A Corte de Mundos e Alianças (Vol.2)

Capítulo 7

Acabei encontrando Fenrys antes de Rhysand. Ele estava na sacada, observando a paisagem, se virou para me encarar assim que eu cheguei.

Por um momento, pensei em simplesmente me virar e deixá-lo lá. Mas não era certo. Não queria que ele pensasse que eu era como aquelas criaturas que ele havia enfrentado, por mais que não fosse isso que eu demonstrasse. Ergo o queixo, endireito os ombros e encontro seu olhar.

-Estava procurando por Rhysand. - Digo.

-Ele está lá dentro com Cassian.

Fenrys e Cassian já tinham sido apresentados? Começo a me perguntar o quanto eu perdi enquanto dormia.

-Fenrys... - Coloco as mãos atrás das costas, escondendo meu nervosismo. - Sinto muito pelo que aconteceu na sala de treino.

O homem lobo não mantém meu olhar, mas observa atentamente meu rosto, como se procurasse algo. Por mais que, quando eu entrei, ele tenha endireitado a postura, parecia exausto. Seus cabelos dourados estavam presos em um coque bagunçado, havia olheiras debaixo de seus olhos, mas ele ainda continuava bonito.

-Não tive a intenção de atacar você, Rhysand ou Amren. - Continuo. - As vezes as coisas saem do controle.

Ele suspira antes de abaixar o olhar e negar com a cabeça.

-Você tentou me matar. - Diz.

-Tentei. - Dou de ombros.

Não negaria isso. Eu estava prestes a me alimentar de seu medo, aquilo provavelmente o mataria se fosse como com os soldados.

-Mas não matou.

Me surpreendo e franzo as sobrancelhas, confusa. Ele levanta a cabeça e seu olhar encontra o meu, um sorriso de lado aparece em seus lábios.

-Você teria feito se quisesse mesmo.

-Teria. - Confirmo.

-Mas não fez.

-Não, não fiz.

-Eu julguei você antes mesmo de te conhecer. - Faz uma pausa e se recosta na sacada. - Não me entenda mal, mas você viu o que enfrentamos. Aquelas coisas eram... Sinistras, além de cruéis.

-Eu te entendo, você tem todo o direito de desconfiar de mim. Mas não sou como eles, ou pelo menos estou lutando para não ser.

-Não, você não é como eles.

Contive um suspiro de alívio e precisei lutar muito para esconder um sorriso. Fenrys percebeu isso, seu sorriso alargou e ele se aproximou de mim.

-Vamos começar de novo então, do começo. - Estende a mão na minha direção. - Sou Fenrys Moonbeam, estou aqui a serviço da minha rainha e melhor amiga.

-Sou Lucille. - Aperto sua mão. - Estou aqui para descobrir como fechar aquele maldito portal.

-É um prazer, garota demônio.

-É um prazer, homem lobo.

Dessa vez eu não escondo meu sorriso e ele retribui, apertando firme minha mão.

-Até que enfim você acordou. - A voz de Cassian atrai minha atenção. - Achei que ia dormir mais cinco dias.

-É bom ver você também, Cassian. - Reviro os olhos e me afasto de Fenrys.

-Eu sei que é. - Diz vindo na minha direção.

Antes que eu possa protestar sou pega em um abraço de urso. O illyriano me aperta fortemente contra seu corpo e me gira. Involuntariamente, solto uma risada alta.

-Wow! - Ele me afasta, segurando em meus braços. - Isso é novo.

-Isso o...

-Nestha! - Me interrompe. - Venha ver! Nossa menininha está rindo pela primeira vez. - Sua mão grande aperta uma de minhas bochechas.

Dessa vez é Fenrys quem solta uma gargalhada, eu o lanço um olhar mortal.

-Ora seu... - Me afasto de Cassian, batendo em sua mão no processo.

Ele se junta ao lobo, apoiando as mãos no abdômen e rindo alto. Minhas bochechas esquentam e sinto vontade de bater nos dois.

-O que está acontecendo?

Agradeço mentalmente pela interrupção de Nestha.

-Você perdeu a primeira risadinha dela. - Cassian aponta para mim.

-Não acredito que perdi esse momento tão raro!

Quase engasgo com a voz de falso choque da fêmea. Os machos voltam a gargalhar, dessa vez mais alto.

-Você vai entrar na minha lista negra. - Cruzo os braços.

-Não seria nenhuma surpresa. - Provoca. - Vamos, precisamos conversar.

Dou mais um olhar mortal para os machos antes de segui-la para dentro.

-Cara... - Ouço a voz de Cassian enquanto me afasto. - Se Azriel te pega sorrindo para ela daquele jeito... Você estaria enrascado.

-Argh! - Nestha bufa. - Por que machos feéricos são tão possessivos? - Sussurra.

-Eu também queria saber. - Sussurro de volta.

Nós subimos de volta para o quarto, eu me jogo em um lado da cama e ela se joga no outro, ambas olhando para o teto.

-O que aconteceu? - Pergunta. - Na sala de treino.

-Eu não sei. - Passo as mãos pelo rosto. - Nós estávamos treinando e eu não consegui fazer nada útil, aquilo já estava me desesperando... Eu pensei no que poderia acontecer se eu não fizesse progresso e me descontrolei.

-Eles pressionaram você.

-Eles não me...

-Sim, eles fizeram. Diga o que quiser, mas fizeram. - Faz uma pausa antes de prosseguir. - Eu também já fui pressionada, coisas ruins aconteceram. - Engole em seco. - Muito ruins. Pressão não vai ajudar, é o que eu tentei enfiar na cabeça da Amren.

-Helion me disse que vocês discutiram.

-Sim. - Se remexe na cama, desconfortável. - Foi ruim, mas poderia ter sido bem pior.

Ficamos em silêncio por um tempo. Eu apreciava a companhia de Nestha. Não havia a necessidade de estarmos falando a todo momento e mesmo assim, o clima não ficava desconfortável, era bom.

-Você consegue. - Diz, por fim.

-Eu não sei. - Suspiro. - Não tenho nem ideia de como começar a fechar aquela coisa.

-Não estou falando disso. - Ela diz e eu franzo o cenho. - Você consegue assumir o controle, pode fazer isso. - Se vira para me encarar. - Manteve seus poderes escondidos por anos, décadas, tem mais controle do que pensa.

Os olhos azuis acinzentados de Nestha transmitem sinceridade. Ela acreditava que eu conseguia e aquela confiança que ela tinha em mim era importante.

-Obrigada, Ness.

-De nada, Lucy.