ALEX
Alex estava se sentindo inegavelmente otimista a respeito de sua situação atual; desde que Bianca pisara na Ilha dos Marujos, todos os indícios pelos quais passara os últimos anos de sua vida lutando para encontrar começaram a simplesmente se esparramar à sua frente.
Primeiro, foram os desenhos infantis tão parecidos com aqueles que encontrara no diário de bordo. Depois, a estranha criatura que provocara uma reação tão instantânea em Pimenta. Bianca sendo puxada para dentro da água e saindo de lá correndo para ir até uma ilha misteriosa e, depois, acusando-o de ter ido até a praia durante a noite, quando ele sabia que ela tinha ficado jantando com os avós durante todo o tempo em que explorara o local.
“Ela está em contato com uma sereia”, ele pensou, convencido de que aquela era a verdade, “Mais do que isso... ela consegue se comunicar com essa sereia... Mas como isso seria possível?”
A cada resposta que o homem conseguia, três novas perguntas pareciam surgir em seguida. E o fato de que ele não podia simplesmente sentar ao lado de Bianca e conseguir solucionar aquelas questões era simplesmente enlouquecedor.
Ela estava tão próxima, mas, ao mesmo tempo, tão distante.
Distraído, Alex terminou de colocar as grandes sacolas de lixo pretas dentro do barco de Toninho, o responsável por transportar os resíduos para o continente.
- E é só isso por hoje – Alex respondeu, depois de entregar a última para o homem.
- Perfeito – Toninho sorriu, os dentes largos e amarelos se destacando contra sua tez escura - Sua escuna está ficando bem bacana – gesticulou na direção do barco do homem - Gostei de ver.
- Obrigado – Alex agradeceu, com um meio sorriso – Tenho trabalhado bastante no Horácio.
- Está valendo a pena. Escuta, tudo bem eu deixar o menino para brincar um pouco na piscina, enquanto faço o trabalho? – o homem respondeu, enquanto empilhava os sacos no centro da embarcação, ao passo em que Pedro, o filho dele que estava observando a cena com os olhos brilhantes, analisava-o com expectativa.
- Sem problemas, Toninho – Alex sorriu, enquanto o pequeno Pedro soltava uma exclamação comemorativa e pulava do barco do pai para o píer velho, o que certamente não era prudente, mas crianças raramente o eram.
O pai acenou um adeus para o filho enquanto recolhia a âncora e Alex e Pedro ajudaram-no a desamarrar o barco do píer. Depois disso, ele manobrou e começou a se afastar, até que a embarcação se tornou apenas um pontinho no horizonte.
- E então, Pedro, como está a escola? – ele perguntou, enquanto os dois caminhavam na direção do interior da ilha.
- Muito legal! – o garoto respondeu, entusiasmado – Acho que vou conseguir entrar para o time de futebol da minha sala no interclasse, ano que vem. E valeu por me ajudar naquele trabalho sobre a fotossíntese! Tirei nota máxima!
Alex sorriu.
- É um prazer ajudar. Afinal, fiz quatro anos de faculdade para quê?
Os dois estavam caminhando, quando Marcos Velasquez surgiu por um dos caminhos e os interceptou.
- Alex, preciso de você – ele disse, num tom de voz autoritário que usava raramente.
- Ah, está certo. Pedro, se você continuar reto aqui...
- Não – Marcos o interrompeu, lançando um olhar na direção do garoto, que observou-o receoso – Pedro, você ajuda seu pai com o lixo, certo?
O menino encolheu os ombros, parecendo não entender o propósito da pergunta, mas concordou com um aceno de cabeça relutante.
- Isso quer dizer que tem braços fortes – ele decidiu, num tom de voz definitivo – Venham comigo.
Alex e Pedro seguiram Marcos até um depósito mais afastado, cujo acesso só era possível através de um matagal mais espesso. Tirando um molho de chaves do bolso da calça jeans, o mais velho tentou duas chaves diferentes até conseguir encontrar a que abria a porta para a casinha de madeira.
Quando a porta se abriu, ele esticou o braço para dentro da apertada construção e acendeu a luz com o interruptor. Alex e Pedro espiaram o interior do depósito pelas laterais do corpo de Marcos.
- Isso são...? – começou Alex, relutante.
- FOGOS DE ARTÍFICIO! – Pedro berrou, exultante, esgueirando-se para dentro do depósito e pegando uma das embalagens com as duas mãos, com um sorriso largo no rosto – SEU MARCOS, ISSO É MUITO MANEIRO! VAMOS ESTOURAR ALGUNS?
- Sim, mas não hoje! – Marcos respondeu, pegando a embalagem e devolvendo-a para a pilha – Isso é para o ano novo, mas Patricia descobriu meus planos secretos e está uma arara comigo. Disse que só vai deixar eu voltar para a nossa cama quando eu me livrar disso tudo – esbravejou, como uma criança contrariada.
- É por isso que estamos aqui? – perguntou Alex, também ousando dar alguns passos para dentro do depósito e vislumbrar a quantidade abusiva de fogos de artifícios estocadas lá dentro – Para jogar tudo isso fora?
- Mas é lógico que não! – Marcos retorquiu, como se o que o outro homem tinha acabado de sugerir fosse um absurdo – Vocês vão esconder esses fogos de artifício em outro lugar.
Pedro e Alex observaram o homem por alguns segundos, com os rostos desenhados numa expressão confusa.
- Não estou entendendo – Pedro disse, hesitante – Mas se a sua esposa disse que era para você jogar fora...
- Pedro, querido, ouça bem as palavras do seu tio Marcos – o mais velho o interrompeu, apoiando as mãos nos joelhos e abaixando-se até ficar na altura do garoto – Sabe qual é o segredo para um relacionamento de sucesso? Aquele em que a mulher acha que manda e o homem finge que obedece. Assim, os dois ficam felizes e ninguém precisa passar mais uma noite dormindo no sofá duro e desconfortável. Anote isso, vai ser útil no seu futuro.
Pedro ainda tinha a mesma expressão aturdida, mas concordou com um aceno de cabeça.
- Está certo – Alex pigarreou, sem conseguir esconder o seu sorriso – Onde o senhor quer que a gente coloque tudo isso?
- Não sei. Isso cabe a vocês decidirem – ele rebateu, o que fez com que Alex erguesse as sobrancelhas e o encarasse com uma expressão perplexa – Eu não posso saber. Se eu souber onde estão, ela vai saber que eu sei, e tudo isso terá sido por nada, não é?
- É só não contar para ela! – objetou Pedro.
- Ah, pequeno Pedro... quando há amor, não há lugar para segredos – o mais velho respondeu, num tom de voz dramático e exagerado – Então, é isso. Essa é a missão de vocês. Quando tudo estiver terminado, Pedro, me encontre que eu vou te dar um dinheiro para remunerar o trabalho. Como soam cinquenta reais?
- Cinquenta reais? – o garoto ecoou, maravilhado – Isso é, tipo... uma fortuna.
- Ótimo. Nesse valor está inclusa a sua mais completa discrição, ou seja, ninguém pode saber sobre isso. Estamos entendidos? - ansioso, o garoto concordou com diversos acenos de cabeça – E quanto a você, Alex, sinto muito, mas o seu salário inclui serviços super secretos como esse. Mas te pago uma cerveja mais tarde.
Alex deu um sorriso e também concordou com um aceno discreto de cabeça, mas, enquanto analisava as caixas de fogos, ele considerou que Marcos Velasquez já havia lhe retribuído com algo muito mais valioso do que dinheiro.
“Quando há amor”, ele repetiu, mentalmente, “Não há lugar para segredos”.
Continua...
N/A: Aqui está mais um capítulo!
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Segredos Submersos
Science FictionTodos possuem segredos. Alex vem secretamente seguindo os passos de seu avô, que desapareceu numa expedição que tinha por objetivo comprovar a existência das sereias, com a esperança de redimir sua memória. Para isso, começou a trabalhar na Pousada...