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Capítulo 1

Violet

— Esta é uma das razões pelas quais somos um colégio tão grandioso e com taxas de sucesso tão elevadas. — Quase rolei os olhos ao ouvir o discurso ridículo do diretor. Aquele discurso era ridículo, e aquele colégio era uma porcaria. — Queria dar os meus sinceros parabéns à equipa de rugby, mais precisamente ao nosso capitão, que incentivou sempre a equipa a querer mais! Uma salva de palmas para o Tate Langdon!

Quase estremeci ao ouvir o nome dele. Quase todos ali gozavam comigo, mas o Tate era quem mais me incomodava. Por isso, mal o meu olhar cruzou o seu, desviei o olhar e saí do meio da multidão. Estava quase a tocar para a primeira aula e eu não queria chegar atrasada. Além disso, estava farta de ouvir o diretor.

Passei rapidamente pelos cacifos para guardar alguns livros e aliviar o peso da minha mochila. Acabei por me cruzar com o Michael, uma das poucas pessoas dali que me dirigia a palavra de vez em quando e que não gozava comigo.

— Outro discurso poético no meio do átrio da escola? — Ele perguntou, abrindo também o seu cacifo e arrumando alguns materiais. Eu ri, concordando.

— Claro. "Somos um colégio tão grandioso". — Fiz uma voz esquisita ao tentar imitar o sotaque do diretor Mark, e ele riu.

— Ridículo. — Fechou o cacifo, colocando novamente a mochila às costas. — A aula de inglês chama-me. Vejo-te por aí.

— Claro. — Sorri, vendo-o ir embora. Era bom ter alguém que falasse connosco às vezes. Embora eu e ele só falassemos às vezes, era bom saber que não era invisível para todos.

Quer dizer, eu não era propriamente invisível. Mas quando as pessoas não me estavam a ignorar, estavam a gozar comigo. Portanto ser invisível parecia-me bom. O Michael era uma boa pessoa. Isso era bom.

Suspirei ao ouvir o toque de entrada e caminhei para a sala. Pela movimentação do corredor pude perceber que o diretor Mark já tinha libertado as pessoas. Podia ser que tivesse ficado com o Tate e com a equipa para conversarem por causa da vitória. Isso seria ótimo. Menos umas quantas pessoas para me fazerem a vida num inferno, e principalmente sem o Tate. Esperava que assim fosse.

O corredor foi enchendo e eu fui ficando cada vez mais nervosa. Odiava estar assim no meio de tanta gente. Não me sentia nada segura, era angustiante.

Senti várias pessoas irem contra mim e alguns dos meus livros caíram. Não consegui identificar bem quem era, mas o responsável simplesmente seguiu a sua vida como se nada tivesse acontecido. Bufei. Era mesmo invisível.

Apanhei os meus pertences e acelerei para a sala, recebendo mais alguns encontrões pelo caminho. Ao chegar ao meu destino, gemi de frustração ao perceber que a sala já estava quase cheia de estudantes.

Avistei o Tate com alguns rapazes da equipa ao fundo da sala, sentado em cima de uma mesa e encostado à parede. Ele pareceu não notar a minha presença e eu agradeci mentalmente por isso, baixando a cabeça e caminhando até à minha mesa. Eu sentava-me na fila da frente porque era a fila mais sossegada normalmente.

Pousei a mochila em cima da mesa e, quando estava prestes a sentar-me, alguém me tirou a cadeira e eu caí desamparada no chão. Tentei ainda agarrar-me à mesa, mas foi tudo tão repentino que levei a mesa comigo, causando um estrondo enorme. Gemi de dor e ouvi um coro de gargalhadas rebentar ao meu redor. A Madison era a que mais ria, e eu tive quase a certeza de que tinha sido ela a armar aquilo tudo.

— O que se passa aqui? — A professora de Biologia tinha acabado de chegar e eu segurei as lágrimas. Sentia-me humilhada. Irritada. Queria desaparecer só.

O coro de gargalhadas diminuiu, mas não cessou completamente.

— Acho que ela caiu. — O Tate disse calmamente, olhando para mim com desprezo. Ele continuava em cima da mesa e riu. Corei ao perceber que eu estava ainda no chão, encurralada entre a mesa e o piso. A minha sorte é que aquelas mesas eram leves.

— Está tudo bem, Violet? — A professora dirigiu-se a mim e eu murmurei um 'sim' baixo. — Tate, sai de cima da mesa e ajuda a tua colega.

— Ah, por favor. — Ele levantou-se e apenas se sentou na própria cadeira. — Ela sabe levantar-se sozinha.

Nais alguns alunos riram, e a professora apenas colocou ordem na sala, ordenando que todos se falassem e se sentasse sossegados nos lugares. Eu segurei o choro e ergui a mesa, arrumando as coisas e sentado-me.

— Violet, queres ir à enfermaria?

— Sim, por favor.

Ela deu-me ordem de saída e eu corri para a casa de banho, onde me tranquei e chorei a minha humilhação durante alguns minutos. Eu era uma falhada. Queria desapacer só.

Toxic - Tate LangdonOnde histórias criam vida. Descubra agora