O rosto de Alana surgiu por trás da janela da casa principal, mas assim que seus olhos claros caíram em cima do nosso HB20, consegui distinguir um sorriso, mesmo de longe. Melissa passou o braço pela janela para acenar, mas Alana já havia saído de nosso campo de visão, provavelmente correndo escada abaixo para avisar os outros.
— Achei que ela não iria nos reconhecer de novo. — Melissa riu baixinho, lembrando da semana anterior, quando havíamos largado aquele Ônix velho na estrada depois de achar o HB20 inteiro e com a chave no bolso do motorista (que em sua pós-vida concordou em nos ceder o carro). Assim como naquele dia, Alana foi a primeira a ver o carro, mas colocou todo mundo em alerta falando que um veículo desconhecido estava se aproximando. Quando saímos do carro, fomos recepcionadas pela pistola de Tom.
Dessa vez vimos o portão principal abrir para nos receber, com quase todos os nossos colegas nos esperando do lado de dentro. Mei batia as patas no porta-malas, ansiosa ao reconhecer sua casa. Um latido grosso e ensurdecedor ecoou no carro como um tiro, e se Melissa já não estivesse acordada, provavelmente responderia com um berro estridente.
— E aí — apoiei o braço para fora da janela assim que estacionamos. — Algum dos colonos sabe se tem algum posto de gasolina por perto?
Queria que Hector estivesse ali para rir da minha piada ruim, mas não havia sinal dele. Mesmo assim, os sorrisos de Carol e Tom já me deixaram feliz.
— Bem-vindas, garotas. — Tom me cumprimentou com um abraço assim que saí.
— Eu já estava ficando nervosa! — Carol me puxou para um abraço energético. Com o canto do olho vi como Mei me olhava desolada, ainda presa dentro do carro. — Eu odeio que vocês meninas saiam sozinhas assim em um mundo como esse...
— Carol, que bobeira. Os zumbis que ficam com medo delas. — Tom respondeu, animado.
Ouvi o porta-malas sendo aberto, e agradeci mentalmente à Melissa. Em instantes os 45kg de Pastor Alemão estava pulando em cada pessoa e indiscretamente enfiando o focinho em cada virilha que aparecesse. Por sorte todo mundo já estava acostumado com Mei, e parecia igualmente alegre em vê-la. Quando soltou um latido de puro êxtase, precisei repreendê-la.
— Hector e Alex? — Perguntei para ninguém especial, recebendo abraços de Alana e Victória. Samuel também estava lá, sorrindo, mas não se aproximou para um abraço, naturalmente.
— Ainda não voltaram, mas eles saíram um dia depois de vocês, então tem tempo ainda. — Victória quem respondeu.
— Ai, ai, Mei! — Uma voz familiar chamou minha atenção e virei a cabeça na direção de Guilherme, em quem Mei estava atirando-se alegremente. Guilherme tinha dificuldade de afastá-la ou sequer de impedir seus pulos grosseiros com o braço ruim. — Eu também... Ai! To com saudades.
— Mei, não! — Chamei, e Mei parou de tentar pular em Guilherme, me olhando com as orelhas baixas. — Junto.
Enquanto minha cachorra se dirigia para o meu lado, Guilherme parecia um pouco envergonhado, mas me deu um sorriso sincero:
— Que bom que vocês voltaram bem!
Sorri de volta, e percebi o olhar julgador de Melissa. Assegurei para ela que as coisas com Guilherme não passavam de desentendimentos pífios (o que, olhando de maneira racional, não era mentira), mas ela parecia atenta como um falcão.
— Obrigada, Guilherme. — Ela respondeu por mim.
— Deram sorte, meninas? — Carol perguntou, distraindo-nos.
— Ah, claro, demos sim! — Respondi, agradecendo Carol mentalmente por evitar que o clima ficasse incômodo. — Não achamos tanta comida quanto da outra vez, mas olhem só. Melissa, me ajuda a descarregar! — Abri a porta traseira do carro e começamos a descarregar as 5 grandes caixas recheadas de mantimentos.
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Em Desespero
HorrorLIVRO 2. O mundo como conhecia está destruído e Rebeca vaga pelos seus escombros. Após encarar a morte de frente, encontrar novas pessoas por quem lutar e um lar para proteger, finalmente achava que tinha aprendido a lidar com aquele mundo. Porém o...