Capítulo 17 - Sephora

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Capítulo 17

SEPHORA

A partida de Myr pareceu ter deixado um vazio imensurável dentro de Sephora. No entanto, por mais que a sereia pudesse admitir que gostaria de se fechar em sua câmara individual e ficar enrolada ali até que conseguisse lidar com todos os sentimentos que a assolavam, sabia que os vermillianos adoecidos precisavam de toda a ajuda que os bleurs pudessem oferecer e, por isso, assim que o grupo composto de quatro sereianos desapareceu do seu campo de visão, ela nadou em direção a Ylark.

Quando finalmente surgiu dentro da piscina de água salgada que dava acesso ao interior da caverna, foi surpreendida pelo clima sombrio e soturno que parecia contaminar o local. Encontrou Rien cuidando de Krato, mas havia algo de doloroso nos olhos escuros da vermilliana.

“Rien”, Sephora impulsionou-se para fora da água e deslizou até a outra sereia, “O que houve?”

Rien ficou em silêncio por algum tempo, passando a mão pelo rosto do tritão desacordado, quase como se esperasse que ele fosse despertar ao seu toque. Sephora apenas observou a cena, esperando por uma resposta, mas respeitando o silêncio contemplativo da outra sereia.

“Vinte e três de nós morreram de ontem para hoje”, Rien respondeu, afinal de contas, sem erguer os olhos de Krato.

Sephora colocou a mão sobre a de Rien, o que fez com que a vermilliana voltasse a atenção para ela; seus olhos pareciam irradiar um tipo de tristeza que era completamente desconhecido para a bleur e isso fez com que Sephora se sentisse inadequada. Não sabia o que poderia dizer ou fazer para melhorar aquela situação.

“Nós estamos nos esforçando para que mais nenhum de vocês tenha que passar por isso novamente”, a bleur disse, tentando transparecer em sua voz uma calma que não sentia realmente.

“Eu tinha esperanças que tudo fosse melhorar quando chegássemos, mas...”, a vermilliana se interrompeu, voltando sua atenção para o tritão desacordado entre elas, “Mas a verdade é que esses vinte e três não serão os últimos a morrer, Sephora, e acho que você sabe disso tão bem quanto eu. E isso não é culpa de vocês. Eu vejo o quanto têm se esforçado para nos ajudar. Mas, em alguns momentos, eu me pego pensando que tudo isso é inútil. Não temos o tipo de tecnologia para conseguir salvar a todos, e...”, ela hesitou, o peito subindo e descendo no ritmo de sua respiração carregada, “Éramos tão numerosos, antes. De repente, uma negligência humana e estamos lutando para garantir a sobrevivência de um quarto da nossa população...”

Sephora ficou em silêncio, incerta de como confortar a vermilliana. O que ela poderia possivelmente dizer para que Rien se sentisse melhor?

Por um segundo, permitiu-se inverter os papéis. Imaginou que era ela ali, ajoelhada ao lado de Myr, enquanto todos os seus conhecidos, amigos e colegas estavam deitados em chãos pedregosos à sua volta, lutando para manter as próprias vidas; viu em seu desespero hipotético um reflexo fraco e nublado daquilo que imaginava que Rien estava sentindo.

“Sei que não posso prometer nada agora, Rien”, ela disse, por fim, “Não é justo que vocês tenham que passar por tudo isso. Mas quatro dos nossos mais corajosos e competentes sereianos partiram para levar o nosso pedido de ajuda aos submersos e eles têm a tecnologia necessária para reverter essa situação”.

Houve um breve instante de silêncio, durante o qual as palavras de Sephora pareceram ser absorvidas pela outra sereia.

“Você acha que eles vão ajudar?”, Rien perguntou, afinal.

“Para ser sincera, é a primeira vez que pedimos ajuda para eles em algum assunto atípico desde que eu me lembro”, Sephora respondeu, sabendo que a verdade, em casos como aquele, era sempre a melhor política, “Mas eles nunca se negaram a ajudar os sereianos antes. Não acho que nos virariam as costas justamente agora”.

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