BIANCA
Bianca sentia como se seu estômago estivesse dando cambalhotas incessantemente; quase não conseguira dormir durante a noite, revirando-se na cama e imaginando o que aconteceria no seu encontro com Alex.
De manhã, mal conseguiu comer. Tomou um copo de suco e metade de uma torrada com manteiga e, porque estava incomodada com os sentimentos adolescentes que a perspectiva daquele encontro causava nela, tinha resolvido que seria melhor evitar qualquer contato com o homem até que fosse absolutamente inevitável.
Surpreendentemente, isso não havia sido difícil, considerando que o homem havia desaparecido por cerca de uma hora durante o período da manhã e só voltou a aparecer perto da hora do almoço, onde esbarrou com ela dentro da cozinha, enquanto Bia ajudava a avó a colocar a louça na máquina de lavar.
- Bom dia, dona Patricia! Bianca... – ele havia dito, num tom de voz casual e tranquilo; mas Bianca sentiu um arrepio subindo pela sua espinha, quando seus olhos encontraram os dele e, automaticamente, esfregou seu pingente de pérola com uma das mãos – O cheiro está delicioso. O que é? Costela de porco?
- Acertou – Patricia sorriu para o funcionário.
- Vocês precisam de ajuda? – ele ofereceu, enquanto pegava uma maçã da fruteira, limpava-a na própria blusa e dava uma mordida; tudo isso, sem tirar os olhos de Bianca por um minuto que fosse.
Era enlouquecedor!
- Não, obrigada! – Bianca pronunciou-se, antes que sua avó cometesse o equívoco de aceitar e arruinar com o plano dela de evitar qualquer contato com ele além do extremamente necessário – Nós damos conta do que tem para fazer, e... eu tenho certeza que tem milhares de outras coisas para você fazer... pela pousada... longe daqui.
Sentiu sua avó lhe lançando um olhar de estranheza, mas eram as duas íris azuis que estavam fixas nela que a incomodavam. Alex pareceu ser capaz de ler seu nervosismo, mas permaneceu inabalável.
- Está certo – ele disse, depois que terminou de mastigar o pedaço de maçã que tinha na boca – Vou fazer qualquer outra coisa, então. Nos vemos mais tarde.
E lançou um último olhar significativo para ela antes de deixar a cozinha. Foi só depois que ele saiu, que Bianca sentiu-se capaz de respirar de novo e seu cérebro voltou a funcionar de forma quase racional.
- Eu, hein – Patricia resmungou, fechando a máquina de lavar louça e dando o comando para que ela começasse a funcionar – Que bicho te mordeu?
- Bicho nenhum – Bianca respondeu, tentando esconder o nervosismo em sua voz – Nós duas damos conta do recado. Um par de mãos a mais só atrapalharia tudo.
Patricia Velasquez, a grande ditadora que era quando se referia à sua cozinha, não viu nada errado com a frase e, em questão de segundos, estava com o cérebro ocupado com detalhes como a proporção de água que precisaria usar para que o caldo do feijão ficasse no ponto certo.
Ao exemplo do que tinha acontecido no café-da-manhã, Bianca também não conseguiu encontrar apetite para comer mais do que um prato de salada.
Quando finalmente terminou de almoçar, ela simplesmente saiu marchando até o seu quarto, com o objetivo de pegar sua bolsa de praia e ir ao encontro de Sephora, mas uma folha de papel sulfite dobrada e colocada cuidadosamente em cima do seu travesseiro chamou a sua atenção.
Bianca desdobrou a folha apenas para encontrar uma mensagem simples escrita com tinta de caneta esferográfica azul.
"Encontre-me hoje, às 20h, no Píer Velho.
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Segredos Submersos
Science FictionTodos possuem segredos. Alex vem secretamente seguindo os passos de seu avô, que desapareceu numa expedição que tinha por objetivo comprovar a existência das sereias, com a esperança de redimir sua memória. Para isso, começou a trabalhar na Pousada...