Capítulo 32

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-Apesar das proteções mágicas, - Azriel começa. - o castelo é guardado por humanos, tanto do lado de dentro quanto de fora.

-Nós podemos passar por eles. - Falo.

-Você está quase em esgotamento, Lucy. - Meu parceiro me faz franzir o cenho. - Seus olhos estão fundos, você está ofegando e não consegue parar de tremer.

-Isso não faz diferença. - Eu não tinha reparado em nenhuma dessas coisas. - Posso passar por eles sem meus poderes.

-Eu sei que consegue, - Feyre intervém. - mas é melhor ficarmos juntos.

Apenas assinto, eu me sentia esperançosa, sentia os pedacinhos do meu coração sendo colados pouco a pouco, peça por peça.

-O calabouço fica em um cômodo lotado de guardas, a única função deles é impedir que qualquer um sem permissão adentre. - Az continua sua explicação.

Kyla estava viva, eu tinha certeza que sim, talvez Florence também estivesse, se tivéssemos chegado a tempo. Precisávamos ser rápidos.

-Pode nos atravessar? - Pergunto.

-Somente para esse quarto, dentro do calabouço não.

-Já é o suficiente. - Aperto Justiça com mais força. - Temos que nos apressar.

-Nós entramos, a pegamos e atravessamos de volta. Entenderam? - Feyre comanda.

Eu sabia que ela também estava se esgotando e que Azriel estava cansado, o tempo não estava ao nosso favor, nada estava. Mas talvez o Caldeirão sim.

-Tudo bem. - Dizemos juntos.

Meu parceiro pega a mão de Feyre e entrelaça os dedos aos meus.

Vamos trazê-la de volta.

Suas sombras sussurram antes daquela sensação de estar em completo escuro nos alcançar. Ouço sons de espanto e então o ferro das espadas.

-O que é isso? - Um dos guardas grita.

Eu o silencio lançando Justiça em sua garganta. Azriel pega o do lado, atravessando por trás dele.

Talvez fosse tarde demais e eles tivessem não só matado Florence, mas Kyla também. Eu vira sua mão tão pequena, vira no quadro também. Talvez estivéssemos nós cansando atoa e ela tivesse desaparecido no fogo infernal de Abaddon.

Desvio daqueles que desferem golpes de espada em mim, usando suas próprias lâminas contra eles. A Reveladora da Verdade corta aqueles que estão mais distantes quando seu portador desaparece e aparece entre as sombras, a garra única em cada uma de suas asas rasgando aqueles longe do alcance de sua adaga. O último guarda cai quando minha espada rasga seu estômago.

Respiro fundo várias vezes, sentindo o aperto em minha garganta quase me asfixiar. Az pega minha mão, me fazendo olhar em seus olhos.

-Respira. - Diz. - Vamos conseguir, só precisa respirar.

-O que vocês... - A voz de Feyre sai como um sussurro.

A Grã-Senhora está imóvel, parada sob a pequena porta no chão que nos levará ao calabouço, há respingos de sangue em seu rosto.

-Vocês... - Não consegue terminar a frase.

Eu procuro p que a deixou assim. Azriel e eu estamos quase no centro de uma sala com vários guardas, dezenas deles, meu parceiro tem muito sangue em seu rosto e vestes, não que já não tivesse antes e eu com certeza estou igual, se não pior. Mas não parece nada surpreendente para mim.

-Precisamos continuar. - Ele diz.

Feyre engole algumas vezes antes de nos dar espaço para abrirmos a porta. Meu coração quase sai pela boca quando Az segura a maçaneta e a abre.

-Roger? - Uma voz grita de lá de dentro. - O que está acontecendo aí em cima?

Meu esposo leva o dedo indicador aos lábios, nos pedindo silêncio e começando a descer as escadas, eu desço logo atrás.

O cheiro de sangue e podridão é a primeira coisa que eu sinto, o local é escuro, iluminado apenas por algumas tochas de fogo, o que dificulta a visão dos humanos e facilita a minha e de Azriel. Feyre fecha a porta atrás dela. Nós seguimos por um extenso corredor, várias celas vazias com grossas barras de ferro nos seguiam enquanto mais adentramos. Então algo chama minha atenção, um cheiro conhecido, o sangue de Kyla.

Eu passo na frente de Az, seguindo sorrateiramente pelo escuro. O cheiro vinha da última cela do corredor, misturado ao cheiro de Florence, de Abaddon e de humanos.

Tem mais lá dentro.

Sussurro através das sombras.

Pegue-as com Feyre e eu lhes darei cobertura.

Nós paramos de frente as portas, Feyre estende a mão que brilha com fogo e derrete facilmente as barras de ferro. Na mesma hora, ouvimos os protestos dos guardas atrás e à nossa frente. Azriel entra com a Reveladora da Verdade, eu dou um passo para dentro.

No canto, acorrentada à parede está Kyla, sua pele está clara demais, suas vestes, as mesmas da última vez em que nos vimos, está manchada de sangue e vômito, o pulso acorrentado está acima da cabeça e o que está solto, jorra sangue pela falta de uma das mãos. Em sua frente, o corpo dilacerado de Florence. A garotinha encara o corpo sem vida da mãe sem expressar qualquer reação, completamente estática. Feyre leva as mãos a boca, lágrimas escorrendo e seus olhos.

Florence foi assassinada na frente de Kyla, uma garotinha que não tinha mais que sete anos, e ninguém, nenhuma dessas pessoas, fez nada para ajudar. Assim como uma vez acontecera comigo.

Eu sinto aquele ódio mortal me consumir de novo, sinto o peso da coroa em minha cabeça e solto a escuridão que vai em direção aos guardas.

Feéricos, morte, pobreza... São os medos mais comuns que eu encontro nas mentes daqueles humanos que apenas assistiam enquanto uma garotinha era torturada. Eles não a ajudaram porque ela era uma feérica. Me alimento de seus medos, me fortaleço nele e sigo até Kyla.

Me ajoelho à sua frente, tampando a visão do corpo de Florence.

-Pequena? - Sussurro. - Sou eu.

Ela não se move, não me olha.

-Sou eu, a Lucy. - Tento de novo. - Vim buscar você.

Ela continua com o olhar vazio, encarando o nada, seu peito sobe e desce, mas ela não reage.

Eu fecho os olhos e quando os abro, volto ao momento em que nos conhecemos, o momento em que tudo mudou, seguro sua única mãozinha restante.

-Você foi muito corajosa ficando aqui sozinha, nem todos tem tanta coragem assim. - Repito as palavras que lhe disse naquele dia frio na neve. - Quem é a pessoa mais corajosa que você já conheceu? - Sinto as lágrimas finalmente saindo, manchando minhas bochechas.

Lentamente, Kyla levanta os olhos e encontra os meus, seus lábios se entreabrem e ela sussurra com um fio de voz:

-Minha mãe.

O soluço que deixa os lábios dela a seguir parte meu coração, a garotinha chora desesperadamente, soluçando e tremendo. Ergo minha mão para suas correntes e as destruo, pegando-a em meu colo.

-Vamos levá-la. - Eu falo para Azriel que para ao meu lado, me referindo a Florence.

Meu parceiro assente e pega o corpo da mulher em seus braços. Kyla soluça violentamente, segurando o pulso vazio, manchando-nos com seu sangue inocente.

Eu entro em sua mente quando Feyre segura meu braço para nos atravessar.

Sabe quem é a pessoa mais corajosa que eu conheço? É você, Kyla.

Falo antes de a apagar, fazendo-a relaxar em meu colo. E nós atravessamos para Velaris.

A Corte de Mundos e Alianças (Vol.2)Onde histórias criam vida. Descubra agora