Capítulo 1

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A neve caía do lado de fora da Casa do Rio, manchando de branco o jardim florido de Elain. Eu havia me sentido culpada por ter rosnado como um animal descontrolado para ela. Cheguei a pedir desculpas, mas não mudou o modo como ela passou a agir perto de mim. Como estava agindo agora. Seus olhos se voltavam para mim de cinco em cinco segundos, o corpo encolhido, sentada o mais afastada possível, enfiada entre Nestha e Feyre. Ela me olhava como se eu fosse a caçadora e ela minha presa. Eu não gostava disso, mas não tinha mais o que fazer e com certeza não ia insistir ou implorar por seu perdão.

Rhysand não nos tinha dado tempo algum, atravessamos com ele poucos segundos depois de sua chegada inesperada no chalé. O Círculo Íntimo todo estava reunido na sala, até mesmo Varian estava presente. Estávamos agora há mais de uma hora esperando algum convidado misterioso que, claramente, estava muito atrasado.

Azriel não havia aberto a boca desde então. A mão esquerda estava apoiada em minha coxa, a aliança brilhando em seu dedo anelar, o rosto sério, asas recolhidas, as sombras envolviam tanto suas costas quanto as minhas. Eu sabia que ele não tinha gostado da interrupção, apesar de saber que Rhys não teria aparecido se o assunto não fosse sério.

-Ele chegou. - O Grão-Senhor anuncia.

Com o rosto tenso, sai da sala rapidamente. Todos ouvimos algumas vozes e passos se aproximando antes que ele abra a porta e entre com seu convidado. Os cabelos vermelhos são a primeira coisa que eu noto quando o mais novo Grão-Senhor da Corte Outonal entra na sala.

-Você tá de brincadeira? - Mor rosna, se levantando da poltrona em que estava sentada.

-Olá para você também, Morrigan. - Um sorriso irônico mancha os lábios de Eris.

-O que ele está fazendo aqui, Rhysand? - Cassian interroga, mal controlando o tom de voz.

Percebo a tensão de Azriel ao meu lado. Rhysand atravessa a sala a passos largos e oferece uma poltrona para o ruivo que se senta na mesma hora. Apesar de aparentar desconforto, estava óbvio que Feyre já sabia quem era o convidado misterioso.

-Caso não se lembre, - Eris se dirige a Cassian. - temos uma aliança, bruto.

-Não o chame assim! - Apesar de seu rosto aparentar calma, o tom de voz de Nestha é um aviso.

O sorriso do Grão-Senhor da Outonal se alarga. Seus olhos passam por cada um dos presentes antes de chegar em Azriel.

-Perdoe interromper a lua de mel, mas há coisas mais urgentes do que essa celebração tão importantíssima. - Há falsa tristeza em sua voz.

-Sem falsidade, Eris, diga o que veio fazer aqui. - A voz de meu parceiro é calma, mas suas sombras se movem furiosamente atrás de nós.

-Não estava falando com você, illyriano. - Seu sorriso agora é cruel. - Estava falando com o belo motivo da minha visita. - Seu olhar pousa em mim.

Eu seguro meu esposo antes que ele avance sobre Eris, suas sombras avançam e eu uso minha escuridão para trazê-las de volta.

Ele está te provocando. Não vale a pena.

Sussurro para ele que, aos poucos, começa a se acalmar.

-Já chega, Eris! Não temos tempo para qualquer tipo provocação. - O Grão-Senhor da Corte Noturna se manifesta.

-A cada minuto perdido, pior a situação fica. - Feyre continua.

Por algum motivo, aquilo me deixou alerta. O ruivo olha rapidamente para os Grãos-Senhores e se volta para mim.

-Você não tem ideia do que fez, não é? - Seu sorriso agora sumiu.

Não respondo.

-Corta essa, garoto! - Amren bate as unhas na mesa. - Diga logo o motivo de terem me tirado da cama tão cedo!

Ele olha para ela como se tivesse sido a primeira vez que notasse sua presença ali, algo como medo aparece em seus olhos mas some rapidamente.

-Estive na clareira depois da guerra contra meu pai e a rainha de Hybern. - Coloca o tornozelo sobre o joelho. - Eu não soube dizer o que, mas tinha certeza de que algo naquele lugar não era mais certo. Claro, tinham os corpos e o chão rachado. - Faz um gesto de descaso com a mão. - Mas não era isso, nem o fato de que as árvores daquela área estavam todas mortas. Eu podia sentir a magia ali,  podia sentir o cheiro de algo maligno, algo estranho.

Eu noto que Amren parou de bater as unhas, Feyre aperta Orion contra seu corpo, Rhysand apoia a mão de forma protetora no ombro da esposa, e até mesmo Varian parece tenso.

-Demoramos meses para encontrar a fonte, muito tempo gasto. - Eris cruza os braços, ombros tensos. - Em uma das partes mais escuras da floresta há um portal.

-Um portal? - Nestha pergunta.

Há tensão é quase palpável. Em todas as histórias, verídicas ou lendas, nenhuma acabava bem quando se envolvia um portal.

-Sim. - Ele responde. - Mandei um mensageiro atrás de Rhysand o mais rápido possível. Não iria arriscar nenhum dos meus entrando naquele lugar.

-Mas arriscaria um de nós. - Cassian debocha.

-É claro. - Sorri cruelmente. - Mas o mais estranho da situação é que o portal é muito parecido com o que eu vi na Cidade Escavada. Aliás... - Seus olhos se voltam para mim. - Com o que você fez.

Foi necessário muito autocontrole para que eu não vomitasse. Todos olhavam para mim mas eu estava ocupada demais para responder. Ocupada demais pensando em uma conversa num dia não tão distante naquele mesmo lugar. Uma conversa que assombrava os momentos que estava parada e seus sonhos. Quando Amren havia dito que seu pai era uma criatura das trevas chamada Valg. Uma criatura capaz de abrir portais.

-Quando você usou seus poderes naquele dia foi algo magnífico e bizarro de se ver. - Dá uma risadinha sem humor. - Até mesmo o seu cheiro tinha mudado. E, coincidentemente, o mesmo cheiro está no portal.

-É possível que eu tenha aberto esse portal? - Olho entre Amren e Rhysand.

-Sim, garota, é muito possível. - Ela responde.

Passo as duas mãos pelo rosto, um frio percorre a minha espinha. Como diabos eu poderia ter feito aquilo? Volto a encarar Rhysand.

-Você já viu?

-Sim. - Responde.

-E aí? - Não sou capaz de formular a frase mas ele entende.

-Não há dúvidas, Lucy. - Há pena em seus olhos, desvio o olhar. - Foi você.

A Corte de Mundos e Alianças (Vol.2)Onde histórias criam vida. Descubra agora