Capítulo 11.

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— Tem certeza que você vai conseguir com esse machucado, amiga? — Melissa olhou para a grande quantidade de gaze que cobria o machucado que ocupava toda a minha omoplata e ombros. Naquela manhã estavam sujas de sangue e precisei trocá-las: o machucado era amplo e feio, mas ainda assim superficial o suficiente.

— Já falei, não precisa se preocupar — respondi, terminando de prender o coldre na cintura, encaixando nele o facão.

Eu e Melissa estávamos prontas, agora que pudemos trocar nossas roupas bestas dos últimos dias por jeans grossos que Paulina e Elisa nos emprestaram. Também estávamos armadas com um pé de cabra e dois pedaços grandes de madeira que pareciam bastões de beisebol, além de facões que Gustavo tinha para emprestar.

— Olha só, isso é loucura. — Ouvi Ivete, falando atrás de nós. Praticamente todos estávamos reunidos no pátio do colégio para uma despedida e desejos de boa sorte. — São crianças tão magrinhas, é perigoso demais se jogar no meio desses monstros... Deviam deixar Leonardo ou Celso irem junto!

— Mãe, eles já falaram que não precisa — Leonardo revirou os olhos, mas falou educadamente. Era divertido ver que mesmo com sua aparência de badboy, era calmo e delicado com a mãe.

Naquela manhã houve uma rápida discussão sobre o que eu, Melissa e Tom havíamos debatido mais cedo: quando propus a idéia de buscar comida para eles, descobri que os dois já haviam decidido naquela tarde que deveriam fazer aquele favor. Não contavam que mesmo machucada eu quisesse participar, mas no fim consegui convencê-los de que a dor não era o suficiente para me incapacitar.

A princípio as pessoas do colégio ficaram incrédulas, principalmente Ivete e Irmã Graça, quando explicamos que sairíamos para buscar coisas para ajudá-los. Recusas educadas duraram pouco, porque a verdade era que não estavam em posição de negar aquele tipo de ajuda: seu estoque de comida estava perigosamente baixo e somente sua plantação não era o suficiente para mantê-los.

Conforme combinado entre eles, Celso havia saído na tarde de ontem para reunir comida, sendo ele a única pessoa que costumava ir mais longe do que algumas quadras. Nos explicaram ele insistia para fazer aquele tipo de trabalho sozinho e passava algumas noites fora, e mesmo assim a comida que trazia ainda era o suficiente somente para poucos dias.

Sob o sol fraco, vi Tom do outro lado da rua fazendo um sinal para mim e Melissa. Dissemos que ele daria uma ronda pelas ruas em busca de um carro em bom estado para usarmos, mas na verdade havia ido discretamente até Hector avisar o que estávamos prestes a fazer e pedir informações sobre o mercado que ele comentara que vira com Alex quando chegamos naquela cidade.

Insistimos que fossemos só nós três, mesmo que Paulina e Leonardo houvessem se oferecido insistentemente. Apesar de ajuda ser sempre bem-vinda, era um risco que preferíamos não correr: ninguém esperava que alguma tragédia iria acontecer, mas caso ocorresse e algo acontecesse com alguém que não fosse do nosso grupo, poderia gerar desconfiança.

— Que Deus abençoe vocês, façam uma viagem segura e não se exponham a riscos! — A Irmã abraçou cada uma de nós, fazendo uma prece. — Agradecemos do fundo de nossos corações pelo ato de bondade que estão oferecendo.

— Não matem todos os zumbis daqui, se não vai ficar sem graça para nós — Leonardo brincou. Sua mãe deu-lhe um tapa no ombro.

Paulina, com sua atitude dura de sempre, somente nos deu um aceno de cabeça como despedida.

Quando nos reunimos com Tom, informou-nos que Hector havia passado as informações de um mercado grande que parecia intacto mais ao centro da cidade. Ele entendeu nossa escolha de ajudar o grupo da escola e, para não arriscar que fossemos vistos juntos, permaneceria escondido naquele dia também.

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