Alguém dá dois toques na porta, eu murmuro um "entre" e então Rhysand coloca a cabeça para dentro do quarto.
-Ocupadas? - Pergunta.
-Eu já estava de saída. - Nestha diz enquanto se levanta. - A gente se fala depois. - Pisca para mim antes de sair.
Rhys se senta na cadeira ao lado da cama, eu me sento e viro para ficar de frente para ele. Sentando tão imóvel quanto uma estátua.
-Fenrys disse que estava me procurando.
-Sim, eu estava.
Encontro seus olhos que pareciam perdidos, meu coração aperta vendo o quanto aquilo tinha o afetado.
Era o seu medo. Se não fosse o maior, era um deles. Ele ainda tinha medo de acordar naquele lugar, com a rainha feérica, tinha medo por Feyre e Orion, por sua família.
Provavelmente ele também estava se lembrando do que havia visto, porque suas pupilas dilataram e o cheiro de seu medo ficou mais forte.
-Eu sinto muito, Rhysand.
Essa era a segunda ou terceira vez que eu pedia desculpas? Eu não sabia. Mas sentia que se falasse qualquer outra coisa, seria igual as outras vezes.
-Está tudo bem. - Ele diz, mas eu percebo o modo como ele engole em seco e desvia o olhar.
-Não está. - Aperto os lábios em uma linha fina. - Por favor, não diga que não é culpa minha também, porque é. Eu me descontrolei e toquei em algo que não devia, te fiz ver algo que com certeza afetou você. Então, por favor, só aceite as minhas desculpas, ou me expulse da sua Corte, o que você preferir.
Eu não tinha ideia de onde isso tinha vindo, mas eu estava cansada de pedir desculpas e ouvir que eu não tinha culpa. Porque eu tinha.
A sensação de me alimentar dos medos das pessoas era boa, me deixava mais forte, me fazia querer mais. Por mais que as consequências acabavam comigo depois.
-Não vou expulsar você da Corte, Lucy. - Seu olhar volta a encontrar o meu. - Todos nós temos uma parcela de culpa.
Não sabia o que responder. Estava me sentindo irritada e cansada. Sentia falta de Azriel.
-Talvez... - Começa. - Talvez não tenhamos começado da melhor forma, não devíamos ter pedido logo de cara que se soltasse.
-Você acha que tem um jeito de fechar o portal sem usar todo o poder?
-Sinceramente, eu não sei. - Diz, com o olhar pensativo. - Mas Feyre e eu temos uma teoria.
-E qual seria?
-Fenrys me explicou que seu poder o ajuda a - Faz aspas com os dedos. - "deslizar pelas dobras do mundo", mas apenas em distâncias curtas. - Pausa e procura algum sinal de dúvida em mim, quando assinto, ele continua. - Sabendo disso, pensamos que, talvez, você poderia fazer como ele. Abrir e fechar pequenos portais em distâncias curtas.
A teoria era boa, me senti até mesmo confiante. A ideia de abrir portais no local em que eu estava era melhor do que para outros mundos.
-Ok... Mas primeiro eu preciso aprender como fazer isso.
-Quero que feche suas mãos, palmas encostadas.
Faço o que ele pediu, estendendo minhas mãos e encostando as palmas.
-Pense na escuridão e traga-a para fora, apenas nas palmas.
Eu sinto quando a escuridão desliza pelo meu corpo até chegar nas minhas mãos.
-Solidifique-a, transforme em uma esfera.
Separo minhas mãos apenas o suficiente para conter a esfera de escuridão que eu projetei.
-Encontre aquela energia dentro de você. - Assinto quando sinto a eletricidade me percorrer. - Envolva a esfera.
Os filetes violetas deslizam pelos meus dedos e tocam a esfera, até envolvê-la completamente.
-Muito bem. Agora eu quero que comece a moldá-la em um portal.
Girando a esfera de escuridão e energia em minhas mãos, eu me lembro do portal na floresta. Aos poucos, meu poder começa a ganhar forma.
-Isso. Agora sem interromper o processo, pense em como você atravessa, como pula de um lugar para o outro.
Fecho meus olhos e me permito lembrar da sensação. Minha mente buscando o meu destino, minha consciência fixa naquele local, meu poder envolvendo todo o meu corpo, de como em um segundo meu corpo é uma presença física e no outro, não é nada...
-Mantendo isso em mente, imagine algum local do quarto e continue dando forma ao portal, pensando na sua travessia.
Penso na parede oposta a cama, perto o bastante, mas longe o suficiente para o caso de algo sair do controle. Começo a afastar mais as mãos, sentindo o poder se expandir.
-Muito bom. Conforme molda da forma que quiser, permita a energia trabalhar junto com a escuridão.
Faço como ele falou. Liberto a energia para passear livremente pela escuridão, me sentindo arrepiar.
-Afaste as mãos, mas não desfaça o portal.
Eu afasto as mãos e abro os olhos. Há uma miniatura de portal da minha frente, bem menor do que o outro, mas mesmo assim é um portal. Eu olho para Rhysand que está sorrindo para mim.
-Você conseguiu. - Faz sinal para a parede oposta.
Um portal idêntico ao da minha frente está do outro lado da cama. O Grão-Senhor tira um de seus anéis e o joga para dentro da escuridão profunda, nós ouvimos um barulho de metal quando ele cai do outro lado.
-Você foi ótima. - Ele diz. - Como se sente?
-Cansada.
Mesmo que tenha sido pequeno, eu notei o quanto aquilo havia me drenado.
-Mas dá para tentar fechar.
-Ótimo. Agora quero que você tente desfazê-lo.
Estico minhas mãos e me preparo.
-Chame a energia de volta primeiro.
Fecho os olhos e foco na energia existente no portal. Chamo-a para mim. Lentamente, eu a sinto começar a se desfazer. Suor escorre pela minha testa enquanto eu me esforço.
-Permita que a escuridão volte.
Minha garganta seca quando sinto o portal se desfazendo cada vez mais.
-Quase lá. - Sussurra.
Eu puxo uma última vez e então tombo para trás.
-Lucille? - Rhysand se levanta rapidamente e vem até mim.
-Fechou? - Minha voz sai em um fio.
-Sim. - Mesmo que tenha as feições preocupadas, ele sorri. - Você conseguiu.
-Ótimo... Ótimo... - Tento sorrir mas é como se eu não tivesse mais controle sobre o meu corpo. - Será que... - Minha voz falha e eu tento de novo. - Será que eu poderia descansar um pouco agora?
-É claro, você...
Não escuto o resto da frase. Meus olhos se fecham e eu cedo a exaustão.
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A Corte de Mundos e Alianças (Vol.2)
FanfictionApós os eventos anteriores, Lucille se permitiu acreditar que poderia finalmente aproveitar seus dias de paz com seus amigos e seu parceiro, agora marido, Azriel. Ela estava errada. Algo havia acontecido naquela batalha nas florestas da Corte Outona...