Capítulo 34

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P.O.V. Azriel

O dia do funeral de Florence amanheceu ensolarado, Velaris estava bonita e florida. Ela já havia sido enterrada, mas a garotinha não se sentia pronta para visitar o túmulo da mãe ainda, era muito cedo.

Nós não convidamos ninguém além do círculo íntimo, e eles estavam lá, todos eles em ternos e vestidos pretos, em respeito a perda de Kyla.

Ela andou até o túmulo de sua mãe, ao lado do de seu pai, e colocou um quadro entre eles.

Tinha um mês desde que tinha acordado, uma mês que tinha pesadelos todas as noites e acordava gritando e chorando, um mês que Lucy deitava em sua cama e acariciava seus cabelos até que a garotinha se acalmasse o suficiente para voltar a dormir.

Em uma das noites ela acordou dizendo que não podia mais dormir, que precisava pintar, mas não deixou que nenhum de nós visse o seu que pintava até o momento do funeral, até agora.

O fundo da tela era de um verde da cor da grama, flores roxas estavam ao redor de duas pessoas no centro, deitadas sobre o gramado, um homem e uma mulher, que tinham suas mãos entrelaçadas e sorrisos no rosto enquanto olhavam um para outro. Eu reconheci as pessoas no quadro, eram Florence e Kalyon, os pais de Kyla.

Mas como ela poderia pintá-lo se não chegara a o conhecer? Eu não sabia, tinha a ver com o dom misterioso de ver coisas que ninguém entendia, mas a garotinha sorriu abertamente quando olhou o quadro e se afastou dos túmulos, para junto de minha parceira e eu.

-É um quadro muito lindo. - Lucille diz. - O mais bonito até hoje.

-Acha que eles gostaram? - Pergunta.

-Com certeza. - Respondo.

Nós ficamos no mesmo lugar, observando o quadro de Kyla enquanto todos se despediam e iam para suas casas. A criaturinha estava entre Lucille e eu, segurando firmemente em nossas mãos, se apoiando, como havia feito nos últimos dias.

Ela tinha se adequado a mão nova, na verdade não houve dificuldade alguma, pareceu até mesmo contente em descobrir que tinha uma parte de Lucy em si agora.

Minha parceira tinha acordado um dia antes de Kyla. Ela também tinha pesadelos e costumava chorar na hora do banho, mas quando acontecia, eu a abraçava e tentava reconforta-la o melhor que podia. Lucy deitava em meu peito, agarrada ao meu corpo e dormíamos ouvindo as batidas fortes e sincronizadas do coração um do outro.

Ela tinha sido tão forte, por tudo o que passou e enfrentou até aqui. E agora, se obrigava a ser forte mais uma vez, por Kyla. Mesmo com todos os traumas, pesadelos e as lágrimas frequentes, ali estava ela, segurando a mão da pequena, com o queixo erguido e coluna ereta. Como se sentisse que eu pensava sobre si, Lucy se vira para mim, encontrando meu olhar.

Seus olhos sempre foram algo mágico para mim, sempre me deixaram hipnotizado, o tom verde esmeralda brilhava tão intensamente que me deixava sem fôlego, eles ficavam ainda mais destacados e brilhantes em constraste com seus cabelos longos e escuros e a pele pálida. Lucille sempre fora linda, mas desde que havia se permitido ser quem era, ficara ainda mais bela. Suas bochechas coram sob o meu olhar, assumindo um tom rosa claro que a deixa completamente adorável.

-Por que está me olhando assim? - Pergunta.

-Assim como? - Com adoração? É o que quase pergunto.

-Eu não sei. - Responde, contendo uma risadinha.

-Com cara de bobo. - Kyla responde, soltando uma gargalhada.

Lucy fica imóvel, era a primeira vez que escutávamos um som como aquele vindo dela há bastante tempo. Eu observo quando as esmeraldas de minha parceira brilham com esperança. Esperança por acreditar que conseguiríamos superar aquilo e que faríamos isso juntos, que conseguiríamos nos adequar ao nosso novo normal. Os olhos de Kyla também brilham, como se ela também tivesse entendido aquilo.

-Podemos pegar algumas flores antes de ir para casa? - Pergunta, soltando minha mão para apontar para um arbusto florido.

-Claro. - Minha rainha abre um sorriso tão belo que ofuscaria até mesmo o sol.

Ela me olha mais uma vez, dessa vez um olhar direcionado verdadeiramente a mim e é tão cheio de amor, carinho, gratidão e adoração que eu prendo a respiração por alguns instantes. É sempre assim quando ela me olha. Minhas sombras voam em sua direção, tocando seu rosto carinhosamente e ela sorri novamente, piscando um olho para mim. Eu solto o ar que estava preso.

-Eu vou pintar de novo. - Kyla atrai nossa atenção. - Olhos verde esmeralda. - Diz.

-Como os meus? - Lucy pergunta.

-Sim, mas diferente. Esses não são seus.

-E de quem são?

-De um menino.

Kyla responde no momento exato em que as duas passam por mim e minhas sombras retornam. Momento exato em que eu sinto o cheiro da nova vida que cresce no ventre de Lucille.

A Corte de Mundos e Alianças (Vol.2)Onde histórias criam vida. Descubra agora