A tontura veio implacável como um soco quando me levantei, obrigando-me a apoiar na mesa do refeitório para não despencar no chão. Franzi a testa, porque a enxaqueca também se fez presente.
— Rebeca, tudo bem? — ouvi a voz de Victória, mas não tive forças para erguer o olhar para ela. Tudo estaria embaçado e faria minha cabeça doer ainda mais, de qualquer jeito.
Tentei responder, mas nesses momentos até falar se tornava difícil. Ouvi a pequena comoção que causei, chamando a atenção das poucas pessoas que estavam no refeitório, organizando planos e mantimentos. Victória e Paulina haviam chegado naquela manhã e Antônio, o antigo membro do grupo de Klaus que o traíra para nos ajudar, estava melhor, por isso houve muito a pensar e fazer.
Conforme combinado, a cada dois dias revezaríamos as pessoas que estavam no hospital para conseguirmos manter um fluxo constante de notícias e podermos levar de volta aqueles que já haviam se recuperado. Tom estava fora de risco, mas sua perna quebrada ainda era um impedimento muito significativo e que precisava de atenção de especialistas; O estado de Alex já não era mais grave, mas o ferimento de bala abaixo do peito foi sério o suficiente para ainda exigir repouso — era uma sorte absurda não ter perfurado nenhum órgão; As queimaduras de Celso, assim como as minhas, estavam sendo tratadas, mas como ferimentos delicados demais para um apocalipse, o ideal era esperarmos cicatrizar totalmente para evitar infecções; e Antônio, que recebera um corte de faca no pescoço enquanto lutava pelo nosso grupo, já foi suturado e recebeu "alta".
Celso e Antônio ainda eram um problema que eu sequer queria pensar. Independente de seus motivos ou das ameaças que sofreram, era inegável que estiveram no grupo de Klaus e se calaram diante de outro ataques como os que sofremos. Tentei conversar com Tom, mas imediatamente mudei de assunto ao perceber o quão perturbado ele ficou... E somente ver como Alex ainda estava extremamente abalado fisicamente foi o suficiente para me impedir de discutir com ele. Paulina ficou perturbada com a descoberta de que se tratava de um grupo de neonazistas (todos nós, claro, mas ela estava visivelmente mais afetada) e não estava sequer disposta a dividir a sala com os homens que, por qualquer motivo que fosse, estiveram naquele grupo. Leonardo, apesar de igualmente ofendido com a situação, ressaltou que naquele momento o nosso condomínio estava mais vulnerável do que nunca e havia alguma vantagem de ter mais duas pessoas capazes de se armar para defendê-lo.
A participação de Antônio também foi essencial para conseguirmos acabar com o grupo de Klaus e o único motivo pelo qual que estava viva foi o auxílio que Celso me deu, colocando sua vida em risco (e pagando com a vida da sua irmã). Estava exercitando o pedido final de Alana para não me martirizar, mas era impossível pensar que o fim de Mariana esteve diretamente ligado à minha fuga — mesmo que tivesse sido o necessário para que Celso pudesse rever a filha.
A princípio decidimos levar Antônio para o condomínio, para o desagrado de Paulina, até podermos nos reunir para um debate oficial. Victória antecedeu o problema e nos trouxe o relato de Bruna e Darlene, que entendiam nossa insegurança e qualquer que fosse o posicionamento final, mas asseguravam que mesmo dentro do grupo de Klaus, haviam aqueles que compartilhavam das ideias supremacistas e violentas e os que claramente não tinham escolha — Celso e Antônio estavam no segundo grupo. Também havia o problema de que Elisa estava grávida (e era uma surpresa não ter perdido o bebê com todo aquele estresse) e agora nosso grupo contava com duas novas crianças (Laura, de 7 anos e Caio, de 11, atualmente aos cuidados de Carol) e mais dois cachorros. Mei detestava outros cachorros, que era um dos motivos que obrigou Melissa, quem melhor lidava com ela fora eu e Guilherme, a ficar lá para controlar o possível caos. Sendo assim, além da minha melhor amiga, contávamos apenas com Bruna e Darlene para fazerem a segurança da casa. Para melhorar tudo, as constantes idas e vindas desses últimos dias atraíram zumbis para lá também.
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Em Desespero
HorrorLIVRO 2. O mundo como conhecia está destruído e Rebeca vaga pelos seus escombros. Após encarar a morte de frente, encontrar novas pessoas por quem lutar e um lar para proteger, finalmente achava que tinha aprendido a lidar com aquele mundo. Porém o...