Prólogo

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A esmeralda em minha aliança brilha sob os raios de sol que entram pela janela do chalé quando eu me estico para me espreguiçar.

Uma semana havia se passado, três dias desde o casamento, desde o exagero enorme de Rhysand. Os bancos do Grande Templo estavam lotados. Todos os Grãos-Senhores estavam presentes. Quase todos. Não se ouvia notícias de Tamlin desde que a gravidez de Feyre se espalhou. Mas nós também não fazíamos questão de sua companhia.

Meu parceiro me surpreendeu pedindo que eu entrasse em sua mente na noite antes de sua mãe chegar. Neguei várias e várias vezes dizendo que não precisava e ele insistiu dizendo que queria que eu conhecesse cada parte dele, incluindo as mais sombrias. Então eu fiz e quando acabei, estava tremendo de ódio e dor, mas estava grata por ele ter confiado em mim a ponto de me mostrar tudo o que ele havia passado. Eu chorei e ele beijou cada uma de minhas lágrimas.

A mãe de Azriel havia chegado um dia antes da cerimônia. Uma illyriana tão linda quanto ele, porém, de rosto triste e cansado. Seus olhos se enchiam de dor quando pousavam no filho, em seu rosto duro e suas mãos machucadas. Eu segurei aquelas mesmas mãos e beijei as cicatrizes presentes ali. Seu rosto imediatamente se iluminou e lágrimas brotaram em seus olhos. Ela tinha entendido que eu conhecia seu passado e o aceitava. Nossa relação tinha ficado ótima desde então. Nós a convidamos para morar conosco, ela negou.

Quase não me reconheci quando me olhei no espelho. Eu sabia que Feyre arrumaria um vestido para mim, mas não imaginava que ela tinha mandado fazer.

-Presente de casamento. - Ela disse, sorrindo de orelha a orelha.

Meu cabelo estava preso dessa vez, deixando minhas costas expostas pelo vestido de mangas longas, justo até as coxas e solto no restante das pernas, uma calda seguia atrás de mim. A maquiagem em meus olhos era escura e realçava meus olhos, meus brincos eram como gotas de água caindo por minhas orelhas pontudas.

Eu congelei quando Cassian me disse quantas pessoas estavam no salão, quando ouvi as vozes que vinham de lá de dentro, minhas pernas não me obedeciam e eu travei antes que as portas pudessem ser abertas, minhas mãos suando, a respiração ofegante.

-Você mudou de ideia? - Ele perguntou cauteloso.

-Não. - Respondi. - Claro que não.

Eu sentia medo do que pudesse fazer quando estivesse como o centro das atenções. Medo pelas pessoas, por tudo o que eu sabia sobre mim. O illyriano leu isso no meu rosto.

-Você não tem que se preocupar com isso hoje. - Disse enquanto me estendia o braço. - Hoje é seu dia especial e esse é o seu momento, aproveite.

-Você está certo. - Entrelacei meu braço trêmulo ao seu.

-Você é uma pessoa boa, Lucy. - Sorriu para mim. - Vamos lá!

E então as portas se abriram e nós entramos. Qualquer preocupação que eu tivesse se perdeu quando eu vi Azriel me esperando no altar, de terno e gravata, deslumbrante. Caminhei decididamente até ele, meu coração batendo forte. Cassian beijou minha testa e piscou para o irmão antes de juntar nossas mãos e se dirigir para o lado de Azriel junto com Rhys, Varian e a mãe do meu parceiro. Do meu lado estavam Nestha, Feyre, Mor e Amren. Foi Kyla quem trouxe as alianças, depois de trocarmos os votos. E quando ele deslizou o anel em meu dedo, algo pinicou em minhas costas e eu soube que tinha mais uma tatuagem.

A festa durou três dias. A cidade nunca esteve tão iluminada, Rhysand disse. Mas Azriel e eu não víamos a hora de ir para o chalé. Passaríamos nossa "lua de mel" lá, no mesmo lugar onde nos conhecemos.

Meu esposo se meche ao meu lado, me aproximo até conseguir passar meus dedos por suas asas. Mais uma enxurrada de lembranças me invade. Dessa vez, lembranças da lua de mel. Não tivemos tempo de sequer entrar no chalé, meu vestido de noiva e seu terno permaneceram enquanto transamos contra uma das árvores. Depois na neve, contra a parede, na sauna, no sofá, nas escadas, na cama... Com as mãos livres ou vendada e amarrada...

-No que está pensando? - Azriel me tira dos meus devaneios, narinas dilatadas.

-Nada. - Escondo um sorriso.

Ele abre um olho, fecha, o outro, fecha, abre os dois. Um sorriso de lado surgindo em seus lábios.

-Diga-me, anjo.

-Estava lembrando do dia em que voltamos para cá. - Contorno seu lábio inferior com o indicador. - Em como mal acabamos de atravessar e já estávamos atracados um no outro.

Morde a porta do meu dedo antes de se erguer para ficar por cima de mim, sua ereção já pressionando minha intimidade.

-Eu gosto dessa lembrança. - Beija meu pescoço. - Talvez queira me mostrar?

Um convite para entrar em sua mente, não exito e levo comigo todas as memórias. Ele morde os lábios conforme mostro cada detalhe, tudo o que eu senti, tudo o que ele fez. Sua ereção parece uma rocha.

-São boas lembranças. - Diz quando eu acabo. - Mas talvez possamos incluir mais algumas.

-Eu gosto da sua ideia.

Sua boca está na minha em questão de segundos. Enrolo as mãos em seue cabelos tão escuros quanto as sombras que nos envolvem. Há um barulho do lado de fora e então batidas na porta.

-Mas que porra? - Azriel se afasta. - Se for Cassian de novo eu vou matá-lo.

Me levanto depois dele, procurando por roupas limpas enquanto as batidas continuam. Seguro Justiça na mão, Reveladora da Verdade já nas mãos do illyriano. Descemos as escadas rapidamente, procuro a mente do visitante indesejado e encontro escudos impenetráveis.

-É Rhysand. - Digo.

-Sim, sou eu, agora será que dá pra abrir? Tá frio aqui. - Ele responde do lado de fora.

Azriel abre a porta e o Grão-Senhor entra rapidamente, as bochechas coradas pelo frio, neve molhando seus cabelos e suas roupas.

-Antes de qualquer coisa. - Ergue as mãos em sinal de rendição. - Me desculpem, não queria atrapalhar a lua de mel de vocês.

-Então por que veio? - O encantador de sombras cruza os braços e se encosta na porta.

-Preciso que venham comigo. - Sua expressão é séria. - É urgente.

Merda...

A Corte de Mundos e Alianças (Vol.2)Onde histórias criam vida. Descubra agora