-26-

577 61 3
                                    

Capítulo 26

Vivien Harmon

Estava a ler uma revista quando a campainha da porta me retirou do mundo da leitura. A pessoa insistiu tanto que eu me levantei apressada, atirando a revista à sorta para o sofá.

– Já vai! – Gritei, quase correndo para a porta. Quando abri, surpreendi-me ao ver a mulher loira à minha frente.

– Nora! Olá, querida. – Sorri. – Entra!

– Olá, Vivien. Desculpa aparecer assim, mas eu precisava mesmo de falar com a Violet. É mesmo urgente.

Franzi a festa de preocupação, mas apenas mantive o sorriso.

– Claro. Ela está lá em cima no quarto. Terceira porta à direita.

Violet

As batidas na porta do meu quarto fizeram-me bufar e tirar os auscultadores dos ouvidos. Fechei o livro de álgebra, sentado-me em cima da cama.

– Sim?

A porta abriu-se, revelando a Nora. Fiquei confusa por a ver ali, mas feliz ao mesmo tempo. Ela transmitia paz e harmonia para onde quer que fosse.

– Nora! Olá! – Cumprimentei com um sorriso. – Entre!

Ela cumprimentou-me com um sorriso triste e entrou no meu quarto, fechando a porta atrás de si e sentado-se ao meu lado na cama.

– Aconteceu alguma coisa? – Perguntei, preocupada. Era estranho vê-la ali àquela hora.

Ela não respondeu, apenas encolheu os ombros e eu pude ver algumas lágrimas escorrerem na sua bochecha. Inclinei-me na sua direção, colocando amigavelmente a minha mão nas suas costas.

– Que se passa? – Perguntei.

– Está tudo a desmoronar-se. – Ela soluçou. – Tudo.

– Como assim?

– Eu não sei o que está a acontecer. Está tudo a ir por água abaixo. – Ela repetiu, continuando a chorar. – Violet, eu vi uma coisa.

Cada vez a minha preocupação aumentava mais. O que estava a acontecer?

– O que viu, Nora? Conte-me o que se passa.

Ela respirou fundo, usando um pequeno lenço de pano branco para secar as lágrimas. Finalmente ergueu o olhar e olhou-me.

– Naquele dia... Quando foste... Quando foste lá almoçar. Eu vi uma coisa. – Ela limpou mais uma lágrima que escorreu e respirou fundo. – Eu vi, quando voltava da cozinha, que o Michael estava a deitar alguma coisa no teu copo.

Franzi a testa. Estava assustada. O Michael estava de facto muito diferente, chegava mesmo a ser assustador. Eu estava inclusive chateada com ele por causa da última discussão que tínhamos tido na escola. Ele foi extremamente violento comigo.

– Foi por isso que o entornou? – Agora tudo fazia sentido.

– Sim. Eu pensei ter visto mal, e na altura a minha reação foi impedir-te de beber aquilo por via de dúvidas. Mas nos últimos dias o Michael tem andado muito diferente. – Mais algumas lágrimas surgiram na sua face. Eu estava em choque, sem reação. – Violento. Eu comecei a ver as coisas dele e encontrei isto.

Ela foi ao bolso das calças e retirou uma caixa de medicamentos. Observei-a atentamente.

– Eu pesquisei o nome. Descobri que isso são calmantes fortes. Eu... Eu não sei o que se passa. Ele é o meu menino... Mas ele está tão diferente... – Ela chorou e eu abracei-a.

Eu não conseguia reagir. Ele não queria que eu fosse ter com o Tate nessa tarde, e por isso queria drogar-me para evitar que eu fosse? Isso era doentio, e eu mal queria acreditar que ele o tinha feito. Mas era verdade. A própria mãe dele tinha visto.

– Talvez não tenha sido isso que ele colocou na bebida. – Eu sabia que tinha sido, ela tinha visto e a explicação batia certo. No entanto, ela estava tão frágil que me dava dó. Queria apenas acalmar a pobre mulher.

– Não, Violet. Era isso, de certeza. Eu só... Vim pedir-te para teres cuidado... Ele é o meu bebé, o meu menino, mas está tão diferente... Não é o mesmo rapaz.

– Eu... Eu não sei o que se passa. – Mordi o lábio, nervosa. Não queria chorar.

– Talvez seja melhor se te afastares um pouco dele. Tenho tanto medo do que ele possa fazer. Não tenho dormido nada, estou tão preocupada com ele. – Ela chorou e eu abracei-a.

– Está tudo bem, Nora. Eu afastei-me dele e tenho sempre cuidado. Além disso, ninguém vai saber dos comprimidos. Pelo menos até que a Nora resolva a situação. Precisa de se acalmar primeiro.

Ela sorriu, triste.

– Obrigada minha querida. – Levou a mão até ao meu rosto e acariciou-me.

Ficamos uma boa parte da tarde a conversar no meu quarto. Eu contei-lhe o que tinha acontecido com o Michael e ela mais uma vez aconselhou-me a afastar-me um pouco a ver se a obsessão se curava. Eu odiava aquela situação. Ter que me afastar do meu melhor amigo não era justo, mas era o melhor a fazer. Era o que eu queria fazer.

A meio da nossa conversa, o nome do Tate veio inevitavelmente à tona.

– O Tate é uma boa pessoa, sempre sofreu muito nas mãos da Constance. Ela é má.

– Eu sei. Ele falou-me de si no outro dia. Ele achava que a Nora o odiava.

– Claro que não. – Ela sorriu. – O Tate não tem culpa de nada. Eu inclusive sempre tentei que o pai e o irmão se dessem bem com ele, mas é complicado. O Michael e o Tate nasceram no mesmo dia ainda por cima. As festas de anos sempre foram um pesadelo, o meu marido ficava sempre com o Michael e, apesar dos meus convites, a Constance nunca deixou que o Tate fosse lá a casa passar o aniversário. Isso só fez com que os rapazes crescessem a odiar-se mutuamente. Também tentei que a Constance nos deixasse ir lá, mas ela nunca o permitiu.

– A Constance é uma pessoa muito peculiar. Mesmo cruel eu diria.

– Não imaginas o quanto. – Ela suspirou. – Bem, eu vou andando. Quero ainda ver como está o Michael hoje. Eu dou-te notícias.

Sorri.

– Obrigada por tudo, Nora.

Ela sorriu de volta.

– Tem cuidado contigo, querida.

Toxic - Tate LangdonOnde histórias criam vida. Descubra agora