Capítulo 12 - Sephora

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SEPHORA

Sephora observou, impotente, Myr e Cisus nadando em direção a um dos túneis que dava acesso às Câmaras dos Limens, onde poderiam conversar sem interrupções e com a privacidade necessária.

Por mais que soubesse que Myr era o caçador mais competente do bando, Sephora ainda assim sentiu a preocupação se fechando sobre o seu coração e deixando seu estômago revirado.

Por isso, quando o sonar de Thoryn a alcançou, convocando todos os sereianos que estivessem dispostos a ajudar no transporte dos alimentos até os doentes, ela aceitou a tarefa prontamente; pelo menos assim ela teria algo em que pensar, além da missão perigosa que seu pai estava atribuindo ao seu melhor amigo e mais fiel companheiro.

No fim das contas, quase a totalidade dos bleurs que estavam na câmara central de Salarka se apresentaram para ajudar no transporte, o que facilitou muito o trabalho de todos; a cada um foi dado um embrulho feito com algas marinhas, no interior, havia uma massa rosa, constituída de carne de tubarão e limpatis, uma alga utilizada pelos curandeiros que acelerava o processo de desintoxicação.

Todos os voluntários foram divididos em três grupos diferentes e, acompanhados por caçadores que haviam sido designados para garantir um transporte seguro e afastar qualquer predador que pudesse ser atraído pelo cheiro da carne, encaminharam-se para as cavernas que abrigavam os vermillianos. Naturalmente, Sephora ficou com o grupo que forneceria os alimentos para Ylark.

Havia um membro da equipe de logística administrando a entrada dos voluntários para dentro da caverna através dos túneis de acesso, como uma forma de garantir que não haveria qualquer tumulto.

Em questão de minutos, Sephora submergiu da bolsa de água salgada no formato de meia-lua que dava acesso ao interior da caverna e foi surpreendida pela visão de dezenas de vermillianos deitados no chão pedregoso, enrolados em pedaços de tecidos úmidos para retardar a desidratação – geralmente, lençóis e cobertores retirados de embarcações naufragadas pelas equipes de exploração -, enquanto curadores, aprendizes e voluntários rapidamente se moviam por entre os corpos adoecidos, parecendo ocupados.

Cinco jovens trentins, que pareciam mal ter completado os cento e noventa e dois ciclos lunares necessários para poderem auxiliar como aprendizes, pegavam os embrulhos com os sereianos que vinham dos túneis e passavam para os curandeiros.

A maioria dos sereianos que estava ajudando com a distribuição de comida voltavam para dentro da água logo depois de entregar seus embrulhos, mas Sephora considerou que havia muito pouco pelo que voltar e a perspectiva de ficar ociosa aguardando pelo fim da reunião entre Cisus e Myr não era nada motivadora.

Por isso, usou os braços para impulsionar-se para fora da bolsa d’água e rastejou para perto de um dos vermillianos mais próximos de seu alcance; surpreendeu-se ao perceber que era o tritão que ela e Myr haviam transportado mais cedo, com a curiosa cicatriz cortando a metade direita do seu rosto.

Ele continuava desacordado e, quando tocou os panos que o envolviam, percebeu que eles já não estavam tão molhados. Ergueu os olhos e observou os demais sereianos compenetrados em suas próprias tarefas; por isso, resolveu ela mesma tomar conta da situação.

Com cuidado, começou a tentar puxá-lo em direção à piscina nas proximidades, mas ele era pesado demais para ela e Sephora tinha a sensação que acabaria rasgando o tecido que o envolvia.

 “Acho que seria melhor se a gente molhasse o Krato um pouco”, Sephora ergueu os olhos para encontrar Rien falando com ela, a vermilliana que havia respondido as perguntas do Conselho mais cedo, “Eu vi os curandeiros fazendo isso também. Vai ajudar a mantê-lo hidratado por mais tempo. E acho que nós duas conseguimos carregá-lo, considerando que a água está aqui do lado”, indicou a bolsa de água com um aceno de cabeça.

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