BIANCA
Bianca se sentia tão confusa quanto cansada e aquela era uma terrível combinação. Passara a noite inteira rolando entre os lençóis, mas sua mente não parecia capaz de se desligar o suficiente para que o sono pudesse chegar.
Mas, também, como poderia?
Alex havia descoberto sobre Sephora e Bianca não conseguia prever quais seriam as consequências desse fato. Como Sephora estava lidando com isso? O que estava sentindo? O que aquilo significava para a amizade delas?
Talvez fosse simplesmente mais sensato nunca mais voltar à caverna e deixar tudo como estava. A relação secreta das duas, afinal de contas, mostrara-se falha; não importava que Bianca se mantivesse em silêncio a respeito da existência das sereias, a curiosidade humana não poderia ser controlada e nem prevista.
Era uma sorte que tivesse sido Alex a encontrar Sephora, porque Bianca poderia se certificar de que ele não espalhasse o que tinha visto; mas a mulher sentia arrepios percorrendo todo o seu corpo só de considerar se tivesse sido outro humano qualquer a flagrar a sereia. E se tivesse uma máquina digital? Em questão de dias, a foto de Sephora poderia aparecer na primeira página de jornais no mundo inteiro e tudo estaria arruinado.
"Uma bela de uma insensatez", Bianca se reprimiu, em pensamentos, "Era evidente que uma amizade entre uma sereia e uma humana acabaria num desastre desses".
Ainda assim, ali estava ela. Sentada na câmara secreta. Sozinha. Esperando.
Era possível que Sephora nunca mais aparecesse, mas Bianca sabia que não conseguiria descansar verdadeiramente enquanto não se certificasse de que era o que a sereia queria. Por isso, havia resolvido que esperaria por ela na câmara secreta o dia inteiro, se fosse necessário, e, caso ela não aparecesse novamente, leria as entrelinhas e nunca mais a incomodaria.
Apenas imaginar aquela hipótese era insuportavelmente doloroso; Sephora sempre havia sido seu maior segredo e seu mais precioso tesouro. Mesmo quando se sentia infeliz e miserável, bastava pensar na sereia e na estranha e especial amizade que nutriam e tudo parecia melhor, mais tolerável.
"Eu sou uma humana e Sephora escolheu confiar sua vida a mim", ela pensou, sentindo os olhos voltando a marejar pelo o que deveria ser a milésima vez naquele dia, "Colocou o que tinha de mais precioso em segundo plano, porque se importava comigo e queria ser minha amiga. E, agora, por minha culpa, ela pode estar em apuros".
Uma lágrima solitária desceu pela sua bochecha e ela secou-a com uma das mãos, irritada. Com a situação. Com Alex. Consigo mesma. Com tudo.
Abraçou as pernas, apoiou a testa nos joelhos e fechou os olhos, tentando encontrar na escuridão um pouco de paz e tranquilidade; em algum momento durante o processo, o cansaço a venceu e Bianca mergulhou num sono instável e sem sonhos, o que era um alívio.
Em algum momento, ela despertou; abriu os olhos e ficou respirando fundo, sem saber muito bem o que a tinha despertado. Até ela ouvir de novo. Um "Bia", que parecia sussurrado.
Ergueu a cabeça e seus olhos espreitaram a câmara mal iluminada; por um instante desesperado, ela não conseguiu enxergar nada, a não ser a água do mar parada e escura, e chegou a considerar que seu cérebro estava pregando peças.
Então, ela viu. Um pouquinho acima do nível da água um topo de uma cabeça que poderia muito bem ter passado por uma pedra, mas se você olhasse bem e prestasse bastante atenção...
- SEPHORA! - ela berrou, colocando-se de pé e, sem se preocupar em encaixar os tradutores que estavam jogados no chão pedregoso ao lado dela, jogou-se dentro da água e bateu os braços e as pernas de forma desordenada e afobada, até que os enrolou em volta da sereia, mal conseguindo acreditar em seus olhos.
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Segredos Submersos
FantascienzaTodos possuem segredos. Alex vem secretamente seguindo os passos de seu avô, que desapareceu numa expedição que tinha por objetivo comprovar a existência das sereias, com a esperança de redimir sua memória. Para isso, começou a trabalhar na Pousada...