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Capítulo 5

Violet

Escusado será dizer que passei a noite em claro a pensar no que tinha acontecido com o Tate na sala de música. Ou melhor dizendo, no que quase tinha acontecido.

— É sábado à noite, Violet. Não queres ir sair com os teus amigos? — O meu pai perguntou enquanto eu ajudava a minha mãe a levantar a mesa.

— Eu estou bem em casa. — Eu tinha apenas o Michael como amigo. O Tate também, talvez. Não sabia bem.

— O teu pai tem razão. Estás sempre fechada em casa. — A minha mãe colocou-se ao meu lado, cruzando os braços e olhando para o meu pai. — Mas sinceramente também não sei se me agrada muito a ideia de saíres por aí à noite.

— Ah, Vivien. O bairro é tão pacato! E ela tem quase 18 anos. — O meu pai pousou o jornal e sorriu para mim. — Vai lá.

Suspirei, olhando para a minha mãe. Apanhar ar talvez não fosse uma má ideia de todo. Talvez me fosse ajudar a organizar os pensamentos.

— Vá, vai lá. — Sorriu a minha mãe, acariciando o meu cabelo. — Se quiseres vai apanhar ar. Mas não voltes tarde.

— Tudo bem, eu vou.

Peguei rapidamente num casaco qualquer e nos meus pertences, despedindo-me deles e saindo à rua. Pensei em ligar ao Michael para irmos dar uma volta, mas acabei por desistir da ideia. Eu precisava de estar sozinha para arrumar as ideias.

Vesti o casaco ao sentir o vento frio na minha cara e reflecti uns segundos para decidir para onde me dirigir. Acabei por começar a caminhar em direção à praia. Era uma praia pequena que ficava perto de minha casa. Quase de certeza que estaria vazia.

Eu estava certa. Ao chegar ao areal percebi, feliz, que eu era a única pessoa ali. Dirigi-me para a areia e sentei-me a ver o mar.

Comecei a pensar em tudo. Pensei no quanto sofria na escola. No quão perdida me sentia e no quão confusa estava com o Tate e com tudo o resto. Que merda.

— Violeta. — Olhei para o lado, surpreendendo-me ao ver o Tate ao meu lado. Ele sorriu, sentado-se ao meu lado na areia.

Eu olhei rapidamente para trás, vendo que ele estava mais uma vez sozinho. Fiquei nervosa ao perceber que estava novamente com ele.

— Violet. — Corrigi, rolando os olhos e ele riu.

— Eu sei. — Encolheu os ombros, sorrindo e colocando um cigarro entre os lábios e acendendo-o.

Ficamos em silêncio. Aquela situação era estranha e o silêncio chegava a ser um pouco constrangedor. A minha barriga estava às voltas ao relembrar o beijo que quase tinha acontecido na sala de música. Será que ele me queria beijar?

— Costumas vir aqui? — Ele quebrou o silêncio.

— Às vezes. Não muito. — Olhei-o pelo canto do olho e percebi que ele estava com o olhar fixo no mar. — Os meus pais convenceram-me a sair hoje. E tu?

— Venho muito aqui.

— É relaxante. — Olhei-o mais uma vez e o nosso olhar cruzou-se. Desviei rapidamente a cabeça, olhando para o mar. — O mar é relaxante. — Expliquei.

— É. Por isso é que eu gosto de vir para aqui. — Era incrível a forma como ele se comportava longe da influência dos amigos.

— Eu também.

O silêncio constrangedor voltou e eu puxei os joelhos contra o meu peito, apoiando a bochecha num deles. Ele apagou o cigarro na areia.

— Quando o meu mundo fica cheio e tudo fica quase insuportável eu venho para aqui. — Ele quebrou o silêncio e eu olhei-o atentamente. — Depois fico a observar o mar e percebo que é tudo tão insignificante. A escola é insignificante e as pessoas são uma mera. Odeio aquilo tudo.

Refleti um pouco sobre as suas palavras. Era estranho ouvir o Tate falar assim. Ele sempre esteve rodeado na escola. Já eu, eu era o completo oposto.

— É estranho ouvir-te falar assim... — Admiti e ele riu, triste. — Estou a falar a sério. Quero dizer, estás sempre rodeado por pessoas. És o centro das atenções da equipa de rugby e de tudo o resto.

Mais silêncio.

— Às vezes as coisas não são como parecem ser, Violet.

Suspirei, observando as ondas que se formavam na água. Sentia as minhas bochechas arderem ao de leve e sentia calor na zona dos lábios. Queria saber como era tocar os lábios dele. Bati-me mentalmente ao pensar nisso e procurei rapidamente outro assunto.

— Porque é que és tão diferente aqui?

— Como assim? — Ele franziu o sobrolho.

— Sem os teus amigos és diferente. Muito diferente mesmo. Eu não entendo. — Ele encolheu os ombros, permanecendo em silêncio. — Eu tenho a certeza de que se estivesses com eles eu estaria neste momento a ser gozada ou teria sido atirada ao mar. Sei lá.

Ele riu mais uma vez sem humor e eu permaneci a olhar para ele. Ele olhava fixamente para o mar e depois suspirou, olhando para as suas próprias mãos, pousadas no seu colo.

Acabei por desistir de esperar por uma resposta e levantei-me, retirando o excesso de areia das calças. Estava disposta a ir para casa. Queria muito ouvir algo da boca dele, mas não o queria forçar a falar comigo.

— Tu és uma boa pessoa. — Comentei, olhando-o. Ele permaneceu sentado.

Ele suspirou, olhando finalmente para mim. Eu mordi o interior da bochecha, nervosa e ele sorriu de leve.

— Não, Violet. Eu não sou.

Toxic - Tate LangdonOnde histórias criam vida. Descubra agora