Capítulo 38.

4.1K 886 1K
                                    

Quando o homem que eu supunha ser Antônio não parou de andar, ouvi barulhos de travas sendo liberadas e em segundos os dois fuzis, pistolas e o revólver estavam apontados para ele, obrigando-o assim a não se aproximar mais.

— Rebeca — Leonardo me chamou, o fuzil em punho apontando para frente, sem me olhar nos olhos — Conhece esse cara?

— É um dos homens de Klaus — encarei-o pela mira da minha própria pistola, sentindo o corpo suar. Simplesmente olhar para ele fazia meu coração doer, lembrando da tentativa de fuga iniciada por Hector, que o levou ao pior dos destinos.

— Calma, eu era! — Antônio disse, erguendo ainda mais os braços, para enfatizar como vinha em paz. Era um homem baixo e corpulento, com fios brancos começando a aparecer por entre os cabelos. Seus olhos arregalados e suor escorrendo pela testa denunciavam como estava tenso, mas mesmo assim não parecia disposto a desistir de se aproximar — Não compactuo mais com essas loucuras do Klaus.

— Então dê meia volta e vá embora — sibilei.

Ele foi um dos homens envolvidos no tiroteio que Hector começou quando tentamos fugir, e terminou subjugado junto com o colega machucado, Kleber. Meu sangue fervia conforme as lembranças voltavam à mente. Naquela época eu não tive a coragem de realizar uma execução, e Joana alegou que aqueles homens não eram tão ruins, não tocavam nelas... Mas percebemos tarde demais que mesmo sob a mira de uma arma, conseguiu mandar uma mensagem que somente Klaus entendeu, dando a ele a oportunidade de armar a emboscada.

Ficou difícil manter a mira quando minha mão começou a tremer, mas não de medo. Klaus já desconfiava que algo estava errado e nos esperava do lado de fora, mas... Eu queria enfiar uma bala na cabeça daquele homem, como se dessa maneira aquilo trouxesse Hector de volta.

— Rebeca, eu... — e para minha surpresa, Antônio se moveu, esfregando o rosto suado com a palma da mão, nervoso — Escuta, não era para as coisas terem acontecido daquela maneira...

— Gente — Melissa o cortou, chamando a atenção — Tá começando a vir mais zumbi.

— Os tiros — Paulina rosnou.

— Conseguem cuidar disso? — Leonardo perguntou, sem tirar os olhos do homem a vários passos à nossa frente.

— Sim — Paulina respondeu e saiu da minha linha de visão.

Guilherme e Melissa também se afastaram do grupo e, junto com Alex, Leonardo e Victória, eu mantive meus olhos vidrados em Antônio, assim como as miras de nossas armas. Logo barulhos de golpes e gemidos de esforço chegaram até nós. Os rosnados estavam ficando mais numerosos, e considerando o tiroteio que acontecia desde cedo, mais continuariam vindo.

— Eu... — Antônio continuou, vendo que terminamos de nos organizar — Sinto muito pelo que aconteceu com você — ele deu mais um passo à frente, e Alex imitou o movimento, gritando para que ele parasse — Eu não... Ninguém achou que Klaus iria tão longe! Aquele homem sempre foi louco, mas eu não sabia que...

— Você nos entregou! — gritei, ouvindo um baque surdo perto de mim. Paulina derrubou um zumbi e Guilherme o finalizou no chão — A culpa do que aconteceu foi sua!

— Você sabe que Klaus já estava lá! — Antônio respondeu, a voz alta de nervosismo — Eu... Me desculpe, não tive escolha! Quando Marcelo não respondeu, Klaus já sabia que havia algo errado. Ele iria nos torturar se não fizéssemos nada para tentar avisá-lo também. A gente só não tinha nenhuma perspectiva de ir contra ele antes, mas agora... Eu quero ajudar vocês!

— Rebeca, ele está armado — Victória chamou a minha atenção para o coldre em sua cintura com uma pistola.

— Mas ele não tem nada a ganhar vindo aqui. Podia ter feito como Rebeca disse e só ter ido embora — Alex apontou.

Em DesesperoOnde histórias criam vida. Descubra agora