Capítulo 33

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A porta da Casa do Rio se abre na mesma hora em que Rhysand sai, sentindo quando nos aproximamos. O Grão-Senhor tem a expressão de choque quando vê Kyla em meus braços e o corpo de Florence nos de Azriel.

Feyre cai de joelhos ao meu lado, soluçando, chorando e vomitando sem parar, seu corpo todo tremendo. Seu parceiro corre até onde está, sua expressão tornando-se desesperada.

-Madja? - Pergunto entrando na casa.

-Quarto de hóspedes. - Responde, lutando para acalmar sua esposa, entender o que aconteceu e nos ajudar ao mesmo tempo.

Madja nos esperava na porta do quarto, ofega quando nos vê.

-Pelo Caldeirão! O que fizeram à essa garotinha?

Não respondo, incapaz de dizer qualquer coisa sem vomitar ou chorar ainda mais. Deito-a na cama, me afastando quando a curandeira de aproxima.

-Eu vou... - Azriel começa mas eu me viro para ele.

-Eu... - Minha voz falha quando vejo o rosto sem vida de Florence. - Eu quero que ela tenha um funeral.

Como minha mãe não teve. É o que não digo, mas os olhos do meu parceiro brilham em compreensão.

-Ela terá. - Diz antes de se virar. - Cassian. - Chama.

E só então eu percebo que não estamos sozinhos, Nestha e Cassian estão lá, assim como Amren e Varian, eu sinto os cheiros de Mor, Petrah e Orion no quarto ao lado. O de cabelos longos toma o corpo de Florence em seus braços.

-Vou levá-la para as curandeiras. - Me informa. - Para que cuidem dela.

Eu assinto, voltando para perto da cama, observando o rostinho pálido de Kyla. Quando para ao meu lado, os dedos de Az roçam levemente os meus, eu os entrelaço, segurando firme sua mão.

-Os ferimentos infeccionaram, ela está perdendo muito sangue... - Madja começa, fazendo meu coração bater mais forte. - Vou fazer o possível para que ela não perca todo o braço.

-Eu posso ajudar. - A voz calma de Feyre vem da porta, Rhysand atrás dela. - Posso acelerar o processo de cura.

-Está bem para isso? - Azriel pergunta.

-Estou bem. - Responde se aproximando da cama.

Madja e Feyre colocam as mãos sobre Kyla, mas não começam até Amren que estava se aproximando também estenda as mãos. Seus olhos prateados encontram os meus, eu vejo muito além do que ela se deixa mostrar ali. Uma luz branca começa a envolver o corpo da garotinha lentamente, brilhando cada vez mais forte. Az me puxa para seus braços, me confortando enquanto assistimos Kyla ser curada.

-Tudo vai ficar bem. - Ele sussurra em meu ouvido. - Ela vai ficar bem, vamos cuidar dela.

Não tiro os olhos quando a luz começa a voltar, colocando cor de volta no rosto dela, curando ferimentos superficiais e internos que ela pudesse ter. Mas seu pulso... As três se afastam, observando a mesma coisa que eu.

Uma ideia passa pela minha cabeça, algo que eu não sabia se funcionaria, mas que tentaria, por ela.

Me afasto de Azriel e vou em direção a cama, sentando ao lado de Kyla. Pisco uma vez e meus olhos assumem o tom negro com filetes violetas. Toco seu braço, sentindo osso, tendões, sangue e pele, traçando um caminho até seu pulso, que ainda não tinha cicatrizado, mas que já não sangrava mais.

Lembro-me do que fiz com Abraxos, ele era uma das minhas criaturas. Mas poderia eu criar vida? Sim, eu poderia. Eu fiz isso com as bestas que usei para dizimar os moradores da Prisão, eu curei aquela serpente alada. Eu podia fazer de novo, uma vez mais.

Permito que meu poder saia, ligando-se ao osso do braço da garotinha, solidifico, expando, crio osso, um esqueleto baseado em sua outra mão, crio tendões, veias e articulações, sangue, meu sangue, fecho-o com pele, moldando-o até assumir a forma de uma mão, a mão de Kyla.

Entro em sua mente e comando:

Mexa o polegar.

Seu polegar se mexe.

Feche a mão.

A mão de fecha.

Abra.

A mão se abre.

Gire o punho.

O punho gira.

Madja murmura algo, Amren pragueja, Feyre faz algum tipo estranho de som e eu observo a mão valg de Kyla. Eu sinto parte minha nela, sinto uma pequena parte de poder.

Quando termino, não consigo me levantar, minhas pernas tremem, Azriel vem me ajudar, me pegando em seu colo e saindo do quarto.

-Quero ficar... - Sussurro.

-Você está entrando em esgotamento, precisa descansar.

-Kyla... - Minha língua começa a enrolar.

-Não vai ajudar se desmaiar de fraqueza. - Me apoia em um braço para abrir a porta e fechar atrás de nós. - Vamos ficar aqui até que estejam prontas para ir para casa.

-Prontas? - Pergunto mesmo sabendo a resposta.

-Sim. - Segue para o banheiro. - Você e Kyla. - Abra a torneira da banheira.

Delicadamente, Azriel tira minha coroa, colocando-a sobre o balcão, tira minha roupa, peça por peça, como se eu fosse quebrar a qualquer momento, depois me coloca na banheira. Lava meus cabelos, massageando meu couro cabeludo, enxagua cuidadosamente e começa a me ensaboar.

-Vamos cuidar dela, Lucy, você e eu. - Olha em meus olhos quando fala. - Kyla virá morar conosco, se quiser, e mesmo se não quiser, vamos cuidar dela.

Meus olhos marejam e pela primeira vez, depois de tudo o que tinha acontecido, sinto aquela bola sair e o choro irromper. Eu tremo violentamente contra as mãos de Azriel, que me puxam para si.

-Você pode chorar agora, meu anjo. - Acaricia meus cabelos. - Vai ficar tudo bem agora, nós vamos cuidar uns dos outros. - Beija o topo da minha cabeça. - Vamos superar tudo isso juntos.

Eu me agarro a ele, soluçando em seu peito e meu parceiro me abraça mais forte, acariciando meus cabelos e deixando beijos pela minha cabeça. No conforto de seus braços, sentindo seu cheiro familiar, o esgotamento me atinge.

A Corte de Mundos e Alianças (Vol.2)Onde histórias criam vida. Descubra agora