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Capítulo 23

Tate

Eu sabia que não ia ser fácil conquistar a confiança das pessoas, e muito menos a do pai da Violet, mas eu não ia desistir. Estava tão feliz por poder falar com ela. E abraçá-la era a melhor parte do meu dia. Tudo fazia sentido com ela ali nos meus braços.

Estava tão no meu mundo que atravessei a rua sem ver enquanto olhava para o carro preto do pai da Violet desaparecer no horizonte. A meio da rua uma buzina acordou-me para a vida e com o susto eu caí. Gemi de dor ao sentir a pancada da minha cabeça no cimento e rapidamente me sentei, gemendo e levando a mão à testa, vendo sangue. Que porcaria.

– Ah, meu Deus! – A condutora saiu do carro a correr e veio na minha direção, ajoelhado-se à minha frente. Imadiatamente fiquei desconfortável ao ver a Nora, mãe do Michael. – Está tudo bem?

– Sim, não se preocupe. – Levantei-me rapidamente e ela copiou os meus movimentos. Ver aquela mulher deixava-me nervoso. O facto dela ser mãe do Michael e mulher do meu pai deixava-me muito atrapalhado. Não sabia como agir perto dela.

– Estás a sangrar... – Ela aproximou-se mais uma vez de mim e levou as mãos à minha testa. Eu recuei, evitando o seu toque. Ela pareceu reparar na minha hesitação. – Acho que é melhor irmos ao hospital.

– Não, eu já disse que está tudo bem.

Peguei na minha mochila e virei costas, pronto para sair de lá. Estava envergonhado, não sabia bem explicar o que sentia.

– Tate, espera. – Ela chamou e eu virei-me, olhando-a. Ela estava com um olhar preocupado e simpático ao mesmo tempo. – Não precisas de fugir assim de mim.

– Eu não estou a fugir. – Menti, encolhendo de seguida os ombros e arrumando o cabelo para que ele não tocasse na ferida que ainda sangrava.

– Estás. Mas quero que saibas que está tudo bem, eu não te odeio nem nada do tipo. – Ela riu sem humor, permanecendo depois com um sorriso simpático na cara. – És o único no meio desta história toda que não tem culpa. Não pedolieste para nascer.

Não sabia ao certo o que responder, então apenas assenti e virei costas, fugindo dali. Ela sempre foi simpática comigo, mesmo que eu tenha sido fruto de um caso extraconjugal do marido dela. Eu sempre achei isso estranho, nunca entendi bem como é que ela conseguia ser assim tão boa pessoa. Só se ela me odiasse e mentisse muito bem.

Mas não me parecia que ela estivesse a mentir. Nunca tinha estado muito com ela, vi-a apenas algumas vezes aleatórias na rua e ela sempre foi boa para mim. Vi-a pela primeira vez com 5 anos e nunca me esqueci dela.

Flashback on

– Mãe, olha! – Corri para a minha mãe com uma pedra na mão para lha mostrar. Tinha passado imenso tempo à procura da mais bonita para ela na esperança de ter um pouco de afeto.

– Que nojo, isso é uma pedra? – Ela apagou o cigarro com o pé e deitou a pedra para o chão. Fiquei triste. – Sai daqui, anda. Vai fazer qualquer coisa e deixa-me fumar em paz.

Abatido, peguei na pedra novamente e virei costas. Talvez ela gostasse mais de mim se eu fosse um menino obediente.

Enquanto corria para a caixa de areia para construir castelos, bati conta uma senhora loira muito bonita e alta.

– Cuidado, pequeno. – Ela riu, baixando-se ao meu nível. – Sou a Nora! Como te chamas?

– Tate. – Sorri e estendi a minha pedra. Talvez ela gostasse dela e me desse miminho. – Gostas?

– Ui! Que pedra linda! É para mim?

Sorri e assenti. Ela riu, batendo carinhosamente com o dedo indicador no meu nariz.

– És um grande cavalheiro, pequenino.

Senti uma mão puxar-me para trás e Gemi de dor. A minha mãe tinha chegado.

– Afasta-te dele, Vadia. – A minha mãe, Constance, rosnou-lhe e atirou outro cigarro para o chão, puxando-me de seguida pela orelha para casa. – Anda, pirralho. Vamos conversar quando chegarmos a casa.

Flashback off

Na altura não compreendi bem o que se estava a passar, mas mais tarde percebi que aquela era a mãe do Michael. Aquele dia ficou para sempre marcado na minha memória.

Até a mãe do meu meio irmão, que eu mal conhecia, me tratava melhor do que a minha própria mãe.

Toxic - Tate LangdonOnde histórias criam vida. Descubra agora