SEPHORA
Sephora estava exausta, mas, ainda assim, estava em Ylark porque precisava aplicar os medicamentos em Krato antes de se retirar para dormir; Thoryn havia deixando uma bolsinha plástica com os remédios dele separada e a sereia a tinha em mãos, enquanto se sentava ao lado do tritão.
Soltando um bocejo, ela pegou gentilmente o braço dele e virou-o. Lentamente, passou a ponta dos dedos até encontrar o ponto na altura do cotovelo onde os submersos estavam aplicando as injeções.
Ela abriu a bolsa de plástico e puxou a seringa de lá de dentro; estava com os olhos presos no objeto, tentando determinar se aquela era a correta, quando a voz de Krato tirou-a de seus pensamentos.
"Você não está mais falando", sua voz ainda era baixa e fraca, mas o fato de que o tritão conseguia falar uma frase inteira sem se interromper para respirar era um claro sinal de que estava se fortalecendo.
Sephora fixou os olhos nele e ofereceu-lhe um meio-sorriso.
"Estou cansada, Krato, sinto muito", ela respondeu; embora não fosse uma mentira, também não era toda a verdade.
"Você não falou nada comigo o dia inteiro", ele murmurou, seus olhos escuros presos nela, enquanto Sephora espetava gentilmente a seringa no ponto encontrado.
"Achei que você estivesse dormindo", ela rebateu, enquanto pressionava a ampola e observava o líquido dentro da seringa sendo empurrado para dentro do corpo de Krato.
"Isso nunca te impediu antes", ele murmurou de volta, seu rosto de contorcendo numa expressão incômoda enquanto o líquido gelado entrava em seu corpo.
Sephora não conseguiu pensar em nada para dizer, por isso resolveu ficar em silêncio, evitando os olhos dele enquanto remexia a bolsa atrás dos outros remédios.
"É porque eu ataquei aquele submerso, não é?", o tritão perguntou novamente e Sephora parou o que estava fazendo para olhar para ele, "Eu vi como você me olhou quando estavam me afastando dele".
Havia algo na forma como Krato havia falado aquilo; uma espécie de decepção com remorso. Ela não conseguia realmente definir o que era, mas fez com que ela se sentisse um pouco menos apreensiva em relação ao vermilliano.
"Foi um pouco aterrorizador", ela admitiu, enquanto colocava uma alga úmida sobre o pequeno furo produzido pela agulha da seringa para estancar o sangue de Krato, limpando a área em volta com um papel umedecido que estava dentro da bolsa de remédios.
"Eu só... entrei em pânico", ele murmurou, seu tom de voz quase doloroso, "Ouvi uma voz que não era a sua e abri os olhos para ver um humano em cima de mim, eu... Eu nem lembro direito do que eu fiz, para ser honesto", deu um sorriso sem humor, "Mas não queria ter machucado aquele submerso. Vou me desculpar quando tiver a oportunidade", ele voltou os olhos para ela, ansioso.
"E se fosse um humano? Teria sido aceitável, então?", ela perguntou, mas não teve coragem de erguer os olhos da bolsa de remédios, porque tinha medo que ele pudesse perceber a indignação que ardia dentro dela.
"Bem... Se fosse um humano, seria um humano. Quem, honestamente, se importa?", ele perguntou, seu tom era levemente divertido e só contribuiu para que a preocupação de Sephora começasse a se estender lentamente, contaminando os seus pensamentos. Ele interpretou o silêncio dela como uma discordância e prosseguiu, "Sephora, você sabe que estamos aqui por causa de humanos, não sabe? Quero dizer, eu não estou entendendo. Sei que foi errado da minha parte atacar um submerso, mas eu estava desnorteado e achei que fosse um humano. Você não pode estar tão assustada assim comigo por causa disso. Qualquer um faria a mesma coisa se estivesse no meu lugar", o tom dele era definitivo e isso apenas a deixou mais desconfortável.
"Eu não faria", ela pensou.
Mas, ao invés disso, o que ela disse foi:
"Aqui estão os seus outros remédios, Krato", tentou manter o seu tom de voz leve e agradável, mas era difícil conciliar ele com o peso que sentia na altura do peito, "Você pode colocá-los na boca, por favor?".
O tritão observou-a atentamente, como se estivesse tentando desvendar seus pensamentos, mas aceitou os remédios estendidos na sua direção e levou-os até os lábios.
Os dois ficaram em silêncio por alguns instantes, até que o tritão optou por quebrá-lo:
"Eu sinto muito se te assustei", segurou gentilmente uma das mãos de Sephora com as suas, "Nunca foi a minha intenção".
A sereia olhou-o no fundo dos olhos e tentou comparar aquele Krato com o que tinha quase asfixiado um submerso até a morte, sem realmente conseguir compreender como duas facetas tão diferentes poderiam pertencer ao mesmo tritão. Seus olhos escuros eram tranquilos e transparentes, quando haviam parecido tão cheios de ódio e violência no dia anterior.
"Está tudo bem, Krato", ela murmurou, pressionando a mão de Krato com gentileza, e oferecendo-lhe um sorriso, "Você não fez nada contra mim. Eu nem tenho do que lhe desculpar".
Continua...
N/A: Aqui está mais um novo capítulo!
Espero que estejam gostando!
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Atenciosamente,
Gii Zwicker.
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Segredos Submersos
Science FictionTodos possuem segredos. Alex vem secretamente seguindo os passos de seu avô, que desapareceu numa expedição que tinha por objetivo comprovar a existência das sereias, com a esperança de redimir sua memória. Para isso, começou a trabalhar na Pousada...