim com a cabeça enquanto encaixava-o no coldre que eu usava, sentindo seu cabo passar o meu joelho. Não era o ideal, mas ele não seria a minha arma principal.
Leonardo me estendeu a toalha enrolada e peguei o revólver pelo cabo. Estava carregada com três balas, mas provavelmente eu só conseguiria atirar uma vez com aquele silenciador improvisado, que talvez trancasse o tambor após o tiro. O garoto ex-militar quem teve aquela ideia, mostrou-me como fazer para diminuir o estampido (mas ainda explicou que o som seria considerável), o jeito certo de arrombar uma porta com o machado, além de bolar grande parte daquele plano.
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Em Desespero
HorrorLIVRO 2. O mundo como conhecia está destruído e Rebeca vaga pelos seus escombros. Após encarar a morte de frente, encontrar novas pessoas por quem lutar e um lar para proteger, finalmente achava que tinha aprendido a lidar com aquele mundo. Porém o...