Nós descobrimos que ter Cassian e Fenrys juntos era uma péssima ideia. Eles eram impossíveis e atormentaram até mesmo Rhysand.
O homem lobo não demorou a descobrir o porque de Amren ser o alvo favorito do illyriano. Em um momento em que estávamos todos reunidos à mesa, ele acabou soltando que Amren era tão pequena que devia pertencer ao povo pequenino. Como Cassian, Nestha e Helion não tinham visto a mente de Fenrys, Rhys mostrou a eles. Nem mesmo Nestha conseguiu se segurar. É óbvio que todos nós fomos ameaçados de vários tipos de torturas diferentes.
Por mais que gostasse da bagunça, no dia seguinte, o Grão-Senhor me pediu que levasse Cassian e Nestha para Velaris. Ele precisava tratar alguns assuntos com Helion, antes que fosse embora, e não queria arriscar deixar Amren e Fenrys sozinhos.
-Acho um absurdo que a gente tenha que ir embora. - Cassian murmurava enquanto fazíamos os preparativos para ir.
-A gente não teria que ir se você não se tornasse um demônio perto de Fenrys. - Nestha se vira para mim. - Sem ofensa, Lucy.
-Não ofendeu. - Respondo e me viro para Cassian. - Ela está certa.
-Vocês são tão chatas.
Optei por não responder. Eu achava a situação toda engraçada, por mais que já estava quase perdendo a paciência com eles. Já era difícil suportar um, dois então?
O vento frio acerta meu rosto quando atravessamos em Velaris. A cidade estava ainda mais bonita manchada de branco pela neve.
-Não me canso da beleza desse lugar. - Cassian sussurra, mas logo sorri maliciosamente. - Só não é mais bonito que o rosto da minha Nestha quando está...
-Cassian! - Ela o repreende com as bochechas coradas.
-Você é decadente, Cassian. - Luto contra a gargalhada que tenta me escapar.
-Ela adora isso. - Ele me cutuca com o cotovelo.
-Não, eu não adoro. - Nestha anda em direção a Casa do Rio.
-Ela adora sim. - Sussurra para mim.
A porta da frente se abre e uma Feyre com vários agasalhos diferentes e nariz vermelho pelo frio vem nos receber.
-Entrem! - Nos apressa. - Está muito frio!
-Você é tão exagerada! - Cassian diz enquanto a abraça e deixa um beijo em sua testa.
-É você quem tem problema por não sentir esse frio! - Sorri.
A Grã-Senhora nos leva para a sala, se sentando o mais perto possível da lareira. Xícaras de chocolate quente aparecem na nossa frente assim que nos sentamos.
Eu não comento que assim que passei pela porta, um cheiro forte de medo atingiu meu nariz. Mas não era de Feyre, oh não, ela não teria medo de mim. Eu sabia muito bem de quem vinha o cheiro.
-Onde está Orion? - Pergunto.
-No quarto de cima com Elain. - Bingo! - Ela me pediu para ficar com ele enquanto vocês me atualizavam sobre as coisas.
-Como se você e aquele fofoqueiro do Rhysand não se falassem toda hora. - Nestha murmura.
-Ele não é fofoqueiro. - Responde fazendo uma careta.
-Ele pode até não ser. - Cassian diz depois de tomar um gole do chocolate. - Mas você é.
Feyre franze o cenho, a boca se transformando em uma linha fina, e então uma borboleta de água acerta o rosto do illyriano.
-Eu não acredito nisso...
Eu noto quando Nestha vira o rosto e aperta os lábios, tentando conter uma risada. Os olhos da Grã-Senhora brilham com aquilo.
-Então... - Se vira para mim. - Como vão os treinos?
-Bons... - Hesito.
Estava indo até bem. Eu agora conseguia abrir e fechar portais pequenos, em distâncias curtas, com facilidade. Só tinha um problema, eu desmaiava todas as vezes. Aquilo consumia muito da minha energia.
-Você vai conseguir. - Feyre sorri para mim.
-Ela vai. - Nestha completa.
-Sem dúvidas! - Cassian termina.
Saio da Casa do Rio pouco tempo depois, preferindo caminhar pela cidade do que atravessar, por mais que eu não tivesse tanto tempo.
Conforme eu andava, voltei a sentir aquele cheiro conhecido. Diferente do que eu havia sentido na casa, mas eu sabia que era medo. Aquilo não era normal. Eu não devia sentir os cheiros quando não estivesse usando meus poderes. Falaria com Rhysand sobre. Esqueço meus pensamentos quando chego ao meu destino.
A neve ganhava forma conforme uma garotinha de pele esverdeada montava um boneco de neve. Kyla usava um agasalho vermelho enquanto um gorro cor de rosa cobria seus cabelos castanhos. Ela ainda não tinha me visto.
Solto poder apenas o suficiente para formar um único tentáculo de escuridão sólida. Eu estendo minha mão e ele deslisa lentamente na neve até o gorro da garotinha, faço com que ele o pegue e o coloque no boneco de neve.
Qualquer outra pessoa poderia ter se assustado, qualquer outra criança poderia chorar ou gritar. Mas Kyla sorriu, um sorriso enorme e brilhante, seus olhinhos castanhos encontram os meus rapidamente.
-Eu sabia que era você! - Ela diz, correndo até mim. - Eu disse para os meus amigos que você viria me ver!
Eu a pego em meu colo, sentindo seus braços apertarem o meu pescoço. Beijo sua bochecha gordinha e gelada pelo frio.
-É claro que eu vim.
-Por que demorou tanto? - Pergunta.
-Estive resolvendo alguns problemas.
Ela se mexe, querendo descer e eu a coloco no chão. Kyla segura minha mão.
-Vem! - Começa a me puxar para a casa. - Fiz mais pinturas. - Então para e se vira para mim, hesitante. - Você quer ver?
-É claro que sim. - Sorrio para ela.
A garotinha saltitante e sorridente me leva para dentro da casa pequena e confortável. Florence estava na cozinha, mexendo algo no fogão.
-Lucille! Que bom ver você! - Sorri para mim.
-É bom ver você também, Florence. - Kyla puxa uma cadeira para que eu me sente. - Atrapalho?
-Claro que não! Fica para almoçar com a gente hoje?
Para ser sincera, eu pensei em dizer não. O tempo era escasso e eu estava muito cansada por abrir e fechar portais a todo momento, mesmo quando acabara de voltar de um desmaio. Mas elas estavam me olhando com tanta esperança nos olhos. Elas gostavam da minha companhia como eu gostava da delas.
Kyla sempre fora uma criança especial para mim, desde que nos conhecemos. Mas eu passei a admirar Florence quando fui me despedir por estar saindo em lua de mel. A noite em que ela me contou sua história.
Florence nascera na Corte dos Pesadelos, pouco depois de Rhysand assumir como Grão-Senhor. Ela detestava o lugar, odiava ainda mais que não pudesse deixá-lo. Mesmo com todo o preconceito dos homens da Cidade Escavada, lutou para que fizesse parte dos exércitos. Desde então ela vivera um inferno. Eles fizeram o possível e o impossível para que ela desistisse, de coisas insignificantes a tentar matá-la. Eles conseguiriam se Rhysand não tivesse intervido. O Grão-Senhor carregou o corpo quase sem vida de Florence até Velaris, depois voltou para punir aqueles que a feriram. Quando estava curada, agradeceu a Mãe, ao Caldeirão, a Rhysand, a qualquer um que tenha a tirado daquele lugar, mas também pediu a ele que continuasse fazendo parte dos exércitos e ele concedeu. Ela conhecera o pai de Kyla anos depois, ele não fazia parte de Velaris e nem mesmo da Corte Noturna, era da Primaveril. Os dois reconheceram a parceria no mesmo instante. Rhys compreendeu, é claro. Então Kalyon, o parceiro de Florence, forjou a própria morte e fugiu para Velaris com a parceira e o Grão-Senhor da Corte Noturna. Ele sairá para em uma missão certa noite e nunca mais voltará, mas Florence sentiu, sentiu quando o laço da parceria foi destruído ao mesmo tempo em que Kalyon era assassinado. Ela descobriu a gravidez dias depois, no mesmo dia em que trouxeram o corpo dilacerado de seu parceiro.
As duas continuam olhando esperançosamente para mim, esperando minha resposta.
-Mas é claro. - Respondo.
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A Corte de Mundos e Alianças (Vol.2)
FanfictionApós os eventos anteriores, Lucille se permitiu acreditar que poderia finalmente aproveitar seus dias de paz com seus amigos e seu parceiro, agora marido, Azriel. Ela estava errada. Algo havia acontecido naquela batalha nas florestas da Corte Outona...