Capítulo 18

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Era noite quando eu ouvi o som das asas de Abraxos batendo, se aproximando da Corte.

Rhys havia dividido os vários quartos do palácio ficando ele, Feyre e Orion em seu quarto privado, Rowan e Aelin em um dos de hóspedes, Lorcan e Fenrys com outro em camas separadas, Lorcan ameaçada matar Fenrys se fosse apenas uma cama de casal, Nestha e Cassian, Dorian e Manon ficariam com um, eu e Azriel, Kyla em outro do lado do nosso.

Mor partira para o Reino Humano pouco antes de escurecer. Todos já haviam se recolhido, menos a bruxa e o rei de Adarlan que estavam pousando agora, meu parceiro que tinha aproveitado a noite para treinar, e eu, que estava esperando Kyla.

A porta se abre e uma garotinha saltitante entra, seguida de uma Manon carrancuda e um Dorian risonho.

-Olá, Lucy! - Kyla corre até mim e eu me abaixo para abraçá-la.

-Olá, minha pequena!

-Essa garota é uma cria demoníaca sua. - A bruxa diz ao se aproximar.

O rei coloca a mão sobre a boca para evitar a risada, dando um olhar cúmplice para a garotinha que retribui com um sorriso que mostra suas covinhas. Franzo as sobrancelhas.

-O que ela fez? - Pergunto.

-Essa criatura domou o meu dragão! - Manon esbravejou.

Dorian e Kyla gargalham, eu escondo o sorriso. É claro que ela fez isso.

-Como isso aconteceu? - Continuo.

-Ela começou a fazer cócegas em Abraxos até que tocasse em algum local que o fez se contorcer. - Eu comecei a rir e ela me olhou com indignação. - Essa criança... Ele se esfregou nela quando pousamos! Pedindo por carinho! Uma serpente alada! Ele deve ter vindo com defeito.

Manon se virou e viu que Dorian também estava rindo, ela estreitou os olhos para ele e começou a subir as escadas, furiosamente.

-Boa noite, Lucy. - Ele disse antes de começar a segui-la. - Boa noite, Kyla.

-Boa noite, Dorian! - Kyla respondeu animadamente.

-Como foi o passeio? - Perguntei assim que eles se afastaram.

-Foi muito bom! - Ela dava pulinhos. - Você sabia que Dorian pode virar qualquer tipo de animal? Eu pedi que ele virasse um coelhinho e ele virou!

-Sério? E você gostou? - Segurei sua mãozinha e comecei a seguir para o quarto.

-Sim! Abraxos também amou, ele me deu flores. - Ela riu baixinho. - Manon ficou muito brava.

Nós seguimos com ela contando sobre seu passeio, eu ouvi tudo atentamente, notando sua felicidade em falar de Abraxos, Dorian e até Manon. Mas não pude deixar de pensar que eles teriam que voltar uma hora, e eu fecharia o portal. Eu sabia que, querendo ou não, isso a deixaria triste.

-Você pintou mais coisas? - Perguntei quando chegamos em seu quarto.

-Ainda não... - Ela olhou para os pés. - Mas vou pintar mais logo.

-Já sabe o que vai pintar?

-Sim! O portal de novo.

Um frio percorreu minha espinha. Alguém mais viria?

-Mas ainda não sei muito bem como.

Eu não sabia como começar aquilo, então optei por contornar o assunto.

-Você gosta de pintar?

-As vezes. - Responde se sentando no chão, suas vestes estavam sujas de terra. - As vezes eu não pinto porque quero.

-Como assim?

-As vezes eu preciso pintar. - Apoia a mão no queixo. - Eu penso em coisas e preciso pintar. Mas eu gosto de pintar minha mãe, você e Azriel. Também gostei de pintar os olhos verdes.

-Que tipo de coisas você pensa?

-Eu não sei... Elas aparecem na minha cabeça e eu preciso pintar.

-Oh... - Eu noto quando ela boceja. - Tome banho antes de dormir, pestinha.

Ela sorri, vindo me abraçar mais uma vez. Retribuo seu abraço.

-Sabe... - Ela diz com o rosto enterrado em meu pescoço. - Vou chorar bastante, mas vocês três vão me ajudar a parar de chorar.

-O quê? - Sinto meu coração acelerar.

-Boa noite, Lucy. - Ela beija minha bochecha. - Não deixe Azriel passar a noite toda treinando.

Eu observo quando Kyla some para dentro do banheiro, permaneço estática no mesmo lugar. Por que ela iria chorar? Nós quatro? Azriel, Florence e eu? Sigo para a sala de treinamento pensando nisso. Paro na porta, ouvindo os sons de socos de Az, atravesso para dentro como costumo fazer, ficando na escuridão.

Meu parceiro está sem camisa, apenas com a calça de sua armadura, está descalço e com bandagens de treino enroladas em suas mãos, seus cabelos estão molhados e pregados a testa pelo suor, as asas se movem conforme ele se movimenta. Uma visão e tanto, cruzo os braços e me encosto na parede para aproveitar a vista. Azriel faz mais uma sequência de movimentos antes de parar e puxar uma das bandagens com a boca. Meu ventre contrai, mordo o lábio inferior para tentar conter um suspiro. Um sorriso malicioso nasce em seus lábios.

-Não te ensinaram que não se deve espiar as pessoas? - Pergunta.

-Na verdade me ensinaram exatamente o contrário. - Respondo também sorrindo.

-Sério? E quem foi o pervertido de uma figa que te ensinou uma coisa dessas? - Cruza os braços, deixando seus músculos ainda mais destacados.

-Ah... - Dou um passo para sair do escuro. - Um garoto mau.

Seu sorriso se alarga e seus olhos brilham quando ele me vê, meu parceiro descruza os braços, me dando a visão espetacular de seu peitoral e abdômen definidos. Umedeço os lábios. Az ergue as sobrancelhas e inclina a cabeça.

-Apreciando a vista? - Pergunta.

-Sim.

-E vai continuar?

-Sim. - Repito seu gesto e ergo as sobrancelhas. - Gosto de olhar o que é meu.

Seu sorriso se torna perverso, suas narinas dilatam quando ele sente meu cheiro.

-Venha até aqui. - Sua voz sai rouca.

Eu preciso de todo meu autocontrole para não tremer enquanto caminho até ele, parando em sua frente.

-Estou aqui. - Falo.

-Eu sinto a sua falta. - Diz, colocando meus cabelos para trás.

-Estou aqui. - Repito.

Pouso minhas mãos em seu abdômen, sorrio quando ele se arrepia, subo pelos gominhos presentes, suas pupilas dilatam, por seu peitoral agora marcado por uma versão illyriana de asas de anjo, ele engole em seco, pelos seus ombros, descendo para os braços e parando em suas mãos, eu as seguro e as coloco em minha cintura.

-Estivemos tão ocupados e essa casa tem estado tão cheia que eu mal consegui tocar em você desde a nossa lua de mel.

-Não estamos mais ocupados. - Enlaço os dedos em seu pescoço.

-Mas a casa ainda está cheia. - Ele puxa meu corpo para perto do seu, enterrando o rosto em meu pescoço. - Não quero nenhum deles escutando você ou sentindo seu cheiro.

-Besta territorial. - Reviro os olhos.

-Sim, eu sou. - Azriel morde forte meu pescoço, eu solto um gemido pelo susto. - Controle-se. - Diz, mas sua voz sai ofegante. - Não podemos fazer nada com a casa assim.

-As vezes você se esquece do que eu posso fazer.

Estendo uma mão para cima e liberto a escuridão, solidificando-a ao redor da sala, nos deixando em um escudo.

-Não tenho palavras para descrever você. - Sorri contra meu pescoço.

-Eu sei. - Tombo a cabeça para o lado ao senti-lo beijar a pele sensível.

A Corte de Mundos e Alianças (Vol.2)Onde histórias criam vida. Descubra agora