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Capítulo 19

Violet

Passaram alguns dias desde que o diretor nos mandou fazer o trabalho, portando os meus encontros com o Tate passaram a ser inevitáveis. Já nos tínhamos encontrado duas vezes para discutir ideias, e eu tentei ao máximo não me aproximar muito dele. No entanto, não podia negar o que sentia perto dele. Eu sentia-me nervosa acima de tudo. Curiosamente não tinha medo de estar na companhia dele.

– Que achas? Precisávamos apenas de comprar os materiais e fazíamos a maquete numa tarde. – Ele sugeriu com um sorriso simpático no rosto.

– Sim, acho uma boa ideia. – Concordei. – Mas temos aqui as bases, podemos começar a pintar.

Tínhamos decidido fazer uma maquete sobre bullying para expor nos corredores da escola, assim como vários cartazes.

– Claro. – Ele sorriu mais abertamente e eu desviei o olhar do dele, envergonhada.

– Eu vou buscar as tintas então.

Aproveitei o pretexto para sair um pouco da beira dele. Tinha que colocar a cabeça em ordem, não me podia esquecer do facto de que quase tinha morrido por causa dele, e também de que ele bateu no Michael e o ameaçou e ainda era um drogado que a qualquer momento podia voltar a humilhar-me.

Peguei em alguns tubos com tinta e pincéis da biblioteca e voltei para a sala de aula, onde estávamos a trabalhar sozinhos. Tal como disse, não tinha medo dele. Mas sabia que a funcionária do corredor estava alerta caso eu berrasse. Cumprimentei-a com um sorriso antes de voltar a entrar na sala.

O Tate estava a baloiçar-se na cadeira, mas logo parou e colocou-se numa postura séria quando me viu, batendo nervosamente com o pé no chão.

– Estas eram as cores que tinham. Que achas?

– Serve! Bora lá.

Começamos a pegar nas caixas de papelão e começamos a pintar a base de vermelho.

– Porra! – Ele ergueu um pouco a voz, fazendo-me dar um saltinho de susto. – Lá se foi a minha camisola. Que merda de tinta!

Ele ergueu a manga da camisola preta, agora manchada de vermelho, com um olhar de desgosto.

– Pode ser que saia com água. – Sugeri.

Ele suspirou, passando a mão no rosto.

– Deixa estar.

Observei-o dobrar a manga com cuidado para não fazer mais estrago, mas rapidamente a puxou para baixo com violência, arregalando os olhos assustado. Ele foi rápido no movimento, mas não rápido o suficiente. Eu vi os cortes recém feitos. Os tragos vermelhos em contraste com a pele branca. Isso fez o meu coração quebrar e eu queria chorar ali mesmo.

– Tate. Levanta a manga da camisola.

Ele negou com a cabeça.

– Isto não é nada. Não preciso de levantar.

– Sim, precisas. – Aproximei-me dele. Ele tentou recuar, mas eu consegui ser mais rápida e agarrei no seu pulso. – Sobe a manga. Agora.

Ele engoliu em seco, ficando estático. Num movimento rápido, eu levantei a manga da blusa, observando com mais cuidado os cortes. Eram muitos, algumas cicatrizes antigas e muitas recentes, ainda vermelhas vivas.

– Tate... Quando é que fizeste isto?

Ele encolheu os ombros, limpando rapidamente uma lágrima que escorreu. Eu tentei manter-me firme.

– Tate... – Insisti. – Fala comigo, por favor.

– O último foi ontem. – Apontou para o mais recente, perto do antebraço. Esse ainda estava quase em carne viva.

Sem pensar no que estava a fazer, passei ao de leve as pontas dos dedos nas cicatrizes. Ele permaneceu estático a olhar para mim.

– Porquê?..

– Olha para mim. – Franzi o sobrolho quando o ouvi falar. – Eu sou desprezível. Fiz coisas horríveis. Mereço isto.

Neguei rapidamente com a cabeça. Ele tinha sim feito coisas horríveis, mas eu estava de rastos ao ver o que ele fazia a si mesmo. Não o queria ver magoado. Eu gostava mesmo dele. Muito. Amava-o talvez. Apesar de tudo.

– Hey... Olha para mim... – Pedi, e ele olhou-me nos olhos, fazendo um arrepio percorrer a minha espinha. – Eu sei que disse que não te queria ver mais... Mas tenho passado mais tempo contigo e percebi que quero ser tua amiga. Porque toda a gente merece uma segunda chance. Não quero que te magoes.

Ele encolheu os ombros e eu larguei o seu pulso, esticando-me para a mesa e pegando num marcador preto. Peguei novamente no seu braço e desenhei uma borboleta no seu antebraço machucado.

– Eu adoro borboletas. – Comentei enquanto a acabava de desenhar e o via olhar-me boqueaberto com lágrimas nos olhos. – Sempre que fizeres um corte a partir de agora, estarás a magoar-me a mim também.

Soltei finalmente o seu pulso, deixando que ele puxasse a manga e escondesse do mundo os seus cortes e o meu desenho.

– Posso abraçar-te?

Não lhe respondi. Apenas o envolvi nos meus braços sem pensar e deixei que ele chorasse com o rosto enterrado na curva do meu pescoço.

Constance

Observei o rapaz loiro ao longe. O Michael era, de facto, um rapaz encantador. Ao contrário do Tate.

Cada vez menos me arrependia do que tinha feito.

............

N/A: Constance, sempre tão misteriosa ahaha que terá ela feito?

Toxic - Tate LangdonOnde histórias criam vida. Descubra agora