Capítulo 13 - Alex

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ALEX

Alex voltou a se esforçar para manter uma certa distância entre ele e Bianca, mesmo depois de terem tido aquela conversa agradável na praia; sabia que seu entrosamento com ela era algo que devia ser calculado cuidadosamente, de forma que deixou-a sozinha com os seus pensamentos antes que sua presença se tornasse um incômodo.

Chegou a ter alguns vislumbres dela durante o restante do dia, mas tratou de se manter ocupado o suficiente para não acabar cedendo à vontade quase incontrolável que tinha de segui-la pelos cantos como se fosse um cachorro carente até que ela o levasse a qualquer novo indício que lhe indicasse que seu avô não era louco e as sereias eram reais.

Mas também sabia que as coisas não seriam tão simples assim; seu pai sempre lhe disse que a pressa era a maior inimiga da perfeição e Alex sabia que aquele dito popular se encaixava perfeitamente à sua situação atual.

Pela primeira vez em mais de uma década, Alex Pontes sentia-se realmente próximo da verdade acerca da existência das sereias e sabia que Bianca era uma peça fundamental para que ele conseguisse as respostas pelas quais vinha procurando.

Caso tentasse apressar a situação para conseguir um resultado rápido, que era obviamente o que desejava, podia correr o risco de perder essa oportunidade para sempre, o que equivaleria a jogar todos os últimos anos de sua vida no lixo por um momento de insensatez.

E ele não estava disposto a fazer isso.

Entendia que precisaria de tempo para conseguir abordar Bianca Velasquez sobre a existência das sereias, mas tinha chegado à conclusão que poderia fazer suas próprias investigações em paralelo, baseando-se nas pequenas pistas que ela deixava escapar e em seus próprios instintos.

Os desenhos recorrentes de sereias em seu caderno, por exemplo, insinuavam que ela continuava fixada no assunto, o que enchia o peito do homem de esperanças. E o fato de que eles eram bem semelhantes aos de seu avô apenas contribuíam para a sua teoria de que as criaturas eram reais, uma vez que era pouco provável que duas pessoas que nunca haviam se conhecido tivessem um delírio idêntico.

Alex observou a mulher sentada com os avós numa das mesas do salão de refeições; os três tinham taças de vinho cheias sobre a mesa e pareciam se camuflar entre os demais hóspedes.

Apostando que Bianca ficaria mais algum tempo com os avós, ele rapidamente percorreu as trilhas que ligavam a sede da pousada até o seu chalé. Abriu a porta e fechou-a às suas costas, rapidamente despindo-se da sua roupa para vestir um calção, pegar seus óculos de mergulho e uma lanterna; queria aproveitar a distração da mulher para vasculhar a pequena e afastada praia que ela havia ocupado durante grande parte do dia.

Algo lhe dizia que ali estava mais uma peça fundamental para o quebra-cabeça que o intrigara desde que seu avô desaparecera.

Quando finalmente deixou o chalé a passos apressados, quase tropeçou em Pimenta, que estava sentado em frente à sua porta, observando-o com as orelhas erguidas e a cabeça inclinada.

- Pimenta! – Alex exclamou num sussurro urgente, que combinava com seu estado de espírito – Vai lá! Volta para a pousada! Tenho certeza que você vai encontrar alguma criança mais do que satisfeita em contrabandear pedaços de carne para você por baixo da mesa!

O cachorro não entendeu ou simplesmente fez pouco caso da sugestão do homem, porque ao invés de sair trotando na direção da grande construção iluminada, ele ergueu-se das patas traseiras e ficou com o quadril movendo-se agitadamente de um lado para o outro.

“Não tente me fazer de bobo, humano. Eu quero ir com você”, era o que ele parecia dizer.

Talvez a adrenalina que deixava Alex trêmulo estivesse sendo sentida pelo canino; no fim das contas, Pimenta sempre fora um grande aventureiro, até se tornar um cachorro domesticado e mimado pelos donos da pousada, seus funcionários e o gigantesco fluxo de hóspedes.

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