CAP XLIX - SEIS

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Trilha sonora do capítulo: Nightmare - Undream.

DEEM PLAY NA MÚSICA.

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Ottawa, Canadá. Mansão Bicalho.

SEIS DIAS PARA O JULGAMENTO.

- Não acredito que você não saiba todo esse tempo o que eu tenho feito. Éramos carne e unha, e não pense que disquei seu número para dizer que sinto sua falta, talvez nos dias mais infernais da minha vida eu possa sentir e embora agora eu sinta que cheguei ao fundo do poço, não gostaria de estar ao seu lado. Só queria uma vez na vida ser sincera com você, mas por piedade já que não consigo sentir isso por mim mesma.

O líquido delicioso da garrafa de Uísque era derramada por sua garganta tão facilmente que parecia estar bebendo água. O intervalo de segundos que antes era critério para saborear um bom Uísque de acordo com uma das maiores de suas apreciadoras foi esquecido para dar espaço a sede de exposição que ela sentia agora. Não inspirar o vapor alcoólico da bebida e estar pouco se importando com o gosto espirituoso e marcante que a mesma sempre teve não significava nada, ela ficava ainda mais corajosa para falar com alguém ao sentir o efeito do álcool, ainda que não tivesse que dizer nada.

- Você deveria saber que sempre que estive insegura quanto a deixar o Rio de Janeiro ou não para voltar ao Canadá e assumir esse caso, não foi por sua causa.

Outro gole. Sua gargalhada tomava conta de todo o espaço que ocupava a cada nova palavra dita para o telefone, como se fosse o álcool se espalhando por seu corpo, tornado-a o diabo, inescrupulosa.

- Você me fazia sentir péssima, me colocava ao seu lado para me afundar no mundo sujo, ordinário e infame que você sempre se afundou para esquecer da porra da sua vida medíocre, e adivinhe? me encontro aqui. Eu sou a fodida Gizelly Bicalho, uma das melhores do mundo e sabe onde estou? afundando com você. Talvez esteja feliz, mas presumo que não vai ficar quando souber que...

Descalços, seus pés alcançaram o chão e sua cabeça pôs-se ereta para observar o espaço ao seu redor, a surpresa era não conseguir observar os objetos sem que na sombra de cada um deles houvessem múltiplos demônios, ou não, era apenas o reflexo de sua covardia. As lágrimas queimavam por seu rosto como se seus olhos jorrassem fogo, a angustia crescia em seu peito tão rápido quanto Kalimann adentrou o escritório para arrancar o celular de suas mãos e impedi-la de dizer mais alguma palavra. Em pleno desiquilíbrio, seu corpo pesava toneladas. Segundos antes do estrondo que fez para adentrar o escritório, Kalimann escutava suas palavras impiedosas colada na porta do lado de fora do escritório compartilhando da angústia que tomava o peito de mulher que estava ao lado de dentro.

A gargalhada estridente se espalhou pelo cômodo como se dezenas de pássaros despertassem de uma só vez em um canto uníssono voando para longe.

Não há embriaguez suficiente que lhe faça admitir erros que você mesmo enterrou para que ninguém os encontrasse, o medo de sua sombra é maior que todos os outros e uma única palavra é capaz de despertá-lo para te fazer sentir o que é ser um grande covarde.

- ESTOU DESAFIANDO-A.

Chamada finalizada.

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