A primeira pessoa em quem penso quando acordo é Rhysand. A culpa quase me faz apagar de novo. Me forço a abrir os olhos para encontrar um teto branco e a claridade que faz minha visão doer, me obrigo a sentir a dor. Eu mereço muito mais que isso.
-Olá, meu pequeno demônio!
A voz cheia de animação atrai minha atenção para o homem ao meu lado, não tinha sentido seu aperto caloroso em minha mão. O contraste entre sua coroa, do que eu suponho ser raios de sol, e seus cabelos e pele escura só o deixa ainda mais bonito.
-Olá, Helion. - O sorriso que brota em meus lábios é involuntário.
Depois do que fez por Azriel e nossa Corte, o Grão-Senhor da Corte Diurna tinha conseguido minha confiança, mas depois do meu casamento, Helion tinha ganhado a minha amizade.
-Soube que anda abrindo portais.
Faço uma careta, uso a mão livre para esfregar o rosto. O macho ri.
-Tem que admitir que é realmente incrível.
-Não, não é. - Falo. - É perigoso e imprudente.
-É claro que não! - Revira os olhos. - Se não tivesse aberto o portal, eu não teria conhecido aquela beldade de outro mundo.
Minha boca cai aberta e eu me sento rapidamente, ignorando a tontura. Helion gargalha.
-Fenrys? - Pergunto.
-Ele precisou de alguém para curar seus ferimentos e coincidentemente, ou não, eu estava a caminho da Corte Noturna. - Dá de ombros. - Como sou muito prestativo, me voluntariei na mesma hora.
-Você... - Rio. - É inacreditável.
-Eu tive que me virar já que você recusou minhas propostas.
-Não começa. - Reviro os olhos, sem conseguir esconder o sorriso.
-Sabe que é verdade. - Ele beija o dorso da minha mão. - Você e Azriel, Cassian e Nestha... Não sabem aproveitar o melhor da vida.
-Tenho certeza que Feyre e Rhysand não recusariam. - Provoco.
-Eu gosto dos difíceis. - Sorri maliciosamente. - Saiba que está perdendo uma oportunidade incrível.
-Azriel não gosta muito da ideia de compartilhar...
Percebo que falei algo errado antes mesmo de terminar. Helion ergue as sobrancelhas, seu sorriso aumentando.
-Então é só Azriel que não aprova a ideia?
-Já chega disso... - Viro o rosto, sentindo minhas bochechas pegarem fogo.
Sinceramente, eu havia pensado na hipótese. Mas nenhum deles precisava saber.
-Então, - Mudo de assunto. - não encontrou nada de diferente na Corte?
-Não. - Se recosta na cadeira em que estava sentado. - Cassian e Nestha voltaram hoje, também não encontraram nada na Crepuscular.
-Cassian e Nestha estão aqui?
-No momento eu não sei onde eles estão...
O tom que ele usa, como se estivesse escondendo algo, não me passa despercebido.
-O que aconteceu?
-Nestha e Amren... - Helion suspira. - Elas discutiram, não foi nada legal.
-Por quê?
-Nestha ficou furiosa quando soube o que aconteceu na sala de treino.
-Oh...
Com a companhia de Helion era fácil esquecer os problemas. A culpa volta a me atingir.
-Não se culpe. - O Grão-Senhor segura meu queixo entre o polegar e o indicador, levantando meu rosto. - As coisas podem sair do controle, não é difícil de acontecer.
-Eu poderia ter matado eles.
-Mas não matou.
Levanto o olhar para o seu. Algo passa pela minha cabeça. Uma lembrança de algo que eu vi na mente de Fenrys. Uma curandeira capaz de destruir um rei valg como se não passasse de uma doença.
-Helion... - Seguro sua mão. - Me prometeria algo?
-Se estiver ao meu alcance, querida.
-Se for demais, se eu sair do controle e Rhysand não conseguir me trazer de volta...
-Não me peça isso, garota. - Helion nega com a cabeça e franze as sobrancelhas.
-Quero que destrua a parte valg dentro de mim.
-Isso a mataria. A parte valg faz parte de você, é você.
-Eu sei.
-Então como pode me pedir uma coisa dessas?
-Porque eu sei que você faria. - Nega mais uma vez. - Pela sua Corte, pelos seus amigos, por Prythian. - Tenta tirar a mão da minha mas eu a seguro com mais força. - Por favor, Helion.
-Você não vai se descontrolar.
-Então me prometa que fará se acontecer.
-Não vai.
-Por favor...
Os olhos do Grão-Senhor estão fixos nos meus. Não cedo. Eu precisava de pelo menos uma garantia de que alguém me pararia. Feyre não faria, eu sabia, e Eris era minha última opção. Eu confiava em Helion.
-Eu prometo.
Um suspiro de alívio deixa meus lábios e dessa vez sou eu quem beijo o dorso de sua mão.
-Obrigada.
-Você é uma péssima amiga.
Eu ri enquanto ele se levantava e ia até a porta. Helion não fecha a porta quando sai, é Amren quem fecha depois de entrar. Ela caminha até mim e toma a cadeira que o Grão-Senhor estava sentado.
-Como se sente? - Cruza as pernas.
-Bem. - Respondo.
A fêmea me observa atentamente antes de suspirar.
-Sinto muito, garota, não queria que aquilo acontecesse. Fui muito dura com você.
-Você não estava errada. - Ela franze as sobrancelhas mas eu continuo. - Você está certa. Eu preciso fechar aquilo e enquanto isso não acontecer, todos nós estamos em perigo.
Aparentemente ela ficou sem reação, apenas me encarava com as sobrancelhas erguidas.
Eu estava sendo sincera, Amren não mentiu em nada do que disse. Se eu consegui abrir o portal, eu podia fecha-lo.
-Agradeço pelo incentivo, Amren, nós vamos conseguir. Eu vou fechar aquele portal antes que mais seres atravessem.
Enquanto eu falava, tentava acreditar nas minhas próprias palavras. Não tinha ideia de como fecharia aquilo, mas eu sabia que precisava.
-Sim, garota. - Diz por fim. - Você vai conseguir.
Ela se levanta e caminha até a porta, mas para antes de abri-la e se vira para mim.
-Como sua mente está?
-Normal. - Franzo as sobrancelhas. - Por quê?
-Nada, garota. - Abre a porta. - Descanse o quanto precisar.
Amren sai do quarto, me deixando analisando o que ela disse.
Como estava minha mente? Minha consciência estava pesada pelo que aconteceu, mas fora isso eu estava bem. Não estava?
Minha situação ficaria para depois, eu precisava encontrar Rhysand e pedir perdão pelo que havia feito. Eu não podia nem mesmo imaginar o quanto eu deveria ter mexido com a cabeça dele.
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A Corte de Mundos e Alianças (Vol.2)
FanfictionApós os eventos anteriores, Lucille se permitiu acreditar que poderia finalmente aproveitar seus dias de paz com seus amigos e seu parceiro, agora marido, Azriel. Ela estava errada. Algo havia acontecido naquela batalha nas florestas da Corte Outona...